O meio ambiente e toda a agenda relacionada ao desenvolvimento sustentado foram destaque nas eleições do primeiro turno, com os 20 milhões de votos obtidas por Marina Silva. No mundo, porém, o tema continua emperrado no calendário de negociações definido na COP-15, conferência de Copenhague, a 15ª da série sobre clima, em dezembro do ano passado, em que 192 nações reconheceram a importância da questão do aquecimento global e marcaram um novo encontro, para dezembro próximo, em Cancún, no México. Mas os prognósticos não são otimistas.
No meio do ano, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, em Nova York, confirmou as dificuldades de se avançar no México. Continua difícil conseguir um compromisso firme dos desenvolvidos na ajuda financeira aos emergentes e subdesenvolvidos, para que possam reciclar-se na direção de um sistema produtivo de baixa emissão de carbono. Realista, Ban Ki-moon sugeriu que, em vez de um acordo amplo e significativo - talvez ainda impossível de ser alcançado -, tente-se, em Cancún, dar pequenos passos, em campos delimitados. A conjuntura econômica mundial não ajuda. A dificuldade de a máquina produtiva americana reagir fortalece as resistências políticas internas à aprovação de normas que estabeleçam limites para emissões e levem os emissores a comprar créditos de carbono a fim de compensar aquilo que não consigam cortar ( "cap-and-trade"). A Câmara de Representantes aprovou lei neste sentido em 2009. Em julho passado, o Senado não conseguiu fazer o mesmo. A proximidade das eleições de meio de mandato (novembro) já havia enrijecido a oposição republicana. E até mesmo senadores democratas ajudaram a impedir qualquer acordo em torno da alternativa de uma lei com a fixação de limites escalonados. Pesou o fato de serem de estados produtores de energia de fonte fóssil.
Nenhum político quer contrariar eleitor na contagem regressiva das urnas, sendo que não foi difícil para os diversos lobbies que circulam em Washington relacionar corte de emissões com desemprego. É certo, portanto, que, no que se refere a metas, os americanos só podem oferecer em Cancún discursos. Também não se deve esperar qualquer generosidade financeira da Casa Branca, já sob crítica cerrada dos republicanos devido ao elevado déficit fiscal, acumulado pelos programas de salvação do sistema bancário e incentivos variados para estimular os negócios.
Depois da Rio-92, foi assinado em 97 o Tratado de Kyoto - do qual os Estados Unidos recuaram e jamais cumpriram -, a expirar em 2015. Copenhague teve uma importância histórica: houve concordância em evitar que a temperatura média suba, neste século, além de 2 graus centígrados acima dos registros da fase imediatamente anterior à Era Industrial. Os oito países mais industrializados admitiram, a grosso modo, cortar 50% das emissões até 2050. E o Brasil deixou a posição míope de, em nome da industrialização tardia, não fazer qualquer esforço de corte de emissões. Parte do caminho foi percorrida. Mas passos essenciais precisam ser dados. Nada indica que o serão em dezembro. Não se pode, porém, parar de negociar. As próximas gerações dependem desta persistência.
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