A articulação de Barack Obama para recrutar seus principais assessores demonstra as armadilhas na hora de formar uma equipe bem-sucedida
Joe Raedle/AFP Eric Schmidt, presidente do Google: uma das estrelas convidadas a compor a equipe de assessores de Obama
Por Jack Welch com Suzy Welch
Exame.com.br
O presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, será em breve o líder do governo mais poderoso do mundo. Neste exato momento, porém, ele está diante do mesmo desafio de qualquer novo chefe em qualquer parte do universo. Seu maior trabalho - de implicações gigantescas - consiste em formar a equipe certa.
E tal como qualquer chefe novo Obama logo descobrirá que é possível errar muito, e com uma facilidade enorme. Aliados antigos pedem atenção a seus problemas. Forças poderosas bloqueiam certos candidatos. O tempo pressiona sem piedade. Até que um dia, de repente, você percebe que seu círculo de pessoas mais próximas não tem as qualidades daquela equipe nota 10 com que você sonhava. São pessoas com quem você se comprometeu, só isso.
O que o líder deve fazer, então, se quiser montar a melhor equipe possível? Ou melhor, uma vez que o processo de formação de equipes é marcado por inúmeras armadilhas, o que o líder não deve fazer na hora de constituir seu grupo?
Primeiro erro: premiar automaticamente funcionários leais.
Como é difícil resistir à tentação da recompensa! Não importa quanto tempo você teve de trabalhar para chegar aonde chegou, basta "virar" chefe para que se sinta arrebatado pelo impulso de dar uma força a quem lhe deu força. Conhecemos um sujeito que, quando se tornou presidente, nomeou sua chefe de recursos humanos e companheira de longa data para o comando da divisão digital da empresa. Sua gratidão pelo apoio que ela lhe deu nos anos que antecederam sua nomeação para o cargo atual falou mais alto do que a experiência limitada que ela tinha na área de tecnologia.
Eis aí o verdadeiro atalho para a mediocridade, senão para o desastre - não porque falte senso crítico ao funcionário leal, e sim porque, com freqüência, o fato de ser leal não torna o candidato ideal para o trabalho. Mais do que lealdade, é preciso ter capacidade intelectual privilegiada, energia prodigiosa e talento para motivar. Sem essas qualidades, o sujeito leal será sempre um profissional de segunda categoria em cargos de primeira linha. Trata-se de um problema enorme por uma razão muito simples: profissionais de segunda categoria tendem a contratar outros profissionais iguais a eles mesmos ou, o que é pior, gente ainda menos qualificada do que eles. A partir daí se desencadeia uma seqüência de desempenhos sofríveis.
Segundo erro: contratar quem precisa trabalhar ou quem ambiciona (mesmo que dissimuladamente) fazer parte de sua equipe porque isso confere prestígio.
Praticamente nada, ou quase nada, se compara à satisfação que sentimos quando um candidato nos diz, olho no olho, que gostaria demais de trabalhar conosco. "Excelente", você pensa, "encontrei alguém que tem a mesma visão que eu."
Pode até ser. Mas há o risco de que o candidato tenha também outras motivações, como dar um empurrão definitivo à sua carreira um tanto estagnada, ou então fazê-la ressuscitar mesmo. Essas pessoas se parecem com os tais conselheiros "independentes" - via de regra, professores de ética e de finanças - que tantos conselhos se apressaram em acolher na esteira da Lei Sarbanes-Oxley. Eles acumulam proventos oriundos do cargo de conselheiros que ocupam como se fossem meros adereços da função que exercem. São esses indivíduos precisamente os que menos se manifestam de forma dura ou contrária durante as reuniões. Afinal de contas, por que haveriam de morder a mão que os alimenta?
Obama merece crédito por passar longe desse equívoco tão comum em sua primeira indicação: Rahm Emanuel, congressista republicano indicado para a chefia de seu gabinete. Emanuel foi criticado por nutrir simpatia pelos democratas. Mas ele é inteligente, cheio de energia e transparente. Acima de tudo, porém, não receará nem um pouco em discordar de seu novo chefe. No mundo real, ele seria um forte candidato a cargos muito bem remunerados e de enorme prestígio.
Terceiro erro: gastar tempo demais para contratar alguém para resolver uma crise.
Todo novo líder herda, quase sempre, uma batata quente. A tendência, então, é procurar obsessivamente uma pessoa que, agregada à equipe, dê conta do problema. Sem dúvida, é o que se deve fazer. Contudo, o novo chefe precisa preencher rapidamente também as posições de liderança que se encarregarão de levar a cabo uma série enorme de prioridades de longo prazo. Lembre-se de que toda contratação que você faz transmite a seguinte mensagem: "Esse problema me preocupa demais, por isso contratei tal pessoa".
Atualmente, os meios de comunicação estão obcecados pela escolha de Obama para o Tesouro. Imagine, porém, a mudança que teria o rumo da conversa se fosse anunciado um ministro brilhante e ousado para o setor de energia. Uma decisão dessas falaria mais alto do que qualquer discurso político, tal como acontece quando um líder de empresa escolhe um executivo amplamente respeitado para gerir um projeto de importância fundamental para a empresa. No mundo dos negócios, assim como na esfera do governo, a escolha pessoal do líder diz tudo.
Além de enfrentar o terrível desafio de escolher o time certo, Obama se parece com outros líderes que acabaram de assumir seus postos em outro aspecto. Agora que se tornou chefe, até mesmo seus assessores mais notáveis, aqueles em quem ele mais confia, vão querer agradá-lo. Bajulação é uma palavra feia, mas até gente muito boa cai nessa, e o líder muitas vezes não tem outra opção a não ser se deixar levar por esse tipo de comportamento.
Nos meses que se seguirão, a principal tarefa de Obama será combater essa dinâmica abrindo o debate e acolhendo até mesmo quem traz idéias divergentes. Não é pouca coisa. No entanto, é missão do líder fazer com que isso se torne realidade, e ele tem condições para isso - contanto que escolha, antes de tudo, as pessoas certas para estar a seu lado.
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