quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Eleitor sem memória não ajuda a melhorar a política

EDITORIAL
JORNAL DO BRASIL
19/10/2010

São assustadores – mas nem surpreendem tanto – alguns números da última sondagem eleitoral feita pelo Instituto Datafolha. Segundo o trabalho, cerca de 30% dos eleitores não lembram em quem votaram para senadores e deputado federal... na eleição do último dia 3! Se fosse no pleito de 2006, já seria absurdo, mas com um pouco de tolerância daria para engolir. Mas o fato de que praticamente um em cada três brasileiros não lembra em quem votou há pouco mais de duas semanas é uma bela explicação para o nível dos quadros que integram os legislativos do país.
O índice aumenta ainda mais quando o entrevistado respondia se se lembrava do segundo senador que escolheu. Ora, lembrar de um já é difícil, quanto mais de dois.
Se um em cada três brasileiros não tem qualquer tipo de ligação ou compromisso com o político que ajudou a eleger, como vai poder cobrar que este realize as promessas de campanha?
A esses que não têm a menor ideia de quem colocaram no poder se somam os muitos que vão até lembrar, mas não estão nem aípara fiscalizar ou cobrar uma postura digna de seus escolhidos.
Qual é o resultado prático disso? A eleição de políticos também nada comprometidos com o cumprimento das promessas de campanha, com o trabalho em prol de um eleitorado que não vai cobrar nem fiscalizar absolutamente nada. E não faltam representantes da classe política que acham tudo isso uma maravilha.
A situação serve como combustível para os que entendem que o voto não deveria ser obrigatório no Brasil. Assim, só iria às urnas quem estivesse realmente convicto, sabendo exatamente o porquê de dar seu crédito de confiança a alguém especificamente.
Não dá para saber qual é a melhor fórmula, se o voto obrigatório ou facultativo, até porque o segundo modo nunca foi testado. Mas, por intuição, dá para imaginar que em um cenário de voto não obrigatório, no mínimo, dificilmente candidatos bizarros como alguns que vimos no último pleito teriam a enxurrada de votos que tiveram.
A propósito: e você, leitor amigo, ainda lembra a quem deu seu precioso voto?

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