VINÍCIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SÃO PAULO
O LEILÃO do trem-bala deve ficar para agosto. Não deve ser mais em abril. Nessa concorrência, seria definido o consórcio de empresas privadas que vai construir e operar essa linha de trem de alta velocidade (TAV) entre Campinas e Rio de Janeiro, passando por São Paulo e sabe-se lá por onde mais.
O governo deve decidir pelo novo adiamento da concorrência porque as empresas interessadas no TAV não param de "encaminhar pleitos" ao governo e consideram que tiveram pouco tempo para estudar a viabilidade do negócio.
O TAV está emperrado mesmo com o caminhão de subsídios oferecidos pelo governo, na forma de financiamento a juros barateados e redução de pagamento de juros caso não existam passageiros suficientes para pagar a conta.
O governo está para adiar a concorrência mais por precisão do que por boniteza. Corria outra vez o risco de ver uma disputa com apenas um consórcio (como no final do ano passado) ou mesmo nenhum, como parece ser o caso agora.
Além de todos os problemas econômicos e da incerteza a respeito da engenharia da obra, o TAV tem cada vez mais um quê de licitação dos caças da FAB, uma disputa temperada por pressões de governos.
Um grupo forte na disputa é o dos coreanos, cheio de estatais. Os alemães entram na copa do TAV com um grupo liderado pela Siemens; o governo alemão faz um lobby forte para azeitar os trilhos de sua múlti. O governo francês tenta dar um jeito de facilitar a entrada das empresas do país no negócio, como a Alstom, que quer fornecer equipamento mas não está disposta a financiar a obra.
São tantos e tão confusos e desconfiados os lobbies que fica difícil entender a crítica específica ao projeto do governo -não que seja difícil espezinhar esse projeto temerário.
Obviamente, o problema principal é dinheiro. Mas não se sabe bem se, ao fazer um "pleito A", tal ou qual grupo na verdade estaria querendo obter "B". Até dezembro, os coreanos não reclamavam do custo da obra. Agora, reclamam. Por quê?
Além da disputa com o governo, há conflito entre estrangeiros e brasileiros sobre quem vai colocar mais dinheiro no negócio.
Todo mundo duvida que o conjunto da empreitada vá custar R$ 33 bilhões. Empreiteiros nacionais têm dito por aí que a despesa pode ser estimada agora em R$ 53 bilhões. Porém, ainda que pareça muito provável que o valor oficial seja baixo demais, ainda não dá para acreditar em empreiteiras, com seu histórico de superestimação de valores.
Se há incerteza sobre o custo, as empresas interessadas obviamente vão querer "flexibilidade" nas tarifas. No edital, a tarifa máxima que pode ser oferecida no leilão é de R$ 0,49 por quilômetro. As empresas querem derrubar o teto. Outras querem que o contrato permita ajustes de tarifa caso o custo da obra estoure ou a ocupação do trem-bala seja baixa demais. Ainda há quem peça eletricidade barata e "facilidades" na importação de equipamentos.
O governo diz por ora, pelo menos da boca para fora, que não mexe mais no edital. Que já arrumou financiamento subsidiado. Que haverá um sócio estatal na operação e outras estatais e seus caixas agregados aos consórcios privados .
Economicamente, o projeto do TAV era suspeito. Agora, vai valer a pena, politicamente, para Dilma?
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