A possibilidade de perder uma eleição que já estava vencida no primeiro turno antes de as urnas se abrirem está levando a uma campanha extremamente agressiva por parte da candidata oficial Dilma Rousseff; e a que lideranças importantes do PT, como o governador eleito do Rio Grande do Sul Tarso Genro, já comecem a insinuar golpismos e a classificar uma eventual vitória tucana de “ilegítima”.
Com todas as pesquisas de opinião convergindo para o estreitamento da diferença entre os candidatos — a mais recente, do Datafolha, mantém a redução da diferença do primeiro para o segundo turno de 14 para 8 pontos —, o comando da campanha petista sofreu uma intervenção branca, determinada pelo presidente Lula, que deu ao deputado federal Ciro Gomes (PSB) e ao candidato petista derrotado para o governo de São Paulo Aloizio Mercadante plenos poderes para elevar o tom da campanha no rádio e na TV.
Também José Dirceu ampliou seu grau de influência nas decisões da campanha, e, segundo informações, é dele a orientação para que Dilma escolha com maior seletividade os debates de que participará neste segundo turno.
Ontem, o SBT anunciou o cancelamento do debate programado por “dificuldades de agenda dos candidatos”. O debate de amanhã na Rede TV/Folha está confirmado, mas ainda há dúvidas quanto ao da TV Record. Em 2006, o debate da Record no segundo turno não foi realizado, e a campanha tucana atribuiu o cancelamento a uma interferência da campanha petista.
A teoria da conspiração, que já surgira no primeiro turno, quando começou a se consolidar a ideia de que a eleição poderia não ser resolvida no dia 3 de outubro, ressurgiu com a queda da diferença entre os dois candidatos, indicando que a dianteira de Dilma pode estar dentro do empate técnico.
Como as pesquisas erraram no primeiro turno, dando para Dilma uma votação maior do que as urnas revelaram, o empate parece ser o resultado que melhor espelha a situação atual.
O governador eleito do Rio Grande do Sul pintou com tintas fortes o quadro político atual, ao falar na noite de quinta em uma reunião partidária em Porto Alegre.
Segundo ele, está havendo “uma campanha de golpismo político só semelhante aos eventos que ocorreram em 1964 para preparar as ofensivas” contra o governo estabelecido.
Sem se esquecer de culpar a imprensa pelo clima de golpismo que denunciava, Genro não deixou por menos: avaliou que a situação pode “redundar em uma eleição ilegítima”, na qual um candidato quer se eleger “com base na mentira, na inverdade, na calúnia e na difamação”.
Esse Tarso Genro eleito governador que fala de golpismo nesses termos é o mesmo que, dias depois da reeleição de Fernando Henrique em 1998, publicou um artigo pedindo seu “impeachment”.
Ontem, depois que a pesquisa Datafolha mostrou estabilidade em relação ao primeiro levantamento do segundo turno, a direção petista comentou que seus levantamentos internos demonstram recuperação de Dilma.
O que significa admissão de que a candidatura petista esteve em queda em algum momento do segundo turno.
Levantamentos internos da campanha de Serra indicam uma situação oposta, mais favorável ao candidato tucano, e apontam a agressividade dos programas eleitorais da adversária como a maior prova de que a tendência de estreitamento da diferença está se mantendo.
A campanha tucana decidiu também entrar no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com vários pedidos de direito de resposta aos programas de rádio e TV dos petistas.
A análise feita na campanha tucana é que a propaganda petista está arriscando muito nas acusações, o que seria mais uma demonstração de que eles estão flertando com os limites da legislação eleitoral.
Um dos direitos de resposta será para o programa de ontem à noite, que acusa o então governador Serra de ter mandado a polícia invadir a Universidade de São Paulo numa greve de professores.
Na verdade, foi a reitora da USP quem pediu na Justiça a reintegração de posse, e a polícia foi enviada para executar a ordem.
Também a insistência na acusação de que o ex-presidente da Agência Nacional do Petróleo David Zylbersztajn quer privatizar o pré-sal é alvo de pedido de resposta.
Zylbersztajn é identificado pela propaganda petista como “principal assessor da área energética” da campanha de Serra, quando, na verdade, ele não exerce nenhuma função.
Zylbersztajn já divulgou uma nota desmentindo Dilma e esclarecendo que ele apenas defende o sistema de concessão na exploração do petróleo, que foi implantado pelo governo Fernando Henrique, em vez da partilha, que o governo Lula quer adotar na exploração do pré-sal.
Se concessão fosse igual a privatização, como acusam os petistas, então o governo Lula já “privatizou” várias áreas do pré-sal, que foram licitadas pelo sistema que estava em vigor até a mudança da legislação.
Há também a acusação de que Serra privatizou a Companhia Siderúrgica Nacional, quando a empresa foi privatizada no governo Itamar, onde Serra não exerceu função.
Ao mesmo tempo, Dilma tenta se livrar do impasse em que está desde que o tema “descriminação do aborto” surgiu na campanha, tomando conta do debate político.
Ontem, depois de muito relutar, ela divulgou uma carta em que se diz “contra o aborto”, mas não nega diretamente que seja contra a “descriminação do aborto”, e deixa para o Congresso decisões sobre esse e outros temas polêmicos, apenas prometendo que, eleita presidente, não enviará nenhuma lei que seja “contra a família”.
É uma tentativa de encerrar uma discussão que tem prejudicado muito seu desempenho.
O tom mais agressivo, a crítica de que o debate sobre aborto foi provocado por setores atrasados da oposição, e a campanha centrada na acusação de que os tucanos entregam o patrimônio público a investidores privados, tudo isso faz parte de uma estratégia para recuperar a parte dos votos da esquerda partidária que foi para Marina no primeiro turno.
Em 2006, deu certo.
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