A poucas horas de uma das mais importantes eleições da história, os dois candidatos que chegam ao segundo turno continuam devendo ao povo brasileiro os seus programas de governo. Os debates através da televisão, quando deveriam mostrar competência na capacidade de expor em pouco tempo o que vai ser possível fazer, estão sendo quase inteiramente uma extensão do baixo nível a que a campanha chegou, com acusações de ambos os lados, como se a escolha da pessoa que vai ocupar o mais alto cargo executivo do País estivesse reduzida a um apanhado da folha corrida, o que, efetivamente, não é o caso.
Rigorosamente, os dois candidatos deveriam ser expostos ao povo brasileiro como efetivamente são, detentores de formação intelectual e cultural respeitável, mas lamentavelmente ambos estão comprometendo esse detalhe biográfico quando se deixaram envolver pelo clima de denúncias e conspiração, que em nada enriquece o processo político, tão fortalecido com a volta à democracia e a capacidade de gerenciar seus grandes problemas. Além da exposição pública da história de formação de cada um, aí, sim, deveriam ter sido levantadas, desde o primeiro momento, as linhas para cada um desses grandes problemas ainda por resolver.
Se formos recorrer à perspectiva partidária, de um lado e de outro haverá quem proclame que as grandes propostas de governo foram e vêm sendo expostas através do programa eleitoral gratuito. Rigorosamente, contudo, fica difícil saber que propostas são essas, quando se viu produções cinematográficas, algumas muito bem trabalhadas, dos dois lados, com um enredo que tanto vale para um quanto para outro, instalando mais dúvidas que certezas, o que nos remete de volta ao ponto central: faltaram propostas. Nelas o eleitor e toda sociedade brasileira deveria encontrar o rigor do que cada um propõe, supondo-se que ambos estão tecnicamente capacitados para ocupar o posto.
Assim, o que faltou, e continua faltando, foi a exposição objetiva, clara, de cada problema brasileiro a ser resolvido nos próximos quatro anos. Dizer, simplesmente, que o tempo é muito curto para isso não é suficiente. Poderíamos ter, desde que foi aberta a temporada eleitoral, o esclarecimento exposto em resumo através de rádios e televisões, e de forma detalhada para cada um dos pontos centrais a serem tratados. Dizer, simplesmente, que a meta é cuidar de saúde, educação, saneamento, apoio à agricultura ou à indústria, qualquer um pode dizer. E até, com base no grande manancial de informações disponíveis, articular um cenário programático possível.
De um futuro, ou futura, presidente, porém, se espera bem mais. Não só a capacidade de dizer a quem se propõe, como fazê-lo dentro de um clima civilizado, como não estamos vendo. No lugar de uma antevisão do futuro que todos desejamos, a candidata do PT e o candidato do PSDB esgotam seus tempos de exposição pública no confronto de ninharias, de futricas, de insinuações, acirrando o confronto de dois momentos históricos inteiramente diferentes, como se fosse possível discutir o Brasil do século 21 com o Brasil da Velha República, dos períodos ditatoriais, da emergência recente em um ciclo democrático que deveria inspirar grandeza interior, capacidade de partilhar um chamamento à participação de todos na construção do País ideal.
É preciso lembrar que além de questões como aborto, Bolsa Família, se privatiza ou não privatiza, quem foi melhor antes e agora, e outras coisas menores, o candidato Serra e a candidata Dilma têm que se posicionar com objetividade sobre temas fundamentais como reforma fiscal, reforma política, reforma previdenciária, educação básica, investimentos em tecnologia, eliminação das imensas desigualdades inter-regionais e interpessoais. Do jeito como eles estão se expondo, os eleitores estão dando um cheque em branco a qualquer um dos dois que se eleja presidente, pois continuamos sem saber como de fato eles pensam o Brasil a partir de 1º de janeiro de 2011.
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