BENJAMIN STEINBRUCH
FOLHA DE SP
Está aberta uma janela que pode levar o Brasil para o bloco dos países ricos em algumas décadas
Seja para elogiar, seja para criticar, é obrigação do setor produtivo manter vigilância sobre decisões governamentais que tenham impacto no ritmo de atividade. Na semana passada, o CMN decidiu manter até 2013 a meta de inflação de 4,5% para a economia brasileira.
Diriam os conservadores que seria possível perseguir uma meta mais ambiciosa, mais próxima das adotadas pelos países ricos, entre 2% e 3% ao ano. Não concordo com essa posição. Por mais importante que seja o baixo nível de inflação, não é hora para decisões heroicas, que poderiam impor sacrifícios desnecessários à sociedade.
Quando se fala em meta para 2013, parece algo muito distante, mas essa é uma percepção equivocada. A imposição de meta mais ambiciosa para daqui a dois anos teria impacto imediato na atividade econômica. Para atingi-la, o BC certamente iria promover aperto ainda maior na política monetária.
O combate à inflação já foi prioridade número um na economia e já tirou o sono do setor produtivo e dos cidadãos em geral durante longos anos, principalmente na tenebrosa década de 1980 e em parte da de 1990. Mas, hoje, ainda que as preocupações sejam constantes com o avanço dos preços, a prioridade precisa ser a manutenção de uma taxa razoável de crescimento da produção, até porque a inflação está em queda, com alguns índices mostrando deflação -o IGP-M de junho teve queda de 0,18%.
Nada é mais prudente neste momento, portanto, do que pensar em primeiro lugar no crescimento da produção e no estímulo ao consumo interno, tendo em conta as previsões de desaquecimento para a economia global.
Felizmente, a atual gestão da economia está livre de arroubos superconservadores na política monetária e fiscal. Exageros na ortodoxia têm impactos negativos na atividade produtiva, pela mensagem depressiva que passam aos empresários. Esse astral negativo se reflete nos investimentos, por criar incertezas a respeito da demanda interna futura. E todos começam a jogar na retranca, exceto os que buscam ganhos financeiros, ou seja, aqueles que, no popular, vivem de juros.
Pelos estragos que fez no passado recente, a inflação merece vigilância constante. Mas sem exageros. Mesmo com os maiores juros do mundo e com a taxa de câmbio supervalorizada, a economia vai bem.
O país tem prestígio internacional, é grau de investimento em todas as agências de classificação de risco, possui reservas em moeda suficientes para operar com tranquilidade as contas externas, apresenta grandes avanços na área social, vive um momento de pleno emprego, tem deficit público tolerável e, segundo o jornal "Le Monde", é a "nova fazenda do mundo", responsável por 33% da soja produzida, por 55% do açúcar, por 50% da carne de frango e por 30% da bovina.
Mudar o sinal da economia com recaídas ortodoxas seria desastroso. Por isso, a adoção da meta de inflação de 4,5% também para 2013 é perfeitamente aceitável, porque reduz a taxa de sacrifício -leia-se perda de empregos- que seria imposta no caso de meta mais ambiciosa. Essa premissa permite buscar um crescimento do PIB na faixa de 5% nos próximos dois anos.
Recomendo a leitura de um artigo no "Valor", do professor Marcio Holland, atual secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, no qual ele rechaça a adoção do receituário convencional de política econômica e preconiza pensar a realidade a partir de mudanças ocorridas na economia mundial.
Holland observa que a construção de uma agenda de crescimento, com responsabilidade fiscal, começou a transformar o Brasil. O crescimento, de fato, muda um país. Dá credibilidade externa, aumenta a oferta de bens para o consumo, fortalece as empresas do setor produtivo, estimula o desenvolvimento do mercado de crédito e, mais importante de tudo, oferece aos cidadãos a oportunidade de ter emprego e renda.
Mesmo com as ameaças de crise no exterior, está aberta uma janela que pode levar o Brasil para o bloco dos países ricos em algumas décadas. Fechá-la por excesso de conservadorismos seria uma irresponsabilidade.
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