quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Crise na América Latina

Caros amigos, até agora devem ter percebido que faço questão de postar apenas assuntos que tenham densidade. Neste mister, nossa mídia não vem acompanhando de perto o que se desenrola em nosso entorno estratégico, notadamente nos países que seguem do noroeste ao sudoeste. A exceção do Peru e da Colômbia, todos os fronteiriços são signatários do FSP, instituição que já vem sendo, paulatinamente, descortinada pelo noticiário mais especializado.

Insisto que a falta de postura de estadista dificultará, sobremaneira, nosso desenvolvimento como bloco econômico e estável. Acredito, até, que toda esta movimentação nada mais é, no fundo, do que nos manter como esteio de investimentos chineses de longo prazo, pois aquela segunda economia mundial vem investindo, sistematicamente, em empresas de extração, tecnologia e de agricultura.  Acredito, até, que esta sistemática implicância com o imperialismo americano nada mais é do que tentar, em longo prazo, diminuir a área de influência americana na CEPAL, ou seja, quanto mais "independentes"  dos investimentos americanos na área , mais nos tornamos dos oriundos da China. Quanto mais nos afastamos da unidade e do desenvolvimento em bloco, mais dependentes de investimentos de capital chinês nós ficamos.

Vale a pena acompanhar tudo que é publicado sobre nossa vizinhança tão arisca. Nossa sociedade tem que começar a gostar de conversar este tema.
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Le Monde, Marie Delcas 




O Equador rompeu suas relações diplomáticas com a Colômbia em 2008. A Venezuela expulsou o embaixador colombiano de Caracas. A morte do líder guerrilheiro Raúl Reyes, assassinado pelo exército colombiano em território equatoriano, graças às informações fornecidas pelos americanos, causou uma crise diplomática sem precedentes. A maior parte dos observadores duvida que a crise possa descambar para um confronto militar. Segundo uma pesquisa, 61% dos colombianos acreditam que um conflito armado com a Venezuela seja possível.
Bogotá tentou acalmar a situação anunciando que não enviaria reforços para as fronteiras. “Nós temos a capacidade de mobilizar nossas tropas, mas não vemos nenhuma necessidade de fazê-lo”, declarou o ministro da Defesa, Juan Manuel Santos. As operações do exército colombiano, lembrou, são dirigidas contra a guerrilha, e não contra os países vizinhos.
No dia anterior, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, havia ordenado o desdobramento de dez batalhões e da força aérea até a fronteira com a Colômbia. Seu colega equatoriano, Rafael Correa, também decidiu reforçar os efetivos militares fronteriços. No meio tempo, as acusações vinham de todos os lados, e não eram do tipo a tranquilizar as tensões. Os documentos encontrados no laptop do número 2 das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc, extrema esquerda) confirmaram as ligações entre a guerrilha e os governos vizinhos. O diretor da polícia colombiana, o general Oscar Naranjo, indicou que as Farc teriam recebido US$ 300 milhões (R$ 525 milhões) do governo venezuelano, sem especificar a data nem as razões do pagamento.
“O computador de Raúl Reyes se tornou uma fábrica de mentiras”, respondeu o ministro venezuelano das Relações Exteriores, Nicolas Maduro. Algumas horas mais tarde, seu colega do ministério do Interior, Ramón Rodriguez Chacin, afirmava que o general Naranjo estava envolvido no tráfico de drogas, lembrando que o irmão do militar colombiano estava preso na Alemanha.
Entretanto, em Quito o ministro equatoriano da Segurança, Gustavo Larrea, confirmou ter encontrado pessoalmente Raúl Reyes, como Bogotá havia acusado na véspera. Mas Larrea desmentiu a existência de um acordo político com a guerrilha. O encontro teria ocorrido somente por “fins humanitários”. O presidente Correa acrescentou que esses contatos eram conhecidos de Bogotá (que desmentiu). Segundo ele, eles teriam permitido libertar doze reféns das mãos das Farc, entre os quais Ingrid Betancourt e os três cidadãos americanos, se o exército colombiano não houvesse interferido. “A mão dos belicistas autoritários estragou tudo”, segundo o presidente equatoriano.
As mensagens citadas pelo chefe da polícia colombiana, cuja autenticidade foi contestada por Quito, revelaram a existência de uma negociação a respeito de reféns sob o poder da guerrilha. Além disso, o general Naranjo afirmou que as Farc teriam comprado 50 quilos de urânio. Bogotá afirmou que denunciaria o apoio dado às Farc por seus vizinhos junto à ONU e à Organização dos Estados Americanos (OEA). A guerrilha está na lista das organizações terroristas dos Estados Unidos e da União Europeia.
A Colômbia parecia isolada no cenário internacional. Diversos governos latino-americanos – entre os quais o Brasil, o Chile e a Argentina – condenaram o ataque colombiano no Equador e exigiram que Bogotá se desculpasse. Quito, entretanto, recusou as desculpas do ministro colombiano das Relações Exteriores, Fernando Araújo. Somente Washington deu seu apoio ao presidente Álvaro Uribe, seu aliado. A Casa Branca pediu que a Colômbia e o Equador agissem com moderação e se “espantou” com a conduta de Chávez.
Em Caracas, a oposição venezuelana criticou a “irresponsabilidade guerreira” do presidente Chávez. O general Raúl Baduel, seu ex-ministro da Defesa, afirmou que o exército venezuelano não seguiria o chefe do Estado em uma aventura bélica. “Hugo Chávez poderá acabar como Marlbrough, indo para a guerra sozinho”, declarou. “Na condição de ministro da Defesa, posso afirmar a responsabilidade com a qual o exército colombiano garantia sua coordenação com a Venezuela”, disse. “A Venezuela não foi agredida, nem ameaçada. Não temos inimigos”. Segundo o general Baduel, que por muito tempo foi próximo do presidente venezuelano, Chávez está tentando desviar a atenção, uma vez que há uma série de dificuldades internas e que sua popularidade vem caindo.
Na Colômbia, pelo contrário, o momento é de uma união sagrada. “O presidente Hugo Chávez conseguiu um feito incrível: até a esquerda está apoiando o presidente Álvaro Uribe”, observa um diplomata europeu em Bogotá. Ao mesmo tempo em que critica a incursão do exército em território equatoriano, a oposição colombiana considera “desproporcional” a reação da Venezuela, e inadmissíveis os insultos proferidos por Chávez a respeito do presidente Uribe.
A maioria dos observadores acredita que o risco de uma derrapagem bélica continua limitado, especialmente em razão da interdependência comercial dos três países andinos envolvidos. O comércio entre a Colômbia e o Equador chega a US$ 2 bilhões. Entre a Colômbia e a Venezuela, a US$ 6 bilhões. A Colômbia é uma grande fornecedora de eletricidade para o Equador e de alimentos para a Venezuela, que há meses vem enfrentando uma grave escassez e dificilmente pode considerar ficar sem produtos colombianos. Entretanto, segundo a imprensa de Bogotá, a fila dos caminhões colombianos presos nos postos fronteiriços com a Venezuela já se estendia desde a noite de segunda-feira.
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