segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Demografia - A aventura do Censo

Veja - 04/10/2010


Da gigantesca operação montada pelo IBGE, emergirá o mais detalhado retrato já feito da população brasileira

Está em curso no Brasil o mais abrangente de todos os levantamentos demográficos - o censo. Feito a cada década no país desde 1940, o deste ano, pode-se dizer, não será apenas o maior, mas também o de mais complexa execução. Às tradicionais dificuldades impostas por um território com tais dimensões e diversidade geográfica, somaram-se novos complicadores, que acabaram por tornar o censo brasileiro uma verdadeira aventura. Uma dessas mudanças diz respeito ao crescimento da população. São hoje 58 milhões de famílias por recensear, 30% mais que na contagem anterior. Outra tarefa árdua está sendo a de esquadrinhar os aglomerados urbanos que se multiplicaram na última década de forma desordenada, muitas vezes caótica. O grau de dificuldade de um levantamento como esse pode ser aferido de várias maneiras. Um bom termômetro é a extensão da área a ser percorrida, em média, por cada recenseador - parâmetro em que o Brasil chama atenção. Em nenhum outro país de território semelhante, ou até maior, se caminhará muito para colher informações. Até o término do censo, no fim de outubro, o périplo do batalhão recrutado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), à frente do trabalho, equivalerá a algo como 447 voltas ao mundo.

O número de questões também aumentou - são 108 hoje, contra as 89 de 2000 -, com o objetivo de mapear recentes transformações na sociedade. Será a primeira vez, por exemplo, que o censo vai aferir o número de uniões homossexuais. Dez anos atrás, considerava-se um levantamento infrutífero, pois era mais raro encontrar brasileiros que assumissem relacionar-se com alguém do mesmo sexo. Com o avanço da renda, serão agora rastreados também novos hábitos de consumo - tão distintos quanto o uso de celulares e motocicletas. Outra questão recém-incorporada se refere aos brasileiros que vivem no exterior, um fenômeno que acabou por ganhar relevo estatístico. Diz o demógrafo Luiz Antônio de Oliveira, do IBGE: “O censo precisou ser ajustado de modo a espelhar uma sociedade hoje mais rica, globalizada e culturalmente aberta”.

O primeiro censo brasileiro data de 1872 - quando o Brasil era ainda um país monárquico, com 10 milhões de habitantes e mão de obra escrava. Já naquela época registrava um atraso estatístico na comparação com a Europa e os Estados Unidos. Para se ter uma ideia, a primeira edição do censo americano ocorreu em 1790, quase um século antes da brasileira. Atualmente, outros 67 países estão às voltas, com levantamentos demográficos dessa grandeza. Juntos, eles abarcarão quase a metade da população mundial. Com base em dados tão detalhados, depreendem-se informações cruciais para definir as deficiências e o estágio de desenvolvimento de cada país. É algo essencial para a elaboração de metas e políticas públicas - e justifica a grande empreitada do censo.

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