sábado, 2 de abril de 2011

A insustentável leveza da cidadania

Sou, tipo assim, saudosista. Adoro rever meus ícones e locais de infância e juventude. Ajuda-me a manter-me no meu exato lugar.

O centro de Nova Iguaçu para  mim ainda é um lugar mágico apesar de tumultuado. Camelôs, discretos contraventores, produtos piratas em profusão. Tudo já no sub e no consciente coletivo.  Escapando na calçada de um carro, "Propriedade de Jesus" - segundo o adesivo, que não quis esperar o carro da frente parado no sinal vermelho, segui eu em busca de lugares seguros, quem sabe em cima de marquizes...
Impressionante como nossa sociedade convive bem com o dolo.

Nas minha caminhada busco o velho cinema que já não existe e deu lugar a um templo universal para, enfim, ceder sua vez para um casas bahia, ou casevídeo...o que seja. Por detrás, em um shopping de beco para para minha saudosa dupla de caldo de cana e pastel que queijo. Não que sinta desejos incontroláveis, apenas para buscar em dois sentidos, paladar e olfato,  a breve passagem para tempos idos e saudosos.

Degustando minha preciosa iguaria e olhando o movimento na rua, no shopping ao ar livre...nome cult e apropriado, sou interpelado por uma jovem, não tão jovem, vá lá, mandando... “Moço, intera um café prá mim?!?!?”. Ato contínuo e automático dou todo o meu troco para ela. Então percebi que ela era uma gari com uniforme da Prefeitura de NI.

Com calma, após meu lanche vou conversar com ela. “Oi, tudo bem?”. “Sim”, disse ela. “Vc trabalha na Prefeitura?”. Com espanto e olhando para o uniforme “Claro”. “Ah!!”, retruquei. “Vc votou no Lindberg para senador? “. “Claro”  respondeu ela. “Foi um excelente prefeito!!”
“Se ele foi excelente porque ele deixou vc na situação de me pedir dinheiro para tomar café?”
“Ah, moço, a vida está difícil!!” “Tô defendendo o meu!!”...

Após deixa-la observei em minha caminhada que outros garis tinham a mesma prática.
Lembrei que quando o governo FHC estava no fim, durante a campanha eleitoral, os garis do Recife eram descarados pedindo dinheiro aos transeuntes nas praias e no centro da cidade. Imaginava, porém, que fazia parte de um movimento para desqualificar o prefeito opositor e qualquer coisa que lembrasse FHC como de sofrível gestão para a chegada salvadora de Lula, que apesar de seus altíssimos índices de aprovação, passou oito anos no poder e a Saúde, Saneamento e Educação, sem cansá-los nos outros essenciais segmentos, estão em estado precário o que nos impedirá, ao longo de muitos anos, de alcançar o pleno desenvolvimento econômico.

Enfim, meus lúdicos momentos de recordação foram estragados pela atitude de uma cidadã que, não obstante ao um emprego formal, não perdeu o hábito de se pendurar na generosidade alheia.

O desenvolvimento, pelo que tenho presenciado, está sendo emperrado. Talvez não seja exatamente problemas de infra-estrutura. Quem sabe o atraso está, inexoravelmente, na cabeça do brasileiro.
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