terça-feira, 5 de abril de 2011

A sustentabilidade da agricultura brasileira


Wagner Rossi
Valor Econômico

O Brasil se prepara para colher a maior safra da história e quebrar novo recorde na produção, se confirmadas as previsões. Serão 154 milhões de toneladas de grãos no ciclo 2010/2011. É um resultado expressivo e que confirma o salto dado pela agricultura brasileira nos últimos 50 anos. Não é à toa que o país é hoje um dos principais fornecedores no mercado internacional de alimentos.

Um feito e tanto, assegurado pela obstinada força dos produtores, os recursos do governo federal e a capacidade de inovação dos pesquisadores brasileiros. O país está entre os maiores produtores de proteína do planeta, exporta a mais de 200 países e garante todo abastecimento do mercado interno de produtos agropecuários, com exceção do trigo.

Isso é uma conquista de poucas décadas. Em 1960, quanto tinha população estimada em 70 milhões de habitantes, o país colheu 17,2 milhões de toneladas de grãos, numa área pouco superior a 22 milhões de hectares de terra. A produtividade era de 783 quilos por hectare.

No ano passado, essa relação já era de 3.173 quilos por hectare. Houve um incremento de 774% em 50 anos. A produção de grãos chegou, na última safra, a 150,8 milhões de hectares. Para atender à crescente demanda de alimentos - no Brasil e no mundo -, a agricultura precisa avançar mais, ampliando os investimentos em pesquisas e adotando as boas práticas agronômicas que garantem sustentabilidade aliada à alta produtividade.

Foi isso que permitiu ao país até agora manter-se competitivo. Não é possível retroceder aos padrões tecnológicos comuns nos anos 60, com baixos índices de utilização das técnicas modernas e dos insumos disponíveis. Naquela época, prevalecia a adubação orgânica de dejetos dos animais, com resíduos agrícolas e compostagem. Os defensivos eram naturais ou partiam de fórmulas agressivas em termos de toxicidade. As sementes eram crioulas e os grãos tinham baixa germinação, com defeitos mecânicos ou contaminados. Era normal a mistura de grãos provenientes de diversas origens.

Hoje, o Brasil está na vanguarda mundial da pesquisa agrícola. Neste século XXI, a tecnologia dominante adotada na produção de alimentos é adaptada pelos cientistas brasileiros. É por isso que o país está entre aqueles que detêm os mais altos índices de produtividade, com ganho médio anual acima de 5%. Os destaques são para as sementes adaptadas às adversidades climáticas, aquelas modificadas que garantem resistência ao uso de herbicidas. A adubação ocorre graças ao conhecimento químico que encontra fórmulas adaptadas a diferentes tipos de solos. O uso responsável de defensivos garante o combate a pragas e doenças.

Tecnologia mais a garantia de recursos do governo permitiram ao país obter sucessivos recordes

Se a tecnologia e as práticas dominantes hoje fossem aquelas adotadas nos anos 60, seria necessário ampliar em mais 145 milhões de hectares as terras para áreas de cultivo. O país necessitaria triplicar sua área destinada à produção de grãos. O mesmo ocorreria na pecuária. Seriam precisos mais 259 milhões de hectares de terra para pastagens, mantidas as condições de criação bovina e bubalina daquela época. Isso porque, em 50 anos, a área de pastagem no Brasil cresceu 39%, enquanto o rebanho aumentou 251%.

Em 1960, o Brasil dispunha de 122,3 milhões de hectares de terras para um rebanho aproximado de 58 milhões de cabeças. A produtividade era de 0,47 cabeça por hectare. Em 2010, a área de pastagem subiu para algo em torno de 170 milhões de hectares, mas o rebanho nacional é de 204 milhões de cabeças. Ou seja, nessas últimas cinco décadas, a produtividade da pecuária nacional dobrou. O resultado é positivo, mas a relação animal por hectare poderia ser ainda maior. O país precisa ampliar sua eficiência, com melhoria de pastagens, correção de solo, adubação, manejo e seleção de variedades de capim, além da própria genética animal. É isso que permitirá ao Brasil ampliar o rebanho sem destinar mais terras para pastagens.

É preciso compreender que é o domínio do conhecimento científico aplicado à realidade do campo, mais a garantia de recursos pelo governo federal para o financiamento da produção e a persistência do fazendeiro que permitiram à agricultura nacional obter sucessivos recordes. E destinar os excedentes para abastecer o resto do mundo.

Em 2010, as exportações do setor chegaram a US$ 76 bilhões, garantindo o superávit na balança comercial. Este ano, estima-se que a venda de produtos agropecuários brasileiros no mercado internacional chegue a US$ 85 bilhões.

O modelo atual da agricultura brasileira, portanto, é sustentável e dos mais competitivos do mundo. Além disso, o setor vem contribuindo crescentemente com a adoção de tecnologias de baixa emissão de carbono, inclusive com incentivos oficiais. O governo federal lançou o programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC), que vai permitir, nos próximos anos, ampliar a produção de alimentos de maneira sustentável.

Projeções do Ministério da Agricultura indicam que o Brasil terá, em 2021, uma produção de grãos superior a 195 milhões de toneladas, numa área pouco superior a 50,7 milhões de hectares. A produção de carnes deve superar 31,2 milhões de toneladas. Os dados demonstram que a história recente da nossa agricultura se traduz em benefícios ao país, com geração de empregos, maior contribuição ao desenvolvimento, mais alimentos e riqueza e compromisso com o meio ambiente, servindo como contra-fator das ameaças produzidas pelas mudanças climáticas.

Wagner Rossi é ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
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