domingo, 17 de outubro de 2010

Brasil enfrenta risco do superenvelhecimento

Rafael Galdo - O Globo - 14/10/2010

Projeção do Ipea diz que população ficará mais idosa até 2030, quando seu número começar a ser reduzido

Antes considerado um país predominantemente jovem, o Brasil chegará a 2030 com uma população em processo de superenvelhecimento e que, em vez de crescer, começará a diminuir.
A projeção é do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), num estudo divulgado ontem com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2009 do IBGE. Segundo o levantamento, daqui a 20 anos, haverá aproximadamente 206, 8 milhões de brasileiros.
E enquanto o total da população cairá a partir daí, haverá crescimento apenas dos grupos com mais de 45 anos.
Seguindo essa tendência, devido à queda da mortalidade e da fecundidade, em 2009, a proporção de idosos no país já era de 11,4%, contra 7,9% em 1992. E o percentual de menores de 15 anos vinha em queda, de 33,8% para 24% no mesmo período.
Mantido o ritmo, em 2030, mais da metade (56,3%) da População em Idade Ativa (PIA, com mais de 15 anos) será de brasileiros acima dos 45 anos. Enquanto a participação dos jovens de 15 a 29 anos começará a se reduzir já em 2010.
Mudanças devem forçar novas regras na Previdência Para Ana Amélia Camarano, coordenadora de População e Cidadania do Ipea, essa nova estrutura exigirá mudanças profundas no mercado de trabalho e nas políticas públicas do país.
Com a mão-de-obra envelhecida, ela afirma que as empresas terão de abrir mais postos para trabalhadores com mais de 45 anos, reforçar serviços de saúde ocupacional, e aumentar investimentos em atualização e capacitação profissional. Já na Previdência Social, a pesquisadora defende o fim da aposentadoria compulsória e prevê a necessidade de aumentar a idade mínima para se aposentar.
— É importante que as pessoas vejam o trabalho do idoso com menos preconceito, até porque, caso contrário, não haverá gente para trabalhar no futuro — diz.
Economista da UFRJ, Lena Lavinas também acredita que podem ocorrer ajustes na Previdência, como a revisão da idade para a aposentadoria.
Ela enxerga, porém, oportunidades nesse envelhecimento da população, inclusive para o sistema previdenciário.
De acordo com Lena, esse quadro aponta para que, nas próximas décadas, a maioria dos brasileiros tenha de 16 a 64 anos, prontos para o trabalho.
E como a taxa de fecundidade se mantém baixa (segundo o Ipea, de 1,8 filho por mulher em 2009), terão poucos dependentes. Diante disso, diz ela, se a economia crescer de maneira sustentada e gerar empregos formais, combinado com uma maior produtividade do trabalhador, uma maior parte da população contribuirá para a Previdência.
— Mas temos que evitar que metade da população fique no setor informal. E o setor privado, junto com o estado, tem que investir muito em capacitação — destaca.
Ainda há perspectivas de aumento na participação dos maiores de 60 anos nas atividades econômicas. Já em 2009, de acordo com o estudo, 42,1% dos homens acima dessa idade trabalhavam, frente a 18,6% das mulheres. Por sua vez, os benefícios da seguridade social — previdência urbana ou rural, assistência social e pensões por morte — cobriam 77% (16,6 milhões) dos idosos no país.
A pobreza entre eles também caiu (de 24,7% em 1992 para 12,3% em 2009 entre os homens, e de 20,8 % para 11,4% entre as mulheres, mais do que entre os não-idosos).
Com essa melhoria na renda, eles passaram a assumir o papel de chefe de família com mais frequência. Em 2009, 13,8 milhões idosos chefiavam famílias, 57,3% deles homens.
Nas famílias em que os idosos eram chefes ou cônjuges com filhos adultos (situação de 6,2 milhões deles), eles contribuíam com 54,8% da renda. Mesmo quando eles moravam na casa de parentes (1,9 milhão, 76% mulheres), contribuíam com cerca de 23,1% da renda. Realidade que, para Ana Amélia, contradiz a tese de que os idosos seriam um peso para a família.
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