O país que emergirá da disputa eleitoral será muito próspero – ou decepcionante. Pelo que os dois candidatos envolvidos na corrida presidencial estão prometendo, não teremos mais sem-teto (com milhões de casas populares), o salário mínimo será satisfatório (R$ 600), não haverá mais crianças sem pré-escola (6 mil creches), teremos metrô em todas as grandes cidades (400 quilômetros de novas linhas), a Transamazônica estará toda asfaltada e não faltarão escolas técnicas para a formação profissional de jovens e adolescentes. Só não se sabe de onde sairá dinheiro para tudo isso. As promessas mencionadas acima estão no repertório dos dois candidatos presidenciais, que obviamente estão cometendo exageros na tentativa de conquistar votos.
Durante os 40 anos em que os judeus, guiados por Moisés, perambulavam no deserto, depois de terem fugido do Egito, sonhavam com uma terra da qual “jorravam leite e mel” e que seria “a glória de todas as nações”. Tratava-se de um sonho de felicidade e bem-estar incapaz de ser atendido, mas que embalava as esperanças e minorava as agruras do dia a dia. Felizmente para o Brasil, o deserto de nossas necessidades não é hoje tão agreste nem tão penoso, o que torna desnecessário aos candidatos fazer promessas utópicas, irrealizáveis ou de custos insustentáveis.
Nosso país tem necessidades objetivas, tem recursos abundantes mas não ilimitados e tem perspectivas de crescimento nos próximos anos e décadas sem, no entanto, facultar aos cidadãos e aos governantes sonhos mirabolantes. O sistema eleitoral, especialmente neste segundo turno presidencial, permitiu, mais uma vez, a emergência de promessas generalizadas, sem que para sustentá-las nem os candidatos, nem os partidos e obviamente nem o poder público tenham fontes definidas ou mesmo prováveis. Como extinguir em quatro anos a pobreza absoluta, essa mazela social que ainda atinge mais de 20 milhões de brasileiros e que foi construída por uma história de cinco séculos? É evidente que o combate à pobreza será sempre uma prioridade, qualquer que seja o governo. É evidente que dotar as metrópoles de transportes rápidos, especialmente de metrôs, é a pretensão de qualquer administrador federal ou estadual. É evidente que um trem rápido entre Rio e São Paulo melhoraria a vida de centenas de milhares de pessoas. A questão, mais do que a necessidade, é a viabilidade de tais empreendimentos, a começar pela carência de recursos. A venda de sonhos, em promessas irrealizáveis, configura evidentemente uma imaturidade de nosso processo eleitoral e uma tentativa demagógica de captar votos de pessoas menos avisadas.
Aos candidatos, caberia, mais do que competir nessa escalada de promessas, discutir até onde os gastos públicos podem ser expandidos, quais são os gargalos da infraestrutura que precisam ser enfrentados, quais as reformas que precisam ser implementadas para pavimentar a estrada do desenvolvimento e onde os recursos precisam ser alocados para que sejam impulsionadores da educação e da saúde. O Brasil dispensa promessas de uma terra de leite e mel, especialmente quando elas implicam gastos claramente insuportáveis. Não precisamos de sonhos, mas de projetos factíveis.
A venda de sonhos, com promessas irrealizáveis, configura evidentemente uma imaturidade de nosso processo eleitoral e uma tentativa demagógica de captar votos de pessoas menos avisadas.
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