Advogado, é presidente da Caixa de Assistência dos Advogados de São Paulo (Caasp)
O cidadão Francisco Everardo Oliveira Silva postulou um cargo na Câmara Federal e foi eleito. Certo? Errado. O eleito foi sua persona pública, o palhaço Tiririca, como é conhecido. Tivesse usado seu verdadeiro nome, ganharia a avalanche de votos (1.353.820) que o carimba como o parlamentar mais votado no pleito de 3 outubro? Não. Eis mais uma contrafação de nossa democracia representativa.
Pérfido foi também o escudo propagandístico sob o qual se abrigou na campanha: o slogan histriônico "Vote em Tiririca, pior que tá num fica". Um escárnio. O palhaço queria dizer simplesmente isso: o picadeiro da política nacional pode piorar e muito.
É preocupante a votação avassaladora do humorista. Trata-se do esgarçamento pleno do nosso tecido político. Por trás dessa sinalização, o próprio Congresso Nacional - poder que simboliza o ideal republicano da vontade popular - deixa se ver como um palco de palhaçadas sem dissimulações, que pode ser devassado a qualquer hora pelos palhaços mambembes de ocasião.
Tenho de reconhecer que a profissão de artista é digna como qualquer outra e merece respeito. Não é porque um de seus praticantes ascende ao parlamento que a nossa frágil democracia corre risco. Não é ilegítimo que profissionais famosos, como os esportistas, por exemplo, postulem cargos em defesa dos interesses de suas categorias.
A eleição do palhaço Tiririca, porém, é emblemática por se tratar de pirueta, um salto triplo para trás, resultante de estratégia oportunista que, lamentavelmente, se torna cada vez mais corriqueira no cenário político. Engendra-se um expediente de esperteza no vácuo da despolitização da sociedade, o que gera retrocesso na construção do edifício democrático.
Como tantas celebridades de nossa época midiática, ganhou legenda por ser considerado eficiente chamariz para garantir o voto certo entre eleitores desiludidos da política, aqueles que se resignam com as "presepadas" de certos atores. Tais eleitores votaram para demonstrar a desilusão contra o que consideram o circo que Brasília lhes parece. Um circo coberto com a lona da impunidade.
O caricato personagem, agora deputado federal, é um inocente útil (?), que teve a habilidade de carrear abundantes votos para eleger mais três parlamentares. Se a intenção foi de protesto, votar no palhaço serviu apenas para os eleitores se enredarem num engodo eleitoral.
O sistema de distribuição proporcional de votos é polêmico por permitir que os votos excedentes de um candidato de determinado partido sejam convertidos para outros de sua legenda e/ou coligação, levando-os a alcançar as vagas que pleitearam sem que obtivessem votos necessários para tanto.
Outros folclóricos candidatos também o fizeram no passado e no presente e na imensa maioria das agremiações partidárias. No cerne da questão, há uma acentuada despolitização das eleições, fenômeno que se agrava a cada pleito. E pantomimas como a que acabamos de assistir adquirem caráter trágico quando se sabe que esses truques eleitorais só são possíveis porque nos falta educação, em especial, política.
Para estancar a deterioração, urge armar uma rede de proteção que permita a prática do fazer político na sua mais elevada acepção, que é a efetiva busca do bem comum. Quanto mais demorarmos na tarefa, tanto mais a política séria terá de se equilibrar em arame cada vez mais estreito. Brincadeira tem hora. E lugar. Principalmente agora, quando a luta para consolidar a democracia brasileira não tem tréguas.
O cidadão Francisco Everardo Oliveira Silva postulou um cargo na Câmara Federal e foi eleito. Certo? Errado. O eleito foi sua persona pública, o palhaço Tiririca, como é conhecido. Tivesse usado seu verdadeiro nome, ganharia a avalanche de votos (1.353.820) que o carimba como o parlamentar mais votado no pleito de 3 outubro? Não. Eis mais uma contrafação de nossa democracia representativa.
Pérfido foi também o escudo propagandístico sob o qual se abrigou na campanha: o slogan histriônico "Vote em Tiririca, pior que tá num fica". Um escárnio. O palhaço queria dizer simplesmente isso: o picadeiro da política nacional pode piorar e muito.
É preocupante a votação avassaladora do humorista. Trata-se do esgarçamento pleno do nosso tecido político. Por trás dessa sinalização, o próprio Congresso Nacional - poder que simboliza o ideal republicano da vontade popular - deixa se ver como um palco de palhaçadas sem dissimulações, que pode ser devassado a qualquer hora pelos palhaços mambembes de ocasião.
Tenho de reconhecer que a profissão de artista é digna como qualquer outra e merece respeito. Não é porque um de seus praticantes ascende ao parlamento que a nossa frágil democracia corre risco. Não é ilegítimo que profissionais famosos, como os esportistas, por exemplo, postulem cargos em defesa dos interesses de suas categorias.
A eleição do palhaço Tiririca, porém, é emblemática por se tratar de pirueta, um salto triplo para trás, resultante de estratégia oportunista que, lamentavelmente, se torna cada vez mais corriqueira no cenário político. Engendra-se um expediente de esperteza no vácuo da despolitização da sociedade, o que gera retrocesso na construção do edifício democrático.
Como tantas celebridades de nossa época midiática, ganhou legenda por ser considerado eficiente chamariz para garantir o voto certo entre eleitores desiludidos da política, aqueles que se resignam com as "presepadas" de certos atores. Tais eleitores votaram para demonstrar a desilusão contra o que consideram o circo que Brasília lhes parece. Um circo coberto com a lona da impunidade.
O caricato personagem, agora deputado federal, é um inocente útil (?), que teve a habilidade de carrear abundantes votos para eleger mais três parlamentares. Se a intenção foi de protesto, votar no palhaço serviu apenas para os eleitores se enredarem num engodo eleitoral.
O sistema de distribuição proporcional de votos é polêmico por permitir que os votos excedentes de um candidato de determinado partido sejam convertidos para outros de sua legenda e/ou coligação, levando-os a alcançar as vagas que pleitearam sem que obtivessem votos necessários para tanto.
Outros folclóricos candidatos também o fizeram no passado e no presente e na imensa maioria das agremiações partidárias. No cerne da questão, há uma acentuada despolitização das eleições, fenômeno que se agrava a cada pleito. E pantomimas como a que acabamos de assistir adquirem caráter trágico quando se sabe que esses truques eleitorais só são possíveis porque nos falta educação, em especial, política.
Para estancar a deterioração, urge armar uma rede de proteção que permita a prática do fazer político na sua mais elevada acepção, que é a efetiva busca do bem comum. Quanto mais demorarmos na tarefa, tanto mais a política séria terá de se equilibrar em arame cada vez mais estreito. Brincadeira tem hora. E lugar. Principalmente agora, quando a luta para consolidar a democracia brasileira não tem tréguas.
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