CORREIO BRAZILIENSE
O Brasil tem estado em evidência nos últimos anos por razões extremamente positivas: o crescimento expressivo da economia, a consolidação democrática, a implantação de projetos de combate à pobreza. Deveria permanecer na singular e privilegiada conjuntura por alguns anos, em função de acontecimentos globais que aqui acontecerão, como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. No entanto, nossa capacidade de administração está sob questionamentos porque, e isso é fato inconteste, temos enfrentado problemas na condução da preparação do primeiro evento, o maior — e não apenas de caráter esportivo — do planeta.
O maior crítico da postura brasileira tem sido o presidente da Federação Internacional de Futebol (Fifa), Joseph Blatter. É importante ressaltar que há, nem tão ocultas assim, motivações políticas na manifestação do suíço: o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e do Comitê Organizador da Copa 2014, Ricardo Teixeira, não o apoia à reeleição (prefere o catariano Mohamed Bin Hammam). Mas, analisando-se friamente, Blatter tem razão. Sediar evento de tal porte exige do nosso país renúncia ao amadorismo, à improvisação e à nossa cultura de deixar tudo para a última hora.
Há estádios cujas obras de restauração ou construção nem sequer começaram. A rede hoteleira carece de atenção especial. Os aeroportos, peça fundamental nessa engrenagem, continuam sobrecarregados. Alguns deles, incluindo os de 12 cidades-sede, nem projetos de reestruturação têm — e o compromisso é de reformá-los até 2012, a pouco mais de um ano da Copa das Confederações, torneio que antecede a Copa.
Das 24 obras planejadas, apenas quatro foram iniciadas — entre elas, um improvisado terminal em Viracopos, em Campinas, no interior de São Paulo. Assim, o cronograma põe sob sério risco os investimentos de mais de R$ 5 bilhões programados pelo governo até 2014. Eis outro grave sinal de alerta: menos de 3% dos recursos programados efetivamente saíram dos cofres estatais. A política de abertura do capital da Infraero, que agora está subordinada à recém-criada Secretaria de Aviação Civil, ainda está sendo gestada.
As autoridades de esferas distintas de poder (planejamento, execução, fiscalização) devem, antes de tudo, evitar a mais séria das ameaças: arranhar, desde já, a imagem crível de força emergente que tanto custo exigiu para nascer no Brasil.
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário