sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Da ignorância histórica à enganação eleitoral: o método lulista da vitória a qualquer preço

Da ignorância histórica à enganação eleitoral: o método lulista da vitória a qualquer preço

Bolívar Lamounier

Para o filósofo alemão Carl Schmidt, verdadeiro líder político  é aquele que sabe dividir o povo em dois campos mutuamente hostis. É o que sabe e não sente pudor algum em  jogar uma parte contra a outra, fomentando  a polarização  e cuidando de tirar dela todo o proveito possível.

Schmidt foi um dos principais ideólogos dos regimes totalitários da primeira metade do século 20. Em 1933, ele se inscreveu formalmente no Partido Nazista. Sua marca inconfundível foi o mencionado conceito de política como uma polarização entre  “amigos” e “inimigos”.  

A idéia de que quem não está comigo, está contra mim. Que eu me recorde, o Brasil só veio a conhecer esse fenômeno na era Lula. Anteontem eu recapitulei aqui a estratégia lulista de transformar a eleição presidencial num confronto plebiscitário, governo contra oposição, sem ninguém no meio para “atrapalhar”. 

Lula implementou essa estratégia com determinação, alguma  truculência e até certo requinte, por exemplo quando obrigou Ciro Gomes a passar recibo de pateta . 

Entre as regiões, Lula forçou outra vez a compactação do Nordeste contra o Sudeste e o Sul. 

Mas o intento de  polarizar a disputa entre dois campos  não se limitou ao  posicionamento dos partidos e das regiões. Estendeu-se  aos planos social e cultural -  ou do imaginário social, como se poderia também dizer.  

Como vinha fazendo desde sempre, Lula não mediu esforços para reforçar a identificação dos setores de menor renda como “povo” ou como “pobres”, em contraste com a “elite” e os “ricos”. 

E deixou para as últimas semanas da campanha a exibição de seu carro-chefe : ele e Dilma, grandes defensores do patrimônio público, contra a “sanha privatizante”  dos tucanos, imputando-lhes inclusive a intenção de privatizar a Petrobrás e o pré-sal.  

Antes que os petistas se agitem, faço aqui uma pausa para esclarecimentos. Eu não estou dizendo que  Lula é nazista. Não estou vendo Dilma, José Dirceu e tutti quanti  subindo uniformizados  a rua, cada um com sua cruz suástica .  

O que estou dizendo é que Lula e o PT, de modo geral -  em parte por desconhecimento do passado e em parte por má-fé eleitoral – têm sistematicamente recorrido a símbolos e táticas  que Carl Schmidt de bom grado aprovaria.

Contrapor o ”povo” e a “elite” , por exemplo. Povo e  elite numa vaga representação simbólica, como entidades imaginárias, insucetíveis de definição precisa. Vaga como convém a uma simples marcação de distâncias e ressentimentos, com objetivo apenas eleitoral.

Eu até prefiro esse imaginário aparentemente revolucionário àquele   servilismo típico do passado rural, mas a questão aqui é outra. O ponto a ressaltar é a grande mentira embutida nessa suposta “conscientização”. 

Marx, Lênin e talvez a maioria dos comunistas, eles sim, levavam a sério a dicotomia “burguesia”  X “proletariado”. Tinham uma fé inabalável na “luta de classes” como o motor da história.  

Nada a ver com o que está ocorrendo no Brasil. Salvo por uma meia-dúzia de true believers, nem os petistas de carteirinha, nem os políticos do partido, e muito menos Dilma e Lula, acreditam nisso. Aqui se trata de manipulação eleitoral – em larga escala, é verdade -, com o objetivo de manter as rédeas do poder nas mãos do PT e de aliados menos imaginativos, como o PMDB.   

A privatização, como já se notou, é umas das estrelas principais desse lastimável enredo. Lula e seus marqueteiros trabalharam com afinco até vê-la bem encaixada na engrenagem de sua propaganda eleitoral. Nós, os “amigos” defendemos o patrimônio público, a riqueza do Brasil para os brasileiros. Eles, os “inimigos”, querem vender tudo, até a Petrobrás e o pré-sal. 

Meu post de ontem versou sobre este mesmo tema, mas com foco na Vale do Rio Doce. Não me limitei a indagar, o que já deveria ser suficiente, por que uma privatização supostamente tão maléfica para o país não foi revertida. Oito anos não foram suficientes para Lula  cumprir o que afinal  deveria ser o seu dever ?

Mostrei como o PT cuidou de abortar no Congresso, em 2007,  um projeto de plebiscito para a eventual retomada e reincorporação da empresa ao Estado. 

Fui um pouco além. Citando abundantemente o relatório, mostrei a distância sideral que separa uma avaliação séria de riscos, como a que o deputado José Guimarães (PT-Ceará) fez em 2007, e a medonha  chantagem eleitoral que o lulismo vem impingindo pela TV ao distinto público.
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