sábado, 2 de abril de 2011

MUDANÇA DE BANDEIRA

ZERO HORA (RS)


Registros da Comissão Pastoral da Terra indicam que o número de acampamentos de sem-terra no país caiu de 285 em 2003 para 36 em 2009. A estimativa é de que atualmente esteja ainda mais reduzido – uma evidência notável do esvaziamento do MST, principal movimento de defesa da reforma agrária no país. Os próprios dirigentes da organização admitem a fragilização do movimento, atribuindo-a a duas causas principais: o sucesso do programa oficial de transferência de renda para famílias em situação de pobreza (Bolsa-Família) e a condição de pleno emprego atingida pelo país. Faz sentido. Por que as pessoas ficariam meses e anos sob uma barraca de lona, à espera de terras improváveis, se podem contar com recursos governamentais ou conquistar um lugar no mercado de trabalho?

O irônico deste processo de encolhimento do MST é que ele ocorreu exatamente durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que era considerado um aliado do movimento. Lula evitou reprimir irregularidades cometidas por manifestantes da organização, vestiu o boné da entidade e jamais deixou de receber suas lideranças, mas seu governo pisou no freio da distribuição de terras e promoveu pouquíssimas desapropriações. Em vez disso, proporcionou renda e trabalho aos militantes, que aos poucos foram abandonando os acampamentos e se engajando em empregos formais ou informais, principalmente na construção civil.

Também contribuíram para a desmobilização do MST dois outros fatores importantes: o repúdio inequívoco da sociedade às ações ilegais de setores do movimento e a consolidação do agronegócio como principal alternativa de produção de alimentos no país. O modelo de reforma agrária defendido historicamente pelo MST perdeu o sentido. E o discurso ideológico das lideranças mais radicais do movimento também perdeu a sua eficácia num público que já não via mais a luta de classes como única possibilidade de ascensão social.

Diante desta nova realidade, o MST está visivelmente trocando de bandeira. Volta-se, agora, para a questão ambiental, especialmente para o combate aos agrotóxicos. Trata-se de uma causa sedutora para parcela expressiva da população, que se preocupa com a preservação do meio ambiente e com o consumo de produtos orgânicos. Ainda assim, não será com radicalismos e com operações ilegais que a organização poderá reconquistar o apoio que teve na década de 90, quando até mesmo uma novela de grande popularidade – O Rei do Gado – glamorizou os militantes do movimento. Se as lideranças do MST entenderem o novo momento do país e trocarem o discurso anacrônico de rejeição à economia de mercado por metas factíveis e projetos sensatos de defesa do ambiente, pode ser até que a nova bandeira seja bem recebida pela população brasileira.
Registros da Comissão Pastoral da Terra indicam que o número de acampamentos de sem-terra no país caiu de 285 em 2003 para 36 em 2009. A estimativa é de que atualmente esteja ainda mais reduzido – uma evidência notável do esvaziamento do MST, principal movimento de defesa da reforma agrária no país. Os próprios dirigentes da organização admitem a fragilização do movimento, atribuindo-a a duas causas principais: o sucesso do programa oficial de transferência de renda para famílias em situação de pobreza (Bolsa-Família) e a condição de pleno emprego atingida pelo país. Faz sentido. Por que as pessoas ficariam meses e anos sob uma barraca de lona, à espera de terras improváveis, se podem contar com recursos governamentais ou conquistar um lugar no mercado de trabalho?

O irônico deste processo de encolhimento do MST é que ele ocorreu exatamente durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que era considerado um aliado do movimento. Lula evitou reprimir irregularidades cometidas por manifestantes da organização, vestiu o boné da entidade e jamais deixou de receber suas lideranças, mas seu governo pisou no freio da distribuição de terras e promoveu pouquíssimas desapropriações. Em vez disso, proporcionou renda e trabalho aos militantes, que aos poucos foram abandonando os acampamentos e se engajando em empregos formais ou informais, principalmente na construção civil.

Também contribuíram para a desmobilização do MST dois outros fatores importantes: o repúdio inequívoco da sociedade às ações ilegais de setores do movimento e a consolidação do agronegócio como principal alternativa de produção de alimentos no país. O modelo de reforma agrária defendido historicamente pelo MST perdeu o sentido. E o discurso ideológico das lideranças mais radicais do movimento também perdeu a sua eficácia num público que já não via mais a luta de classes como única possibilidade de ascensão social.

Diante desta nova realidade, o MST está visivelmente trocando de bandeira. Volta-se, agora, para a questão ambiental, especialmente para o combate aos agrotóxicos. Trata-se de uma causa sedutora para parcela expressiva da população, que se preocupa com a preservação do meio ambiente e com o consumo de produtos orgânicos. Ainda assim, não será com radicalismos e com operações ilegais que a organização poderá reconquistar o apoio que teve na década de 90, quando até mesmo uma novela de grande popularidade – O Rei do Gado – glamorizou os militantes do movimento. Se as lideranças do MST entenderem o novo momento do país e trocarem o discurso anacrônico de rejeição à economia de mercado por metas factíveis e projetos sensatos de defesa do ambiente, pode ser até que a nova bandeira seja bem recebida pela população brasileira.
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