Um excelente referencial sobre a realidade mais pujante de nossa educação.
Observa-se que os países onde o hábito da leitura é comum entre os cidadãos, as histórias pregressas enfrentando guerras e invernos rigorosos amadureceram as respectivas sociedades.
Na vida organizacional, pouca leitura interfere, e muito, na capacidade de visão estratégica e processo decisório.
Onde comprar estantes de livros?
CLÁUDIO DE MOURA CASTRO
REVISTA VEJA
Em 1970, voltando do meu doutoramento, comecei a montar casa no Rio de Janeiro. Logo notei que as lojas não ofereciam estantes de livros. Havia estames de tudo, menos de livros. Diante do orçamento apertado, descobri uma solução. Por serem feitas em série, escadas de subir em postes de luz são muito baratas. Com elas e mais tábuas - para colocar os livros - resolvi o problema. Quando fui morar em Brasília, em 1980, foi a mesma coisa, pois nas lojas só havia estantes profundas, para jarras ou processos administrativos. Para livros, nem pensar. Comprei sólidas tábuas de mogno e fiz minha linda estante. Recentemente, com mudanças de escritório, precisei novamente de estantes. Debalde, peregrinei por Tok & Stok, Ema, Walmart e Leroy Merlin. Eram as mesmas de antes, para bibelôs e jarros. Para livros, ou são horrendas e mal-acabadas (para bibliotecas públicas e feitas de chapa de metal) ou são os precários trilhos verticais, com mãos francesas de encaixe duvidoso. Acabei comprando gôndolas de quitanda, no mesmo gênero, mas um pouquinho mais robustas. Por desfastio, busquei também no site do Magazine Luiza, encontrando centenas de estantes mas nem uma só para livros (a maioria era para TV).
Como os donos dessas empresas não são tontos, é inevitável concluir que, se não oferecem boas estantes, é porque não há compradores. Ou seja, o brasileiro frequentador dessas lojas não possui o volume de livros que provocaria a demanda por elas. Os poucos que precisam de estantes mais avantajadas se entendem com seu marceneiro e pagam as comas, também mais avantajadas. Triste constatação, pois não? E como será no mundo mais rico? Apenas para ter gosto. Digitando a palavra bookcase, aparecem 725 itens. Há um número para cada cor, aparecendo também acessórios e modelos menos apropriados para livros. Por seguro, digamos que•existem mais de 300 modelos de estantes para livros. A comparação é escandalosa.
Falando de estantes de livros, em uma área rural da Islândia, uma casa de camponeses modestíssimos foi transformada em um museu sobre os hábitos e os estilos de vida locais. Mostra a casa como estaria por volta de 1920, austera e espartana, como tudo no país. Chamou atenção a biblioteca do dono. A estante, mais alta do que eu e com um bom metro e meio de largura, estava repleta de livros, com o desgaste que corresponde ao uso frequente. Quem já viu estante de livros nas aristocráticas fazendas brasileiras? Na realidade, os islandeses estão entre os leitores mais furiosos, comprando oito livros por pessoa/ano e os domicílios abrigando uma média de 338 livros. Na Austrália e na Nova Zelândia, acima da metade dos lares tem mais de 100 livros.
Como serão os hábitos de leitura dos brasileiros? Os resultados não são nada lisonjeiros. A média brasileira é de 1,8 livro lido por habitante/ ano. Isso se compara com 2,4 para nossos vizinhos colombianos, cinco para os americanos e sete para os franceses.
Diriam os cínicos, e daí? Um passatempo como outro qualquer. Infelizmente, não é assim. Uma pesquisa em 27 países mostrou que a biblioteca familiar se correlaciona mais com bons resultados na educação do que a própria escolaridade dos pais.
Uma biblioteca de 500 livros se associa a acréscimos de escolaridade que vão de três a sete anos. Segundo os autores, "uma casa onde os livros são valorizados fornece às crianças ferramentas que são diretamente úteis no aprendizado escolar...". E tem mais, leitores mais assíduos visitam mais museus, fotografam mais e, surpresa, praticam mais esportes.
A revista The Economist inventou uma brincadeira que era avaliar o realismo das taxas de câmbio pela diferença de preço dos hambúrgueres no McDonald"s, já que em todos os países ele é o mesmo sanduíche detestável. Surpresa! O "índice do hamburguer" revelou-se uma medida respeitável e tem vida longa. Quem sabe, além do Pisa, não poderíamos passar a medir educação e hábitos de leitura por uma simples pesquisa nos sites das lojas
de móveis? Bastam alguns minutos. Isso é fácil, difícil será mudar essa triste situação.
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Boa tarde, Jefferson!
ResponderExcluirLendo teu artigo, lembrei-me de um caso em minha cidade. O cidadão tinha dinheiro e mandou chamar um marceneiro. Destinou um cômodo da casa para fazer uma biblioteca. O marceneiro queria saber quais livros seriam colocados para poder fazer seu projeto. A resposta foi simples. Faça em toda a extenção do cômodo e os livros depois eu mando a livraria trazer e coloca-los.
Leitura mesmo, não era a intenção.
O povo brasileiro é uma negação para leitura.
ASSIM SOMOS!!!
abraços!
Noossa! adorei a ideia das escadas de postes. Na nossa andanca por varios paises, sempre temos que estar adaptando coisas para colocar os livros, ultimamente, a maioria estao em caixas porque de mudanca em mudanca fomos ficando sem moveis. Tivemos varias experiencias desde mandar fazer que nao resultou boa ideia pois o desenho nao suportou o peso dos livros e nao se podia desarmar para levar nas mudancas ate moveis de falsa madeira. Nessa ultima viagem para a Argentina, quase todos em caixas e como vamos embora em uns 6 meses, nao vamos desembala-los.
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