RODOLFO LANDIM
FOLHA DE SÃO PAULO
Vivemos hoje em um mundo onde a cada dia aumenta a consciência dos povos sobre o ambiente e onde são debatidas ações globais para a redução dos impactos causados pela presença humana no planeta.
Assim, inúmeros estudos têm sido elaborados sobre a poluição dos mananciais de água potável, a destruição de florestas e a redução da biodiversidade. Mas talvez a ameaça vista isoladamente com mais apreensão esteja ligada ao processo de aquecimento global, em que boa parte da responsabilidade é atribuída aos gases de efeito estufa.
O principal vilão é considerado o grande volume de CO2 (gás carbônico) que resulta do consumo de enormes quantidades de lenha e combustíveis fósseis (carvão, derivados de petróleo e gás natural) em processos industriais e na geração de energia em todo o mundo.
Ocorre que será necessário modificar drasticamente a matriz energética atual para que a humanidade continue a ter níveis de conforto crescentes, consumindo mais energia e ao mesmo tempo atendendo à redução dos níveis de emissão de CO2 conforme estabelecido no Protocolo de Kioto.
Parece que somos e ainda seremos dependentes da utilização de derivados de petróleo em meios de transporte por muitos anos.
No caso da geração de energia elétrica, a mudança também não é fácil. Já existe um enorme parque gerador baseado em combustíveis fósseis nos países que são grandes consumidores de energia, cuja lógica de implantação buscou não só os menores custos de geração, mas também as disponibilidades locais de combustíveis, conceito ligado à segurança estratégica da nação.
Assim, Estados Unidos e China, que possuem a primeira e a terceira maiores reservas de carvão, são muito dependentes desse combustível, que responde por quase metade da geração da energia elétrica no primeiro e cerca de dois terços no segundo.
A Rússia, que detém a segunda maior reserva do mundo, só não tem a maior parte de sua eletricidade baseada em carvão porque também possui as maiores reservas de gás natural do planeta, combustível no qual é mais centrado seu parque de geração.
Uma alternativa para solucionar o problema seria o uso mais intensivo de energias renováveis, dentre as quais estão as hidrelétricas, hoje responsáveis por 17% da energia elétrica consumida no mundo.
Mas seu potencial de expansão é limitado e são poucos os países como o Brasil, que têm a privilegiada posição de ter mais de 80% de sua geração de origem hídrica e ainda possuir um enorme potencial dessa natureza a desenvolver.
Fala-se muito de outras energias renováveis, dentre as quais são destacadas a eólica, a solar e os biocombustíveis. Infelizmente, elas não parecem ser soluções abrangentes. A primeira, apesar de seu alto custo de implantação vir sendo reduzido, tem um potencial de geração pouco significativo em relação ao consumo mundial.
O uso de energia solar só faz sentido para pequenos consumos em locais não atendidos por redes de transmissão, pois, além de cara, tem a desvantagem de consumir grande quantidade de energia na produção dos painéis fotovoltaicos.
Já os biocombustíveis têm um potencial importante, mas não podemos esquecer que, para produzi-los em grande escala, será necessária a ocupação de vastas áreas agricultáveis do planeta, o que impactaria ainda mais o preço das commodities agrícolas e o consumo de água.
A principal alternativa para a geração de energia elétrica em grande escala e sem a emissão de gases de efeito estufa, apesar de cara, é a nuclear. Essa importante fonte responde hoje por cerca de 13% da energia elétrica gerada no planeta.
No entanto, o recente acidente ocorrido em Fukushima, no Japão, colocou o mundo novamente em dúvida quanto à eficácia dos sistemas de segurança das usinas nucleares.
Cada vez mais a sociedade questiona se o risco das aterrorizantes consequências de um acidente nuclear não é um preço muito alto pelo uso dessa fonte de energia.
Não existe solução ampla sem grandes custos, riscos ou efeitos colaterais. O difícil é escolher o "menos ruim".
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