Amigos, o tema não pode ser visto sob a ótica da ideologia. Não se trata de culpa deste ou de outro governo e sim de postura da sociedade como um todo, com todas as suas instituições funcionando, sobretudo a jurídica ao anuir com greves de professores e funcionários da Educação, da mesma forma que paternaliza o pai inadimplente ou o filho que amedronta os professores.
Também requer que a sociedade quebre o paradigma que ampara sua idiossincrasia nata, de apenas assistir e, se for se envolver, chamar seus procuradores, político e outros, e ficar se indignando nos noticiários televisivos nos intervalos de novelas.
Há anos se critica o desgoverno na Educação, contudo, em pesquisas para meu primeiro mestrado verifiquei que a Lei do Orçamento Anual, a LOA, sempre contemplou, proporcionalmente, Educação e Saúde em primeiros lugares desde o gov. Sarney, ou seja, proporcionalmente por serem os que menos sofriam contingenciamento.
Temos um altíssimo grau de informalidade na economia e índices de corrupção que demonstram, como resultado, o que leremos abaixo. Isto se dá por omissão da sociedade e não por culpa de governantes.
Trabalhei junto à área de Educação, em minha instituição por muitos anos e verifiquei, junto aos responsáveis por concursos que o nível de exigência intelectual, para a maioria dos níveis dos entrantes, vem diminuindo com os anos e a quantidade de reprovados não diminui.
A sociedade tem que acordar e iniciar uma mudança. Este tema não pode ser terceirizado.
A atual crise educacional
As taxas de conclusão dos ensinos fundamental e médio no Brasil cresceram durante boa parte do século 20. Entretanto, em fins da década de 1970, esse crescimento foi interrompido, situação que perdurou até o início da década de 1990. Essa crise do sistema escolar ocorreu, não por acaso, no mesmo período da crise econômica da década de 1980. Tal coincidência foi fruto da inexistência de uma política sólida para a educação e de instrumentos de gratuidade ativa que compensassem a perda de renda e o aumento das despesas induzidas pela condição escolar. Assim, no Brasil, uma crise econômica faz com que menos pessoas frequentem a escola e as que a frequentam tenham pior desempenho, afetando, em especial, a escolarização de crianças e jovens provenientes dos segmentos menos favorecidos.
Não tivesse havido a crise educacional da década de 1980 e as taxas de inclusão continuassem a crescer no mesmo ritmo anterior, teríamos hoje uma população adulta com um número muito menor de analfabetos, cerca de 7 milhões de pessoas a mais com ensino fundamental completo, entre 2 milhões e 4 milhões de adultos a mais com ensino médio completo, e o número de pessoas com o ensino superior completo poderia chegar à casa dos 4 milhões. Esses números não são nada desprezíveis, considerando o atual perfil escolar da população.
As taxas de conclusão do ensino fundamental voltaram a crescer no início da década de 1990, possivelmente ajudadas pelos mecanismos de progressão continuada (que se degeneraram em aprovação automática). Posteriormente, voltaram a crescer as taxas de conclusão do ensino médio e, alguns anos mais, as do ensino superior. Entretanto, esse crescimento ocorreu sem bases materiais - e orçamentárias - fortes, atendendo a um maior número de pessoas com praticamente a mesma fração do produto interno bruto (PIB) destinada à educação pública. Assim, o aumento das conclusões de cursos coincidiu com a piora no desempenho dos estudantes nas avaliações nacionais da educação básica ao longo da década de 1990. Quanto ao ensino superior, o crescimento ocorreu na forma de instituições privadas, grande parte delas de caráter mercantil, com comprometimento da qualidade.
Além da piora na qualidade, o crescimento das taxas de conclusão da educação básica durou pouco e começou a desaparecer por volta do ano 2000 em praticamente todos os Estados. Quanto à educação superior presencial, a sua taxa de crescimento tem perdido fôlego nos últimos anos.
Vejamos os números.
Em 2002, as taxas de conclusão da educação básica atingiram um valor máximo. Naquele ano, cerca de 2,8 milhões de jovens brasileiros concluíram o ensino fundamental. Mas, se a educação fundamental estivesse de fato universalizada, esse número deveria ser da ordem de 3,5 milhões (a população numa coorte etária de um ano correspondente à idade típica de conclusão do ensino fundamental), indicando que, mesmo no ano em que o País formou o maior contingente de sua história educacional, centenas de milhares de pessoas abandonaram o sistema e entraram na idade adulta sem ter sequer os oito anos obrigatórios de escolaridade. Em 2007, apenas cerca de 2,3 milhões de jovens concluíram o ensino fundamental, uma redução em relação a 2002 que nada tem que ver com mudanças do perfil da população, cuja coorte etária na faixa correspondente à conclusão dos ensinos fundamental e médio está praticamente inalterada. Atualmente, a cada ano, mais de 1 milhão de pessoas deixam a escola antes de completarem a escolarização obrigatória determinada pela Constituição de 1988. Situação similar ocorre no ensino médio: em 2002, atingimos um "pico" no número de conclusões - próximo de 1,9 milhão de pessoas -, que correspondia, entretanto, a apenas cerca de 55% da população numa coorte etária de um ano. Em 2007, o número de conclusões estava reduzido a 1,7 milhão, correspondendo a apenas cerca de 50% da população numa coorte etária de um ano.
Recuo equivalente ocorreu no Estado de São Paulo, tendo como única diferença o ano de 1999 como início do período. Naquele ano, cerca de 650 mil crianças ou jovens adultos concluíram o ensino fundamental e 530 mil, o ensino médio. Desde então, esses números vêm caindo, atingindo 560 mil e 390 mil conclusões, respectivamente, em 2007. Portanto, a cada ano cerca de um terço dos paulistas abandona o sistema educacional sem concluir o ensino fundamental; ao final do nível médio, a evasão já terá atingido cerca de 50% da população.
Se a esses indicadores quantitativos adicionarmos os indicadores de qualidade do nosso sistema escolar, a situação mostra-se ainda mais grave. Estamos, assim, condenando enormes contingentes populacionais à marginalização e o País, à impossibilidade de aproveitar plenamente o potencial dos expulsos prematuramente da escola.
Estados e municípios, responsáveis pela educação básica, e a União, responsável pelas normas, pela fiscalização e por boa parte do ensino superior, estão contribuindo para manter o nosso país num estado de atraso, com uma visão equivocada da educação, que nos custará muito caro no futuro.
As consequências sociais, econômicas e culturais da crise de nosso sistema educacional são muito graves, em especial se considerarmos o que ocorre no restante do mundo. Nenhum país superou a barreira do atraso e do subdesenvolvimento sem desenvolver seu sistema escolar e não há razão para supor que será diferente conosco. Se parte dos atuais problemas econômicos e sociais pode ser atribuída ao que ocorreu com nosso sistema educacional na década de 1980, o que está ocorrendo desde 2000 terá reflexos importantes no perfil social, econômico e cultural nas próximas décadas.
Otaviano Helene, professor no Instituto de Física da USP, foi presidente da Associação dos Docentes da USP e presidente do Inep
Não tivesse havido a crise educacional da década de 1980 e as taxas de inclusão continuassem a crescer no mesmo ritmo anterior, teríamos hoje uma população adulta com um número muito menor de analfabetos, cerca de 7 milhões de pessoas a mais com ensino fundamental completo, entre 2 milhões e 4 milhões de adultos a mais com ensino médio completo, e o número de pessoas com o ensino superior completo poderia chegar à casa dos 4 milhões. Esses números não são nada desprezíveis, considerando o atual perfil escolar da população.
As taxas de conclusão do ensino fundamental voltaram a crescer no início da década de 1990, possivelmente ajudadas pelos mecanismos de progressão continuada (que se degeneraram em aprovação automática). Posteriormente, voltaram a crescer as taxas de conclusão do ensino médio e, alguns anos mais, as do ensino superior. Entretanto, esse crescimento ocorreu sem bases materiais - e orçamentárias - fortes, atendendo a um maior número de pessoas com praticamente a mesma fração do produto interno bruto (PIB) destinada à educação pública. Assim, o aumento das conclusões de cursos coincidiu com a piora no desempenho dos estudantes nas avaliações nacionais da educação básica ao longo da década de 1990. Quanto ao ensino superior, o crescimento ocorreu na forma de instituições privadas, grande parte delas de caráter mercantil, com comprometimento da qualidade.
Além da piora na qualidade, o crescimento das taxas de conclusão da educação básica durou pouco e começou a desaparecer por volta do ano 2000 em praticamente todos os Estados. Quanto à educação superior presencial, a sua taxa de crescimento tem perdido fôlego nos últimos anos.
Vejamos os números.
Em 2002, as taxas de conclusão da educação básica atingiram um valor máximo. Naquele ano, cerca de 2,8 milhões de jovens brasileiros concluíram o ensino fundamental. Mas, se a educação fundamental estivesse de fato universalizada, esse número deveria ser da ordem de 3,5 milhões (a população numa coorte etária de um ano correspondente à idade típica de conclusão do ensino fundamental), indicando que, mesmo no ano em que o País formou o maior contingente de sua história educacional, centenas de milhares de pessoas abandonaram o sistema e entraram na idade adulta sem ter sequer os oito anos obrigatórios de escolaridade. Em 2007, apenas cerca de 2,3 milhões de jovens concluíram o ensino fundamental, uma redução em relação a 2002 que nada tem que ver com mudanças do perfil da população, cuja coorte etária na faixa correspondente à conclusão dos ensinos fundamental e médio está praticamente inalterada. Atualmente, a cada ano, mais de 1 milhão de pessoas deixam a escola antes de completarem a escolarização obrigatória determinada pela Constituição de 1988. Situação similar ocorre no ensino médio: em 2002, atingimos um "pico" no número de conclusões - próximo de 1,9 milhão de pessoas -, que correspondia, entretanto, a apenas cerca de 55% da população numa coorte etária de um ano. Em 2007, o número de conclusões estava reduzido a 1,7 milhão, correspondendo a apenas cerca de 50% da população numa coorte etária de um ano.
Recuo equivalente ocorreu no Estado de São Paulo, tendo como única diferença o ano de 1999 como início do período. Naquele ano, cerca de 650 mil crianças ou jovens adultos concluíram o ensino fundamental e 530 mil, o ensino médio. Desde então, esses números vêm caindo, atingindo 560 mil e 390 mil conclusões, respectivamente, em 2007. Portanto, a cada ano cerca de um terço dos paulistas abandona o sistema educacional sem concluir o ensino fundamental; ao final do nível médio, a evasão já terá atingido cerca de 50% da população.
Se a esses indicadores quantitativos adicionarmos os indicadores de qualidade do nosso sistema escolar, a situação mostra-se ainda mais grave. Estamos, assim, condenando enormes contingentes populacionais à marginalização e o País, à impossibilidade de aproveitar plenamente o potencial dos expulsos prematuramente da escola.
Estados e municípios, responsáveis pela educação básica, e a União, responsável pelas normas, pela fiscalização e por boa parte do ensino superior, estão contribuindo para manter o nosso país num estado de atraso, com uma visão equivocada da educação, que nos custará muito caro no futuro.
As consequências sociais, econômicas e culturais da crise de nosso sistema educacional são muito graves, em especial se considerarmos o que ocorre no restante do mundo. Nenhum país superou a barreira do atraso e do subdesenvolvimento sem desenvolver seu sistema escolar e não há razão para supor que será diferente conosco. Se parte dos atuais problemas econômicos e sociais pode ser atribuída ao que ocorreu com nosso sistema educacional na década de 1980, o que está ocorrendo desde 2000 terá reflexos importantes no perfil social, econômico e cultural nas próximas décadas.
Otaviano Helene, professor no Instituto de Física da USP, foi presidente da Associação dos Docentes da USP e presidente do Inep
Jefferson:
ResponderExcluirSou educadora também (tenho dois empregos - área administ. de uma empresa e a noite sou professora), isto é o reflexo do que temos que fazer em sala de aula, porque para atingir alguns índices de educação somos obrigados a aprovar alunos que não sabem ler(5ª e 8ª séries), fato que aconteceu comigo e colegas de trabalho ref. ao ano de 2009, além de que o professor é obrigado a submeter a diversas situações, como por exemplo, no ano de 2009 tinha 02 alunos que quando eu entrava na sala de aula davam as costas a mim e a outro colega e abriam a bíblia e nos critica quando saíamos da sala de aula, sendo que nós estávamos fazendo o nosso trabalho correto, digno e no entanto somos criticados quando fazemos desta forma porque nossos colegas não o fazem, vão para dar "alguma coisinha" e nisso passa o tempo da e eles recebem da mesma forma que nós, enquanto nós somos criticados e odiados pelos alunos porque estamos querendo passar algo. É muito difícil trabalhar com educação e também não recebemos nenhum incentivo, com um péssimo salário (os alunos têm salários mais altos que nós).
Isto é o Brasil.
Olá Jeff,
ResponderExcluirPenso que a falta ou a pouca formação de educação de base segue como uma bola de neve montanha abaixo. Não é apenas nos ensinos fundamental e médio que estão os problemas. Eles se perpetuam no ensino superior. A quantidade de alunos despreparados intelectualmente, sem disposição para a leitura, sem condições para análise crítica e com péssima escrita é impressionante! Há 12 anos experiencio uma piora crescente. Outro fator que me incomoda e para o qual não encontro respostas é a abertura indiscriminada e sem controle de faculdades. Consequentemente aparece a concorrência acirrada, guerra de preços baixos, políticas agressivas de marketing massificado e pouco ou quase nenhum critério na hora de escolher em qual instituição cursar determinado curso. Ao longo do tempo em que estou na área de Educação coordenando cursos e lecionando, somente 3 vezes recebi vestibulandos interessados em saber o perfil do curso, a titulação e experiência dos professores, se o curso estava reconhecido, conceito junto ao MEC, inserção de alunos no mercado, oportunidades de estágio e por aí vai. Na grande maioria das vezes eles vêm sem saber o que querem e o porquê de estar ali, com raríssimas exceções. Felizmente, na IES onde trabalho e o curso que coordeno tem excelente conceito e reinou absoluto durante alguns anos, mas tendo em vista a oferta exacerbada do mesmo curso pela concorrência e os baixos preços praticados, como já citei, há 01 ano e meio não abrimos turma para o curso sob a minha responsabilidade. Na verdade são 20 faculdades oferecendo o mesmo curso na capital e região metropolitana e 01 delas apenas, concentrando uma enorme quantidade exatamente devido ao marketing agressivo, entre outros detalhes como alta evasão, baixo conceito junto ao MEC etc. Mas quem quer saber disso? Muita gente quer apenas o diploma e quem prima por um trabalho sério e de qualidade, sofre. Temos tirado leite de pedra para sobreviver. Não tem sido fácil encontrar nesse meio alunos interessados e interessantes. O desafio de trazer e mudar os "desinteressados e desinteressantes" tem sido constante com pouco sucesso. Mas, quem liga para isso? Onde chegaremos? Penso que o caos já se instalou!!
Olá Jeff,
ResponderExcluirPenso que a falta ou a pouca formação de educação de base segue como uma bola de neve montanha abaixo. Não é apenas nos ensinos fundamental e médio que estão os problemas. Eles se perpetuam no ensino superior. A quantidade de alunos despreparados intelectualmente, sem disposição para a leitura, sem condições para análise crítica e com péssima escrita é impressionante! Há 12 anos experiencio uma piora crescente. Outro fator que me incomoda e para o qual não encontro respostas é a abertura indiscriminada e sem controle de faculdades. Consequentemente aparece a concorrência acirrada, guerra de preços baixos, políticas agressivas de marketing massificado e pouco ou quase nenhum critério na hora de escolher em qual instituição cursar determinado curso. Ao longo do tempo em que estou na área de Educação coordenando cursos e lecionando, somente 3 vezes recebi vestibulandos interessados em saber o perfil do curso, a titulação e experiência dos professores, se o curso estava reconhecido, conceito junto ao MEC, inserção de alunos no mercado, oportunidades de estágio e por aí vai. Na grande maioria das vezes eles vêm sem saber o que querem e o porquê de estar ali, com raríssimas exceções. Felizmente, na IES onde trabalho e o curso que coordeno tem excelente conceito e reinou absoluto durante alguns anos, mas tendo em vista a oferta exacerbada do mesmo curso pela concorrência e os baixos preços praticados, como já citei, há 01 ano e meio não abrimos turma para o curso sob a minha responsabilidade. Na verdade são 20 faculdades oferecendo o mesmo curso na capital e região metropolitana e 01 delas apenas, concentrando uma enorme quantidade exatamente devido ao marketing agressivo, entre outros detalhes como alta evasão, baixo conceito junto ao MEC etc. Mas quem quer saber disso? Muita gente quer apenas o diploma e quem prima por um trabalho sério e de qualidade, sofre. Temos tirado leite de pedra para sobreviver. Não tem sido fácil encontrar nesse meio alunos interessados e interessantes. O desafio de trazer e mudar os "desinteressados e desinteressantes" tem sido constante com pouco sucesso. Mas, quem liga para isso? Onde chegaremos? Penso que o caos já se instalou!!