ESTADO DE MINAS
População sofre com bombardeios praticados pelos dois lados do conflito
Qual foi o principal argumento explicitado mundo afora para justificar a ofensiva das potências ocidentais na Líbia, iniciada há 11 dias, com a ordem dada pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, quando acabara de chegar ao Brasil, em viagem oficial de três dias? Em síntese, foi: “Libertar os líbios de um ditador que massacra o seu próprio povo”. Quem assistiu ao início dos confrontos pela TV, em tempo real, mercenários sendo pagos para reprimir com violência os opositores ao regime do ditador Muamar Kadafi, que governa o país há 42 anos, talvez tenha ficado a favor da intervenção externa. No entanto, depois dos primeiros dias do começo dos ataques da coalizão internacional (EUA, Reino Unido, França, Canadá e Itália), a população passou a sofrer, indiscriminadamente, bombardeios dos dois lados, com um aumento da violência contra quem deveria estar sendo protegido.
Não é a primeira vez, nem será a última, que as potências militares do Ocidente utilizam o discurso dos direitos humanos para promover a guerra, mascarando os verdadeiros interesses econômicos e políticos que estão por trás das ações bélicas: petróleo, venda de armamentos e dominância geopolítica. Para Jean Bricmont, professor e escritor belga, por trás do imbróglio está o “imperialismo humanitário”, estratégia adotada pela aliança militar ocidental no país norte-africano. A partir do estudo sobre a guerra de Kosovo, ele demonstra argumentos repetidos na guerra afegã, na invasão do Iraque e na divisão da Iugoslávia. Em qualquer caso, conduzem a um cenário em que o número de vítimas, em vez de diminuir, aumenta. Afinal, bombas caídas das alturas, lançadas por bombardeiros ultravelozes, não escolhem cabeças entre seus alvos. É bom que fique bem claro que qualquer crítica à ação intervencionista na Líbia não significa, em hipótese alguma, apoio ao coronel Kadafi. O que deve ser defendido pelo mundo civilizado é a defesa da soberania nacional e da autodeterminação do povo líbio na construção de uma verdadeira democracia. Determina o bom senso que, em vez de mandar avião para bombardear a Líbia, a Organização das Nações Unidas (ONU) deveria ter enviado um colegiado para negociar a paz.
A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) assume o comando das operações amanhã, por decisão tomada ontem em Londres com as 40 delegações dos países da coalizão internacional, ONU, União Africana e Liga Árabe. Não é à toa que o primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, cujo país também é membro da Otan, quer mediar as operações na Líbia para evitar “um segundo Iraque” ou um “novo Afeganistão”. Em declarações ao diário britânico The Guardian, ele advertiu que um conflito prolongado pode ter consequências desastrosas tanto para a Líbia como para os países da Otan. A ONU, que é mantida por quase 200 países, a maioria pregadora da paz, deveria primar pelo diálogo instaurado entre os oposicionistas e o governo de Kadafi, para que o processo de construção de uma democracia perene em solo líbio se inicie de fato. E logo.
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