quinta-feira, 21 de outubro de 2010

FHC recriou a Petrobrás

Alberto Tamer - O Estado de S. Paulo - 21/10/2010

Está sendo cometida uma grande injustiça com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a respeito da Petrobrás. Neste clima político, querem reverter contra ele o enorme trabalho que fez para o Brasil ao abrir o capital da Petrobrás, em 1997, atenuando os efeitos nocivos do monopólio estatal do petróleo. Ele recriou e salvou a Petrobrás de si mesma. Antes de Fernando Henrique, a Petrobrás era um "petrossauro", um paquiderme pesado repousando em si mesma; ocupava espaço, não fazia e não deixava ninguém fazer. Hoje, é a quarta maior do mundo em valor de mercado e a oitava entre as empresas de capital aberto. Um novo orgulho para o Brasil.

Antes, era aquele pretexto tacanho e mesquinho, da "soberania nacional", resquícios ainda da era de "O petróleo é nosso". Na verdade, não era nosso, era da Petrobrás e sua corporação, que só investia pouco em pesquisa e extração, se concentrava no refino e na comercialização interna porque davam lucro. Por que gastar em pesquisa e produção se podia ganhar mais sem correr risco importando em dólares, refinando e vendendo em reais? Quando o câmbio lhe era desfavorável, recorria aos cofres do governo, seu grande acionista e proprietário, que a protegia de pai para filho. Era uma conta complicada e obscura que ninguém entendia. Nem o governo.

Fernando Henrique ousou. O ex-presidente teve a ousadia feliz de não acabar totalmente com os privilégios da Petrobrás, mas abri-la ao capital privado.

Gás, o esquecido. A Petrobrás reclamou, mas não só sobreviveu como cresceu, se fortaleceu, se agigantou diante da injeção de recursos privados e do desafio das empresas internacionais. Descobriu que não vinham "competir" com ela, roubar-lhe mercado, mas colaborar na pesquisa e extração de petróleo e gás. Este foi sempre o grande esquecido e rejeitado. A Petrobrás sentou-se sobre ele por décadas , nada fez e não deixou que alguém fizesse. Por quê? É simples: o gás competia com o óleo que lhe dava enorme lucro num mercado cativo...

O resultado dessa iniciativa de Fernando Henrique foi que a Petrobrás cresceu, e é hoje umas das maiores e mais respeitadas empresas mundiais de petróleo! Investe no Brasil e no exterior onde extrai e refina petróleo para os mercados interno e externo também. Essa é a Petrobrás renovada que o Brasil precisava. E hoje tem. De uma empresa acanhada, superprotegida, transformou-se na primeira grande multinacional brasileira respeitada no mundo todo. Obra do ex-presidente, que hoje querem esquecer.

Provava-se ali que, ao fechar o Brasil à tecnologia e ao capital externo, o governo não estava reduzindo, mas aumentando de forma assustadora a dependência do Brasil do petróleo externo, das mesmas empresas que ele impedia que o encontrasse aqui.

Poucos se lembram, mas foi nas duas crises do petróleo, 1973 (invasão árabe contra Israel) e 1979, (a revolução dos aiatolás no Irã) que se formou a brutal divida externa brasileira de mais de US$ 200 bilhões. O Brasil pedia dinheiro emprestado no exterior para pagar à vista o petróleo que escasseava no mundo, acumulando dividas astronômicos. Era a cega política de Geisel, o abastecimento, primeiro, o petróleo depois...

A farsa dos contratos de risco. Quando muito, ele permitiu a farsa dos contratos de risco quando se descobriu o petróleo de Campos. Sim farsa, porque os termos dos contratos davam à Petrobrás a escolha das melhores áreas, que ela conheciam mas não explorava, e deixava as piores para o setor privado, nacional ou estrangeiro. Resultado: não vieram como poderiam ter vindo. E, nas duas crises do petróleo, 1973 e 1979, era mais dependente do que nunca do petróleo importado... Daí o titulo do nosso livro Petróleo, o preço da Dependência, um retrato histórico.

Aqui de novo FHC. E só vieram mesmo, de verdade, depois que o ex-presidente Fernando Henrique abriu o capital da Petrobrás. E estão vindo cada vez mais, não para "roubar"o petróleo recém-descoberto, mas para compartilhar com o Brasil a receita do petróleo que encontrarem. A Petrobrás não foi "enfraquecida", pois será a única operadora, mas revigorada. Obra do ex-presidente que acusam agora de "privativista".

A história - e estou sempre disposto a recontá-la - mostra que foi Fernando Henrique quem recriou e salvou a Petrobrás, quem a tirou da modorra, da apatia do monopólio total para a do semi-monopólio (é isso mesmo, ainda hoje monopólio de fato!) para ser o que é. A quarta maior empresa mundial em valor de patrimônio e a maior multinacional brasileira.

O presidente da Petrobrás, em vez de criticá-lo, deveria lhe oferecer a medalha de ouro! Foi ele, repito, quem recriou e salvou a Petrobrás de si mesma.

Senhores, o petróleo é coisa muito séria. Temos 50 bilhões de barris para extrair de mares profundos, nos transformando em grandes produtores e exportadores mundiais.. Não o misturem com o jogo político que passa a vai acabar em alguns dias. Por favor, deixem o petróleo e a Petrobrás em paz A libertação da Petrobrás do monopólio estatal - sim, libertação! - foi uma das maiores realizações do governo de Fernando Henrique, superada apenas pela privatização do setor de comunicação. Não fosse ele, teríamos hoje não só ainda não só um Petrossauro, mas um Telessauro também, como tivemos por muito tempo. Senhores da Petrobrás, façam justiça ao ex-presidente Fernando Henrique! O Brasil e a Petrobrás devem muito a ele.
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