Lula deseja regressar ao poder, daqui a 4 anos, nos braços dos velhos oligarcas e do capital financeiro
A quatro dias da eleição, independentemente do resultado, o grande vencedor não foi candidato a nada. Ele conseguiu transformar uma desconhecida, sem voo político próprio, sem história no PT, em uma candidata competitiva. Os escândalos do primeiro governo, paradoxalmente, foram fundamentais para fortalecer seu poder sobre o partido. Livrou-se dos rivais. E o PT tem um só dono: Lula.
Foi gradualmente isolando os fundadores do partido. Antigos políticos do pré-64, egressos da luta armada e novas lideranças surgidas na resistência democrática, hoje giram em torno dele. Nada fazem sem a sua anuência. Aguardam que a "estrela de Belém" aponte o caminho. É o velho caudilhismo latinoamericano, messiânico e tosco.
Lula marcou sua vida sindical pela despolitização. Foi o que atraiu a atenção dos ideólogos do regime militar, como Golbery do Couto e Silva, que o recebeu várias vezes. Era uma espécie de muro de contenção contra os comunistas e o populismo representado por Brizola, os únicos adversários considerados pela ditadura.
O presidente sempre desprezou a discussão política, de princípios, de programas. Política foi, para ele, algo enfadonho, sem interesse, um debate sobre o nada. Quando obteve o domínio absoluto do PT, após a crise do mensalão, finalmente pode fazer o que sempre desejou, sem ter de prestar contas às instâncias partidárias. Além do que, tinha nas mãos o "Diário Oficial", que, no Brasil, funciona como um poderoso argumento.
Surfou no segundo mandato sem ter qualquer oposição. A confortável maioria no Congresso impediu CPIs e somente perdeu, no Senado, a votação da CPMF. De resto, fez o que bem quis. Deu rédea solta aos oligarcas, entregou fatias do governo e das empresas estatais para que saciassem a sua fome. E estabeleceu sólida aliança com o grande capital especulativo, a nova burguesia lulista, burguesia do capital alheio, dos fundos de pensão e do BNDES.
A aliança conservadora que passou a sustentar o governo é a garantia para o seu projeto continuista. Projeto pessoal. O partido pouco importa. Desde 2008, quando impôs a "mãe do PAC" como candidata, começou a planejar a sua campanha de 2014. Assim como Luís Bonaparte, "produz uma verdadeira anarquia em nome da ordem, ao mesmo tempo que despoja de seu halo toda a máquina do Estado, profana-a e torna-a ao mesmo tempo desprezível e ridícula". E se Getúlio voltou nos braços do povo, em 1950; Lula deseja regressar ao poder, daqui a quatro anos, nos braços dos velhos oligarcas e do capital financeiro.
Marco Antonio Villa é professor do Departamento de Ciências Sociais da UFSCar
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