O ESTADO DE S. PAULO
Conhecida pela sua agressividade nas exportações, a China surpreendeu ao anunciar, em 2010, uma redução obrigatória de 40% nas suas vendas externas dos chamados metais de terras raras. A intenção de Pequim é atrair investidores para industrializar internamente minerais cuja oferta é escassa no mundo e que são essenciais para fabricar circuitos elétricos e eletrônicos, usados em smartphones, fibras óticas, supercondutores, baterias e para a produção de vidros, lentes especiais, ímãs, etc. Além disso, a China e outros países asiáticos vêm procurando comprar o máximo que conseguirem das jazidas existentes desses minérios, especialmente na África e nas Américas. Em março deste ano, o grupo nipo-coreano formado pela Nippon Steel, JFE e Posco adquiriu por cerca de US$ 1,8 bilhão uma participação de 15% na Cia. Brasileira de Metalurgia e Mineração, que explora nióbio em Araxá (MG). Enquanto isso, o Brasil praticamente ignora suas reservas de minerais estratégicos, tendo mapeado menos de 30% do subsolo nacional, como informa a reportagem do Estado (24/3). Mas, essa situação pode mudar por ação de empreendedores privados.
Segundo levantamento feito pela União Europeia (UE), há carência no mercado mundial de 14 matérias-primas consideradas "críticas", entre as quais estão o nióbio - de grande importância para a siderurgia e para o setor aeroespacial -, o tântalo, e terras raras. A China é o maior produtor de grande parte desses minerais, mas também figuram na lista de detentores de reservas estratégicas o Brasil, a Rússia, a República do Congo e, em menor grau, a Índia, o México, e Ruanda. O País se destaca pelas reservas de nióbio, com mais de 90% do total conhecido no mundo, e do tântalo, com 50% da oferta mundial, embora só exista uma mina em operação em Presidente Figueiredo (AM).
Quanto às terras raras, as reservas brasileiras equivalem a 1% das existentes, segundo o Departamento Nacional de Produção Mineral, mas podem ser muito maiores. O empresário Eike Batista, presidente do Grupo EBX, declarou, em conferência feita em Belo Horizonte no ano passado, que o País tem um potencial extraordinário de terras raras, os metais do futuro. "Pelo que sei, nós temos uma reserva maior que a da China", disse ele, mas sem entrar em detalhes.
O Brasil chegou a ser o maior fornecedor mundial de areias monazíticas, mas praticamente abandonou o mercado com a entrada da China como exportadora. Os chineses, primeiro, praticaram dumping, fazendo o preço internacional cair a ponto de inviabilizar a venda por outros países. Em seguida, limitaram as exportações, o que fez o preço subir 1.000%. Segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), o preço da tonelada, que era de US$ 5 mil, passou para US$ 50 mil. Em 2010, foram extraídas no País 134 mil toneladas de terras raras, movimentando um mercado de US$ 2 bilhões.
Como notam os especialistas, o Brasil deveria imitar a China, no tocante à sua riqueza mineral. Não, evidentemente, praticando dumping, mas utilizando as suas reservas para atrair investimentos, com vistas ao desenvolvimento industrial, agregando tecnologia e valor à matéria-prima. Mais que uma política, isso exigiria uma mudança de atitude, principalmente combatendo a propensão brasileira a não dar continuidade a projetos iniciados.
O urânio é um caso exemplar. O minério, do qual o País tem abundantes reservas, não está na lista de minerais raros, mas, é estratégico. O Brasil o tem explorado, primeiro em Caldas (MG) e agora em Caetité (BA). Mas, como noticiou o Correio Braziliense (22/3), o País precisou gastar US$ 25 milhões no ano passado com a importação de urânio para abastecimento das usinas de Angra 1 e 2. Isto porque a Indústrias Nucleares do Brasil (INB), subordinada ao Ministério de Ciência e Tecnologia, não conseguiu construir um novo reservatório, ou "pond", para armazenamento do chamado "licor de urânio", já que a capacidade dos tanques existentes está esgotada.
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