segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Superbactéria

FOLHA DE S. PAULO

Há algum exagero na dimensão que o noticiário em torno da "superbactéria" está ganhando. Médicos intensivistas brasileiros convivem com variedades de Klebsiella resistentes a antibióticos já há vários anos.
Essa, aliás, não é a única ameaça nesse quesito. Também rondam nossas UTIs outros representantes de floras patogênicas super-resistentes, difíceis de diagnosticar e tratar.
O processo pelo qual micro-organismos desenvolvem resistência é complexo. Começa na comunidade, com o uso pouco criterioso dos antibióticos (inclusive quando receitados por médicos), passa pelos hospitais superlotados, onde descuidos na antissepsia se somam a fatalidades biológicas, e pode eventualmente voltar para a comunidade.
Ao tomar um antibiótico mal prescrito, o paciente acaba selecionando linhagens de bactérias com maior resistência natural à droga. Como as infecções típicas da comunidade não são muito graves -boa parte delas se cura mesmo sem remédios-, o fenômeno tende a passar relativamente despercebido.
Um dia, entretanto, esse paciente vai parar no hospital, onde deixa exemplares de sua flora mais resistente. Além das mutações, bactérias, mesmo não aparentadas, têm a capacidade de trocar entre si fragmentos de DNA (plasmídeos), inclusive os genes responsáveis pela resistência. É nesse ambiente que se formam as superbactérias.
Embora seja um processo lento e ainda pouco conhecido, essas linhagens super-resistentes podem voltar para a comunidade. Médicos generalistas brasileiros já têm de lidar com casos de tuberculose e gonorreia bem mais difíceis de tratar do que no passado. As doses de medicamentos usadas para debelar várias infecções comuns também tiveram de ser aumentadas ao longo do tempo.
O surgimento de resistência a antibióticos é um fenômeno previsto pela biologia, mais especificamente pela teoria da seleção natural. É algo que deve preocupar cientistas, médicos e autoridades sanitárias, mas é bastante improvável que as variedades atualmente em circulação assumam proporções epidêmicas da noite para o dia. Não há, portanto, razão para preocupações exageradas.

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