Eu deveria ter escolhido Poder Aéreo, ou algo atinente à segurança da aviação, entretanto meu tema foi sobre Segurança Alimentar e falei muito sobre a insegurança alimentar.
Quando, em 2006 vi que estávamos longe dos 15 objetivos do milênio, aceitos na ONU, vi que o tema precisava ter mais visibilidade, daí o escolhi e mergulhei no desafio. Até hoje estou estudando o tema, acreditem.
Meu tema foi rejeitado, em princípio, pois fugia da natureza precípua dos temas ligados à Instituição onde fazia o mestrado, tanto é que no primeiro ano precisei adaptar meu projeto de tese em uma monografia, dado meu insucesso na pesquisa pois os dados não me estavam disponíveis em tempo de fazer um trabalho de nível.
No segundo ano, contudo, logrei êxito ao ponto de ser distinguido com o título Graduado de Honor.
Enfim, concito os amigos a acompanharem o tema. Do que está abaixo falado lembro que já lhes adiantei muito em outras mensagens passadas.
Não tenho bola de cristal, aliás, como diria Gabriel Garcia Marquez: é uma Crônica da Morte Anunciada.
A real dimensão da questão alimentar
Alex Renton
"Insegurança alimentar", disse recentemente um acadêmico de desenvolvimento, "é a nova Aids". É uma formulação odiosa, mas é verdade que à medida que este século avançar, nós ouviremos muito a respeito da fome e da perspectiva de haver menos alimento disponível. Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), em 2009 o número de pessoas desnutridas no planeta ultrapassou 1 bilhão pela primeira vez.
Após a decepção em Copenhague, aqueles que fazem campanha a respeito da mudança climática podem começar a se mobilizar em torno da questão dos alimentos. Um documentário sobre os fracassos da indústria alimentícia, "Food Inc.", será lançado mundialmente em fevereiro. Seu co-produtor, Eric Schlosser, provou com seu livro, "País Fast Food", que é possível mobilizar aqueles que combatem a pobreza a lutarem a respeito dos alimentos. E por um bom motivo. Nós provavelmente ficaremos sem ter o que comer muito antes de sermos cobertos pela elevação do nível dos mares.
Isto ocorre, é claro, em parte por causa do crescimento populacional, em parte por causa dos efeitos do aquecimento global sobre a agricultura em regiões mais quentes e -mais importante- por causa do hábito das pessoas de comerem mais proteína à medida que aumenta seu poder aquisitivo. A carne, famosamente, utiliza bem mais recursos por pessoa alimentada: a produção de um quilo de carne bovina exige entre 6 a 10 quilos de matéria vegetal e até 16 mil litros de água. Na China, o consumo de carne praticamente dobrou a cada década desde 1985. A FAO diz que precisamos dobrar a produção de alimentos nos próximos 40 anos para acompanhar o crescimento da demanda -e isso sem contar os efeitos da mudança climática.
E qual é a resposta? Controles sobre o desenvolvimento econômico? Vegetarianismo compulsório? Ninguém tem ideia. O lobby da pobreza quer apoio para pequenos produtores e irrigação sustentável; os ambientalistas gostariam de ver tratada a questão do desperdício de alimentos; os neófitos (e o "The Economist") depositam suas esperanças na biotecnologia, olhando para trás para a revolução verde que transformou a agricultura da Índia há meio século. A ação tem vindo principalmente de doadores privados -em 2009, Bill Gates destinou mais de US$ 39 milhões à pesquisa de milho resistente à seca.
O debate está esquentando. Em novembro, eu assisti Robert Watson -uma figura tipo Gandalf que é consultor científico chefe do Departamento de Meio Ambiente, Alimentos e Assuntos Rurais do Reino Unido- fazer sua célebre apresentação em PowerPoint sobre segurança alimentar e mudança climática. Ela já foi assistida na maioria dos lugares onde as políticas são pensadas e é certamente o documento mais sombrio sobre alimentos já visto em Westminster, depois dos cardápios dos pubs de Whitehall. Seus alertas, apoiados pelos do consultor científico chefe do governo, John Beddington, estão tendo um efeito. Parte da mensagem de Watson é que precisamos começar a nos preocuparmos com lugares mais próximos do que as planícies secas de trigo da Índia ou das plantações de arroz que mudam rapidamente do Leste da Ásia. Os países mediterrâneos, ele diz, ficarão muito mais secos, e até mesmo o sul do Reino Unido, segundo os cenários médios de emissões, provavelmente ficará 5ºC mais quente e 70% mais seco até os anos 2080.
Eu assisti a apresentação de Watson na conferência anual da Associação do Solo e a platéia -acostumada a profetas do apocalipse- ficou bastante deprimida. Eles levantaram sua posição habitual antiengenharia genética, alegando que parte da resposta está em transformar toda a agricultura em orgânica. Watson corajosamente rejeitou isso, insistindo que a biotecnologia, incluindo a modificação genética, deve ter um papel em tratar da fome. Ele também levantou uma ideia que não tinha ouvido antes, envolvendo mudança em massa da dieta nos trópicos. Produtos como arroz, que usam água e nitrogênio de forma comparativamente ineficiente, poderiam ser substituídos por produtos mais eficientes, como o milho. Tempos magros aguardam à frente.
(Alex Renton escreve sobre alimentos para o "The Times" de Londres e para "The Observer".)
Tradução: George El Khouri Andolfato
Após a decepção em Copenhague, aqueles que fazem campanha a respeito da mudança climática podem começar a se mobilizar em torno da questão dos alimentos. Um documentário sobre os fracassos da indústria alimentícia, "Food Inc.", será lançado mundialmente em fevereiro. Seu co-produtor, Eric Schlosser, provou com seu livro, "País Fast Food", que é possível mobilizar aqueles que combatem a pobreza a lutarem a respeito dos alimentos. E por um bom motivo. Nós provavelmente ficaremos sem ter o que comer muito antes de sermos cobertos pela elevação do nível dos mares.
Isto ocorre, é claro, em parte por causa do crescimento populacional, em parte por causa dos efeitos do aquecimento global sobre a agricultura em regiões mais quentes e -mais importante- por causa do hábito das pessoas de comerem mais proteína à medida que aumenta seu poder aquisitivo. A carne, famosamente, utiliza bem mais recursos por pessoa alimentada: a produção de um quilo de carne bovina exige entre 6 a 10 quilos de matéria vegetal e até 16 mil litros de água. Na China, o consumo de carne praticamente dobrou a cada década desde 1985. A FAO diz que precisamos dobrar a produção de alimentos nos próximos 40 anos para acompanhar o crescimento da demanda -e isso sem contar os efeitos da mudança climática.
E qual é a resposta? Controles sobre o desenvolvimento econômico? Vegetarianismo compulsório? Ninguém tem ideia. O lobby da pobreza quer apoio para pequenos produtores e irrigação sustentável; os ambientalistas gostariam de ver tratada a questão do desperdício de alimentos; os neófitos (e o "The Economist") depositam suas esperanças na biotecnologia, olhando para trás para a revolução verde que transformou a agricultura da Índia há meio século. A ação tem vindo principalmente de doadores privados -em 2009, Bill Gates destinou mais de US$ 39 milhões à pesquisa de milho resistente à seca.
O debate está esquentando. Em novembro, eu assisti Robert Watson -uma figura tipo Gandalf que é consultor científico chefe do Departamento de Meio Ambiente, Alimentos e Assuntos Rurais do Reino Unido- fazer sua célebre apresentação em PowerPoint sobre segurança alimentar e mudança climática. Ela já foi assistida na maioria dos lugares onde as políticas são pensadas e é certamente o documento mais sombrio sobre alimentos já visto em Westminster, depois dos cardápios dos pubs de Whitehall. Seus alertas, apoiados pelos do consultor científico chefe do governo, John Beddington, estão tendo um efeito. Parte da mensagem de Watson é que precisamos começar a nos preocuparmos com lugares mais próximos do que as planícies secas de trigo da Índia ou das plantações de arroz que mudam rapidamente do Leste da Ásia. Os países mediterrâneos, ele diz, ficarão muito mais secos, e até mesmo o sul do Reino Unido, segundo os cenários médios de emissões, provavelmente ficará 5ºC mais quente e 70% mais seco até os anos 2080.
Eu assisti a apresentação de Watson na conferência anual da Associação do Solo e a platéia -acostumada a profetas do apocalipse- ficou bastante deprimida. Eles levantaram sua posição habitual antiengenharia genética, alegando que parte da resposta está em transformar toda a agricultura em orgânica. Watson corajosamente rejeitou isso, insistindo que a biotecnologia, incluindo a modificação genética, deve ter um papel em tratar da fome. Ele também levantou uma ideia que não tinha ouvido antes, envolvendo mudança em massa da dieta nos trópicos. Produtos como arroz, que usam água e nitrogênio de forma comparativamente ineficiente, poderiam ser substituídos por produtos mais eficientes, como o milho. Tempos magros aguardam à frente.
(Alex Renton escreve sobre alimentos para o "The Times" de Londres e para "The Observer".)
Tradução: George El Khouri Andolfato
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