segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Veteranos do Iraque têm dificuldade para se ajustar à vida cotidiana

Veteranos do Iraque têm dificuldade para se ajustar à vida cotidiana

Liz Balmaseda
Em West Palm Beach, Flórida (EUA)

O retorno da guerra foi virtualmente tranquilo para Jada Gardner, uma sargento da Guarda Nacional da Flórida, que voltou de seu segundo período de serviço militar há quase oito semanas.

A soldado de 30 anos de Lake Worth voltou para casa, após 10 meses no Iraque, para o pudim de banana e macarrão com queijo de sua mãe. Ela também retornou ao seu velho emprego, ensinando alunos da terceira série na escola Wynnebrook Elementary, em West Palm Beach.

“Meu diretor é ótimo. As crianças são ótimas. Eu me sinto muito afortunada”, disse Gardner recentemente, enquanto ela via as mesas de exposição no West Palm Beach Marriott, onde companheiros da 1218ª Companhia de Transporte da Guarda se reuniram para um evento patrocinado pela Guarda Nacional, visando ajudar a reintegrá-los em suas vidas diárias.

De fato, ela é uma das felizardas. Para muitos veteranos de guerra que estão retornando do Iraque, não há empregos aguardando ou um lar fixo. Isso é especialmente verdadeiro para os membros da Guarda Nacional, muitos deles na são militares em tempo integral e tiveram que abandonar empregos e a estrutura cotidiana de suas vidas quando foram convocados para o serviço ativo, como notou a capitã Lisa Browne Banic, uma oficial de assuntos públicos da Guarda Nacional da Flórida.

Com a grande reestruturação do conflito no Iraque ocorrida com a retirada das brigadas de combate americanas oficiais, deixando apenas as forças agora rotuladas de “consultoria e assistência”, o foco dos efeitos da guerra agora passou à crescente população de jovens veteranos.

Durante seus meses ausentes, o mundo mudou. Aluguéis expiraram. Oportunidades de emprego surgiram e passaram. Os papéis familiares foram trocados. Cônjuges se viram lidando com novas responsabilidades – e, despreparados, às vezes fracassaram, como disse Katherine Betancourt, que dirige o programa de apoio ao Iraque no Centro Médico da Administração dos Veteranos, em Riviera Beach.

“Eles tiveram que trocar de posições. Muitos cônjuges assumiram o pagamento das contas diárias. Às vezes elas atrasaram. Eles nos procuram em busca de ajuda”, disse Betancourt, que recebia os veteranos na mesa da Administração dos Veteranos. “Eu perguntei a um soldado que retornou como ele estava se saindo, e ele disse: ‘Eu estou desempregado e tenho quatro filhos’. Você volta e tudo está diferente.”

O sargento Miguel De La Paz, 45 anos, voltou para casa em licença em março e encontrou sua esposa prestes a dar à luz. Stephanie De La Paz deu à luz à primeira filha deles, uma menina chamada Raquel Sofia.

Durante toda sua gravidez, Stephanie, 28 anos, rezou pelo retorno dele. Ela conhecia pessoalmente os riscos da guerra. Ela não apenas também é membro da 1218ª Companhia de Transporte da Guarda, como também é ex-membro da 82ª Aerotransportada, já tendo realizado 36 saltos de pára-quedas.

Enquanto isso, em Al Asad, Iraque, seu marido transportava alimentos, armas e outros suprimentos a bordo de caminhões militares, sendo lembrado diariamente dos riscos desse conflito que já dura sete anos.

“Comboios à nossa frente eram atingidos e comboios atrás de nós eram atingidos”, lembrou De La Paz. “Mas acho que Deus nos protegeu e estamos seguros. Eu sei que somos abençoados.”

Um estudante de teologia que comanda um ministério com sua esposa em Davie, De La Paz diz que as pressões emocionais da guerra o aproximaram de alguns poucos membros da Guarda no Iraque.

“O laço que criamos foi incrível. Seis ou sete de nós nos reuníamos semanalmente para orar e ajudar uns aos outros em meio às dificuldades, e pela graça de Deus um ministério de homens foi formado”, disse De La Paz, que voltou da guerra com uma nova aspiração: servir como capelão para a Guarda. É uma meta pela qual ele disse que trabalhará enquanto continua a pregar para os veteranos.

Fora do reino religioso, todo tipo de apoio está ao alcance para qualquer veterano que peça. Essa é a mensagem que um psicólogo no evento de reintegração da Guarda apresentou:

“O público precisa saber disto. Há ajuda disponível. Se há uma mensagem neste evento é a de que existe ajuda. Há 300 centros de veteranos por todo o país. Há ajuda”, disse Marshall Goby, psicólogo e coronel reformado do Exército que aconselha os veteranos em Lake Worth em várias questões, da dependência de substâncias e conflitos de relacionamento até estresse pós-traumático.

São as dificuldades intangíveis enfrentadas pelos veteranos que retornam que frequentemente provam ser as mais difíceis, disse Betancourt, da Administração dos Veteranos. Empregos e moradia costumam ser questões menores em comparação às consequências a longo prazo do estresse pós-traumático. Ela sabe disso porque já o vivenciou. Seu marido, um tenente-coronel reformado do Exército cuja carreira militar durou 33 anos, voltou emocionalmente abalado do Afeganistão.

“Ele era um homem mudado, quieto, sério, diferente dele mesmo”, disse Betancourt. Muitos desses soldados agora estão na faixa dos 20 anos. Nós estamos olhando para o que podem vir a ser questões médicas de toda uma vida.”

Tradução: George El Khouri Andolfato

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