Alex Ribeiro | De Washington
Valor Econômico
Estudo divulgado ontem durante o encontro anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), no Canadá, divide as economias da América Latina em dois grandes grupos - o do Brasil, que cresce de forma mais acelerada, e o do México, que anda um pouco mais devagar.
A turma do Brasil, formada basicamente pelos países da América do Sul, deve avançar com uma velocidade média de 4,4% ao ano entre 2010 e 2011, é exportadora de commodities e se beneficia dos laços comerciais com o resto do mundo emergente. Já a turma do México, que avança com uma velocidade de 2,7%, inclui economias da América Central e do Caribe, quase só vende para países desenvolvidos e é bastante dependente de remessas de seus imigrantes.
A separação entre Brasil e México é uma novidade entre os organismos multilaterais em Washington, que costumavam ver os dois países dentro de um grupo homogêneo que seguia política macroeconômicas sólidas, como regime de metas de inflação, boas regras fiscais e sistema de câmbio flexível.
"As políticas macroeconômicas continuam importantes", afirma ao Valor o economista Alejandro Izquierdo, um dos coordenadores do estudo, ao lado de Ernesto Davi. "Mas o ambiente econômico internacional é também fundamental."
Hoje, com a crise econômica concentrada nas economias desenvolvidas, como Europa, EUA e Japão, saem ganhando os países que têm laços mais fortes com países em desenvolvimento, como China e Índia, que crescem mais rapidamente. "O grupo do Brasil está muito bem posicionado num mundo em que os mercados emergentes são o motor do crescimento mundial", afirma o estudo dos economistas do BID, cujo título é "Uma Região, Duas Velocidades?".
As exportações do Brasil para os demais países do grupo conhecido como Bric (que inclui também China, Rússia e Índia) cresceram de 9% para 17% de suas vendas totais entre 2006 e 2009, enquanto que os embarques para o mundo desenvolvido encolheram de 50% para 44%. Já as exportações do México para os Bric somavam apenas 3% em 2009, e para os desenvolvidos, 91%.
No estudo, os economistas não fazem muitas considerações sobre a situação individual de cada país. Mas, pelos dados apresentados, pertencer ao "grupo do Brasil" nem sempre é sinônimo de sucesso e nem sempre os países do "grupo do México" estão condenados a um crescimento mais fraco.
A Venezuela, por exemplo, embora seja uma exportadora líquida de commodities, deverá encolher em média 1% entre 2010 e 2011, segundo as projeções dos economistas. No "grupo do México" há dois exemplos bem-sucedidos. Um deles é o Panamá, com crescimento de 5,3%, em virtude sobretudo das obras de ampliação do canal. É possível argumentar que o sucesso econômico do Panamá se deve aos seus laços com países emergentes, já que o canal servirá sobretudo para atender ao comércio com a China e com outros países asiáticos. Mas o Panamá é um importador de commodities e sua economia sofre com a alta das cotações internacionais.
Outro exemplo de país bem-sucedido é a República Dominicana, com crescimento de 6,5%, favorecida sobretudo pela demanda gerada pelos esforços de reconstrução de seu vizinho Haiti, que foi atingido por um grave terremoto há pouco mais de um ano.
O forte crescimento do "grupo do Brasil" é uma boa notícia, mas os economistas do BID alertam para uma série de desafios pela frente, como lidar com os riscos de superaquecimento, a excessiva apreciação da taxa de câmbio e o surgimento de desequilíbrios financeiros ligados à forte expansão do crédito. As recomendações feitas pelo estudo são manejar a política fiscal de forma a não colocar uma carga excessiva na política monetária e, por tabela, na taxa de câmbio. Eles também defendem o uso da regulação financeira para evitar que o sistema assuma riscos excessivos. Para eles, a regulação prudencial é um instrumento mais eficaz para conter a apreciação cambial do que controles sobre o fluxo de capitais.
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