Terrorismo é um tema bem fora de nossa "zona de conforto" social, contudo, não significa dizer que não seja latente ou importante.
A Comunidade Européia, há cerca de cinco anos, vem voltando suas atenções para adaptações de elencos jurídicos e legislativos para melhor se adaptar a dois fenômenos importantes: o envelhecimento da população e o crescimento da comunidade islâmica naquele continente.
Como, via de regra, o impacto se dá nos postos de trabalho disponíveis, comumente associados à baixa remuneração ou baixa, também, capacidade de valor agregado à função, os imigrantes ou de alinhamento islâmico aceitam ocupar tais postos gerando fortes descontentamentos junto aos europeus ou naturalizados que ficam à margem da economia, notadamente gerando insatisfações e conflitos como os observados na Alemanha, Espanha e Itália, antecedentes ao atual vivenciado pela sociedade gaulesa.
Esses descontentes são uma farta mão-de-obra disponível para os vetores do terrorismo, daí o risco e a preocupação.
Alemanha, ilesa, permanece um centro de medo de terrorismo
Michael Slackman - The New York Times
Esta rica cidade portuária anuncia seus movimentados canais e pontes, assim como suas altas igrejas do século 19, para atrair visitantes de todo o mundo.
Mas ela está menos interessada em atrair mais atenção para a Mesquita Al Quds, onde rezava o sequestrador do 11 de Setembro, Mohamed Atta, e que se transformou em destino para o turismo jihadista. Neste verão, as autoridades locais fecharam a mesquita, que foi rebatizada de Mesquita Taiba.
Apesar de a Alemanha ter sido poupada dos ataques terroristas que atingiram os Estados Unidos, o Reino Unido e a Espanha, Hamburgo –e a Alemanha em geral– permanece um terreno fértil para radicais islâmicos, como reconhecem as autoridades de segurança. Uma onda recente de prisões e alertas de terrorismo na Europa e no Afeganistão ressaltou o risco de que um pequeno número de cidadãos alemães esteja sob influência de grupos terroristas determinados a realizar novos ataques, seja na Alemanha ou em outros lugares na Europa.
As autoridades de Hamburgo enfatizaram que a grande maioria de sua população muçulmana –que elas colocam em 130 mil– rejeita a violência. Mas um funcionário da inteligência de Hamburgo disse que 2 mil moradores abraçaram a ideologia radical e outros 45 aceitam a ideologia da Al Qaeda e da jihad global.
“É o que todos nós experimentamos na América, em outros países e também aqui, de que este fenômeno do terrorismo nascido domesticamente aumenta de forma rápida”, disse o funcionário da inteligência, que falou recentemente sob a condição de não ser identificado, devido ao sigilo de seu trabalho. “Este é um extremismo que nasce bem aqui. O recrutamento e a radicalização acontecem aqui, não em outros países.”
Eventos recentes colocaram cidadãos alemães no centro do temor global de terrorismo. Em julho, as forças americanas no Afeganistão detiveram um cidadão alemão, Ahmed Sidiqi, 36 anos, que supostamente teria laços com os homens que ajudaram a planejar os ataques do 11 de Setembro. Então, logo após Washington ter emitido um alerta de terrorismo com base na informação de Sidiqi, as autoridades paquistanesas disseram que vários cidadãos alemães foram mortos em um ataque com aeronave não-tripulada.
As forças armadas americanas também emitiram recentemente um alerta para um berlinense de 23 anos, suspeito de ter se juntado a um grupo chamado Taleban Mujahedeen Alemão. Em seguida as autoridades federais daqui emitiram um mandado de prisão para o homem identificado como Hayrettin Burhan Sauerland, em meio a preocupações de que ele poderia voltar da região de fronteira do Paquistão e Afeganistão para cá para promover um ataque, possivelmente contra militares americanos.
As autoridades alemãs disseram que os alertas não se somam a uma ameaça específica e que as intenções e capacidades dos presos permanecem incertas. Elas criticaram publicamente a decisão dos Estados Unidos de emitir um alerta para os cidadãos que pretendem viajar para a Europa, dizendo que esses anúncios atendem aos interesses dos terroristas e assustam as pessoas desnecessariamente.
“Ninguém deve duvidar que a Alemanha é um alvo para os terroristas, mas por outro lado não temos conhecimento de nenhum plano de ataque concreto, imediato”, disse o ministro do Interior, Thomas de Maiziere, para o rádio na Alemanha.
Mesmo assim, o funcionário da inteligência em Hamburgo disse que a Alemanha enfrentou o “risco intenso e abstrato” do terrorismo radical islâmico doméstico. Nesta semana, o Ministério do Interior também disse ter atribuído 200 investigadores adicionais para se concentrarem no terrorismo.
As autoridades alemãs disseram que centenas de seus cidadãos e moradores legais viajaram ao longo dos anos para a região de fronteira sem lei entre o Afeganistão e o Paquistão e que mais de 100 retornaram para a Alemanha. Há uma enxurrada de estatísticas por parte da inteligência e operações da polícia da Alemanha ilustrando a crescente preocupação com a partida de jovens radicalizados para campos de treinamento terroristas –e então voltando para casa para atacar.
O jornal “Der Tagesspiegel” relatou que as autoridades federais identificaram 131 indivíduos como possivelmente preparados para executar atos violentos. Os serviços de segurança federais disseram que, ao longo das últimas duas décadas, aproximadamente 215 cidadãos ou residentes legais da Alemanha receberam ou pretendiam receber treinamento paramilitar, que 65 completaram o treinamento e que do total, aproximadamente 105 estão na Alemanha, incluindo 15 na prisão.
Esses números precisos, entretanto, escondem o fato de que as autoridades alemãs estão tendo dificuldade para lidar com a suscetibilidade de sua grande população muçulmana, a maioria pacífica, ao atrativo dos radicais de lugares distantes.
“Estes são os chamados terroristas conhecidos, as pessoas suscetíveis”, disse Rolf Tophoven, diretor do Instituto para Pesquisa do Terrorismo e Políticas de Segurança em Essen, a respeito das estatísticas. “Mas as pessoas desconhecidas, elas não vão rezar nas mesquitas porque temem ser detectadas; elas não se reunem em instituições religiosas, talvez se reunam em uma residência particular. Esta é a grande preocupação.”
A Alemanha despertou para esta realidade em 2001, quando três homens que rezavam em uma mesquita em Hamburgo foram identificados como líderes na execução do plano terrorista do 11 de Setembro, incluindo Atta, que pilotou um dos aviões que colidiram contra o World Trade Center.
As lembranças desse caso ressurgiram quando os militares americanos prenderam Sidiqi, um cidadão alemão de descendência afegã que já trabalhou no aeroporto de Hamburgo. O funcionário da inteligência de Hamburgo disse que Sidiqi esteve sob vigilância por anos e que, como Atta, frequentava a Mesquita Al Quds em Hamburgo. O funcionário disse que Sidiqi também era amigo de Mounir el Motassadeq, que foi condenado em 2006 por seu papel na ajuda aos sequestradores do 11 de Setembro.
O funcionário de Hamburgo disse que Sidiqi foi um dos 11 moradores de Hamburgo que viajaram ao Paquistão em 2009, visando lutar em prol dos grupos radicais islâmicos no exterior, não em casa.
Em Hamburgo, a decisão de fechar a mesquita visava negar aos radicais um símbolo para mobilização das pessoas para a causa. Mas o funcionário da inteligência e especialistas alemães em terrorismo também reconheceram que o fechamento da mesquita, cujo nome foi mudado para Taiba, não elimina aqueles que já se radicalizaram, mas sim os fez se esconderem ainda mais.
“Há alguma inquietação na comunidade de inteligência alemã de que ignoraram uma comunidade de militantes islâmicos e de que não perceberam que estava aqui, dentro da Alemanha, um grupo já existente de terroristas, uma célula dormente de terror”, disse Tophoven, do Instituto para Pesquisa do Terrorismo e Políticas de Segurança. “Eles temem que ela possa existir.”
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