sábado, 2 de abril de 2011

Brasil sob pressão para ajudar países mais pobres

Assis Moreira | De Genebra
Valor Econômico
 
O Brasil e outros emergentes estão sob pressão para aumentar em bilhões de dólares a ajuda para as nações mais pobres do planeta, e compensar o corte que países desenvolvidos estão fazendo nas suas doações aos mais vulneráveis.

Uma aliança exótica envolvendo os países ricos e os mais pobres busca arrancar dos emergentes compromissos firmes de ajuda já na quarta conferência das Nações Unidas sobre os países menos desenvolvidos, dentro de duas semanas em Istambul (Turquia).

No curto prazo, essa aliança quer que exportadores agrícolas, como o Brasil e Argentina, ajudar a manter o estoque alimentar de urgência para as nações mais pobres, seja com dinheiro ou produtos. No médio prazo, o objetivo é que os emergentes se juntem aos países ricos para "coordenarem as políticas de desenvolvimento", um modo de dizer que os dois lados devem dividir a conta da luta contra a pobreza, especialmente na África.

A necessidade de recursos é enorme. Só para investimentos em infraestrutura na África subsaariana faltam mais de US$ 43 bilhões por ano. Para aumentar a produção agrícola em 70% e poder atender a demanda, a estimativa é de US$ 83 bilhões de investimentos.

O ministro de Cooperação da França, Henri de Raincourt, disse em Genebra que ouviu nas reuniões do FMI e do Banco Mundial sinais perigosos de alguns países ricos se orientando para cortes da Ajuda Oficial ao Desenvolvimento (ODA, na sigla em inglês).

A Agência da ONU para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) confirma que, apesar de "sinais encorajadores" em 2010, a indicação agora é de "forte queda" da ajuda dos ricos para os pobres entre 2011-2013. Europeus e americanos alegam a necessidade de reduzir seu déficit orçamentário.

O compromisso dos ricos é de dar 0,7% do seu PIB para ajuda aos países pobres, mas esse percentual não passou de 0,5%, uma diferença de vários bilhões de dólares.

Na Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), espécie de clube dos ricos, o Japão defende a ideia de contabilizar a cooperação Sul-Sul como ajuda global ao desenvolvimento e assim compensar a redução da contribuição dos desenvolvidos.

Emergentes como o Brasil reagem dizendo que a cooperação Sul-Sul segue padrões diferentes da ajuda dada pelo Norte rico ao Sul pobre e não pode ser "válvula de escape" para o recuo na ajuda europeia e americana.

Em recente reunião em Nova York, o Departamento Econômico da ONU (Desa) insistiu que, para a conferência de Istambul, só faltava a "contribuição dos emergentes". Todos os lados concordam que os efeitos de menos ajuda aos 48 países mais pobres serão desastrosos.
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