O lugar que já foi da Colômbia no continente, como modelo de esfacelamento do estado de direito causado pelo avanço do tráfico de drogas, é ocupado hoje pelo México. Cáli e Medellín, cidades colombianas convertidas em sinônimo de violência sem limites, foram substituídas por Monterey, e nomes menos conhecidos de localidades do interior mexicano, como pontos cardeais de mais um drama latino-americano provocado pela aceleração de um processo de esmagamento das instituições causado pela atuação de bem organizadas quadrilhas.
Na Colômbia, o crime foi turbinado pela contribuição de uma guerrilha surgida de movimentos de esquerda radical, mas que, com o tempo, também entrou no ramo do narcotráfico.
Depois de constatar ser inviável o caminho da negociação, a sociedade colombiana apoiou o confronto e a repressão. E assim a guerrilha foi contida, virtualmente vencida, e o tráfico, controlado — sem danos à democracia.
Com isso, Cáli e Medellín deixaram de ser referências no mapa da violência.
Uma das peculiaridades negativas do drama mexicano é o país fazer fronteira com o maior mercado consumidor de drogas do mundo. Além de consumir as drogas remetidas via México, os Estados Unidos são fornecedores do armamento dos cartéis que barbarizam do outro lado do Rio Grande.
Colômbia e México são um alerta ao Brasil sobre a que ponto pode chegar a desagregação do Estado, se a criminalidade não for contida. Um aspecto positivo na realidade brasileira, como demonstra a campanha eleitoral, é que, de uma vez por todas, a segurança pública parece ter entrado na pauta de Brasília.
Não era assim. No passado mais distante, cabia aos estados tratar da segurança nas ruas, e ao governo federal, das fronteiras, impedir o tráfico de drogas e armas —, um negócio, na verdade, unificado.
A degradação da segurança nos grandes centros urbanos forçou o governo federal a tratar do problema junto com estados e municípios. No primeiro governo Lula, surgiu o projeto de trabalho integrado na Federação.
Não saiu do papel, por resistências políticas no Planalto. No segundo mandato, porém, ações concretas começaram a ser executadas.
Mas ainda falta muito. Há experiências bem-sucedidas no Rio de Janeiro e São Paulo, onde caem índices como o de homicídios.
Existem, portanto, modelos sendo aplicados — inclusive inspirados em experiências bem-sucedidas na Colômbia — que podem e devem ser replicados país afora. Um passo ainda a ser dado, e de forma decidida, é o da limpeza das polícias, com o esfacelamento de braços da instituição que, vencido o tráfico, passam a controlar comunidades pobres e a explorá-las, com violência igual à dos traficantes.
Com um aspecto aterrorizante: por também serem agentes públicos, estes criminosos praticamente garantem sua impunidade.
Tornam-se, em certa medida, mais perigosos que o tráfico, pois estão infiltrados no aparelho de segurança do Estado. Assumem, também, uma face de benfeitores de comunidades; conseguem, pelo voto, entrar em Casas legislativas, se beneficiar de imunidades e tecer alianças com políticos populistas e inescrupulosos.
Personificam o “Sistema”, como denunciado no filme “Tropa de Elite 2”. A desmontagem desta nova e letal forma de crime organizado precisa estar na agenda de governantes atuais e futuros.
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