Não é exagero retórico a guinada da Venezuela rumo ao "socialismo do século 21" prometida pelo presidente Hugo Chávez. Cresce de modo espantoso o número de desapropriações e estatizações no país. Apenas nos primeiros oito meses de 2010, 174 empresas foram encampadas pelo Estado.
Em todo o ano de 2009, 131 companhias já haviam passado pelo estrepitoso processo -que inclui invasões pela Guarda Nacional e o pagamento incerto de indenizações. Em 2008, 25 empresas haviam recebido tratamento semelhante, contra 17, em 2007.
O aumento da presença do Estado na economia, como era de esperar, se traduz em ineficiência, prejuízos e queda da produção -conforme mostrou reportagem publicada ontem pelo jornal "Valor Econômico". A siderúrgica Sidor, comprada pelo governo do grupo argentino Techint, é um exemplo. Sua produção foi reduzida em 28% desde que passou às mãos da "revolução bolivariana".
O resultado se repete na fabricante de alumínio Venalum, que havia lucrado US$ 60 milhões no último ano de administração privada e, desde então, acumula prejuízos. Com exceção de alguns setores, a queda de produtividade é a regra entre as empresas que passaram a ser geridas pelo Estado.
O arbítrio das intervenções assusta investidores e prejudica a economia. Aliados à queda dos preços do petróleo, efeitos da ineficácia estatal já vinham sendo sentidos antes mesmo da aceleração das estatizações -basta lembrar que os venezuelanos convivem desde o ano passado com racionamentos de água e energia.
Maior e bem mais complexo, o Brasil guarda diferenças relevantes em relação ao país vizinho, o que torna pouco plausível a hipótese do desenvolvimento, entre nós, de uma versão do chavismo.
A aventura do caudilho atrai no entanto simpatias de setores do governo e de uma claque de esquerda perdida no tempo. São os mesmos que insuflam e aplaudem o discurso mistificador da candidata governista sobre privatizações. Que a experiência venezuelana sirva como um alerta contra essas visões regressivas.
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