Financial Times
.Quando os brasileiros forem às urnas neste final de semana, será a primeira vez em 21 anos que Luiz Inácio Lula da Silva não estará entre os candidatos à presidência nos quais poderão votar.
Mesmo assim, a presença do atual chefe de Estado, que passou de engraxate para líder sindical para carismático presidente da oitava maior economia do mundo, dominou a campanha eleitoral.
Se Dilma Rousseff vencer, como é o esperado, a votação de domingo, a candidata do Partido dos Trabalhadores (PT, esquerda) de Lula deverá seu sucesso a seu patrono político. Tirada de uma relativa obscuridade pelo presidente, ela é uma tecnocrata pragmática, com pouco carisma, quase nenhum toque popular e praticamente sem uma base política que possa chamar de sua.
Isso fez com que muitos ficassem imaginando que papel Lula – impedido pela Constituição de concorrer a um terceiro mandato consecutivo – poderá ter em uma administração Rousseff.
“Lula é responsável por Dilma. Se ela fracassar, ele será responsável por seu fracasso”, disse Alberto Almeida, cientista político de São Paulo.
O presidente certamente quer proteger seu legado. Até há pouco tempo, ele afirmava que manteria distância quando deixasse o palácio presidencial e se concentraria em iniciativas que beneficiassem outros países da América Latina e do Caribe.
Mas nas últimas semanas ele mudou sua mensagem, dizendo que indicará a sua sucessora problemas que ele não foi capaz de resolver e sugerirá que ela se concentre neles.
Ele pode estar aprendendo com seu predecessor, Fernando Henrique Cardoso, que se aposentou da política partidária ativa quando deixou o cargo em 2003, abrindo espaço para novos líderes darem continuidade ao programa de reforma liberal de seu PSDB centrista.
Mas o partido deixou cair sua bandeira reformista e José Serra, seu candidato à eleição de domingo, não conseguiu apresentar um programa alternativo à poderosa mistura de Lula que combina uma política monetária ortodoxa a um generoso gasto social.
“Talvez eu devesse ter permanecido na liderança”, disse recentemente Cardoso ao “Financial Times”.
É improvável que Lula assuma um papel de copiloto da forma que Néstor Kirchner fez na Argentina. Mas ele pode ser ainda uma influência poderosa.
Uma das maneiras seria ajudando a formar o governo de Rousseff. Lula deve muito de seu sucesso a Antonio Palocci, que era ministro da Fazenda até que se envolveu em um escândalo de corrupção em 2006 e que continua sendo uma figura influente.
Ele é o assessor-chefe de economia de Rousseff e, a pedido de Lula, um claro candidato a um futuro cargo de peso.
Rousseff pode também querer recorrer às poderosas habilidades políticas de seu predecessor naquilo que será a difícil tarefa de equilibrar os interesses dos dois maiores partidos em sua coalizão: o próprio PT e o PMDB, um conglomerado de interesses regionais.
Parece certo que ambos os partidos sairão mais fortes da eleição, na qual os brasileiros também votarão para deputados federal e estadual, senadores e governadores de Estado. Uma coalizão governista mais forte tornaria mais fácil conduzir um plano de governo, mas também tornaria o trabalho de equilibrar forças rivais – muitas das quais contrárias à política econômica sob o governo Lula – igualmente difícil.
Mas o papel de Lula aqui pode ser limitado. Como disse um analista ao “Financial Times” recentemente, influência é uma coisa; poder é outra. “Dilma estará sentada na cadeira do presidente em Brasília. Lula estará sentado num sofá em São Bernardo do Campo [sua cidade natal no subúrbio de São Paulo]”.
Poderá ser difícil também para ela repetir o truque de Lula de escapar ilesa de escândalos de corrupção. Ela mantém sua liderança em pesquisas de opinião apesar de alegações recentes que derrubaram seu ex-braço direito, ainda que o caso tenha diminuído sua vantagem.
Esse episódio poderia ter uma influência persistente, no sentido de que poderá provocar mudanças no resultado de domingo e negar a Rousseff uma absoluta maioria de votos válidos. Isso forçaria um segundo turno em 31 de outubro.
“Se houver um segundo turno, ela terá de fazer mais promessas para mais pessoas”, disse Luciano Dias, um consultor político em Brasília.
Ele comentou que Lula teria feito mais progressos em reforma fiscal, se não tivesse tido de enfrentar dois turnos. “Um segundo turno torna as coisas muito mais confusas”.
Isso poderá fazer com que Rousseff tenha de encarar uma provação ainda mais difícil de suas habilidades políticas ainda não testadas.
Tradução: Lana Lim
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