terça-feira, 5 de outubro de 2010

Palhaços somos nós, os eleitores

Já tivemos cariocas elegendo macaco de zoológico, paulistas um tareco, Jurunas, dentre outros.
Tivemos um mensalão, expulsão do PT dos deputados que votaram contra o aborto por serem obrigados a seguirem a orientação do partido (explicado na televisão, laconicamente por Genoíno) e, semelhante ao palhaço atual tivemos a eleição de Enéias que elevou parlamentares com pouco mais de duzentos votos.
Quando é que a sociedade vai amadurecer o bastante para entender que o voto não é exatamente o que ele quer impor como vontade?
Quando é que vamos falar sério??? Deixarmos de ser caricatos para o mundo.
Voto de revolta de nada adianta frente a contumaz omissão ao longo de quatro anos de mandato.  Nós e nossa eterna mania do herói brasileiro ser o despachante, o procurador, aquele que elegemos para cuidar, em nosso lugar, dos problemas vitais de nossa sociedade?


Palhaços somos nós, os eleitores
 Ruth de Aquino - Época - 04/10/2010

Vamos encher o bolso de parlamentares ignorantes em troca de ideia nenhuma. É para ficar tiririca da vida.


Mulher laranja, humorista analfabeto e jogador de futebol aposentado são alguns ingredientes de nosso circo eleitoral. Poderíamos rir se não fôssemos coprotagonistas dessa tragédia burlesca. Porque, no fim, vamos eleger mulheres barbudas, palhaços e anões. Vamos pagar suas contas e encher mais ainda seus bolsos em troca de ideia nenhuma. No centro do picadeiro, estão os juízes do STF, que, por omissão ou indecisão, não conseguiram exigir ficha limpa dos candidatos antes da eleição. Contribuem assim para o voto inconsciente.
“Vou defender aquela corrupção”, disse Weslian, casada há meio século com o ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz. Ela tropeçou nas palavras. Ou talvez tenha derrapado em seu convívio com um marido malabarista, que tudo faz para não perder a boquinha política. Primeiro, Roriz renunciou ao Senado para não ser cassado em processo por corrupção. Depois, com a aparente moralização do processo eleitoral em 2010, renunciou à candidatura porque não se enquadrava na Ficha Limpa. Botou em seu lugar a mulher. Roriz diz: vocês verão a minha foto, mas Weslian é que será a candidata. Vocês vão votar nela, mas é como se o candidato fosse eu. Elementar. Mesmo quem não cursou o ensino fundamental compreende.
Madame Roriz não é uma inocente útil. Como tampouco o é Tiririca, o palhaço que só sabe rubricar seu nome e nunca votou na vida. Na reportagem de capa de ÉPOCA da semana passada, ele disse: “Minha mulher lê pra mim”. A principal plataforma de Tiririca é “ajudar muito o lance dos nordestinos”. Mas ele não sabe como: “De cabeça, não dá pra falar”. Suas maiores credenciais são: “Venho de baixo” e “Tô entrando de coração”. Embora analfabetos sejam inelegíveis pela Constituição, a Justiça de São Paulo preferiu não colocar à prova se o palhaço sabe ler e escrever.
O craque Romário, milionário e malandro, às vezes detido por não pagar pensão alimentícia à ex-mulher e aos filhos Moniquinha e Romarinho, nem tentou driblar a galera, inventando um programa de ideias. O ídolo e goleador prometeu usar o futebol para integrar as crianças carentes. Como deputado federal, conseguirá a façanha jogando futevôlei nas praias da zona nobre do Rio?
Vamos encher o bolso de parlamentares ignorantes em troca de ideia nenhuma. É para ficar tiririca da vida
Nenhum desses três candidatos é inocente – e como algum deles seria útil? Se Tiririca tem potencial para superar 1 milhão de votos como deputado federal apenas por sua popularidade e pelo slogan “Pior do que tá não fica”, é porque palhaços somos nós, os eleitores brasileiros. O único jeito, num país onde o voto continua sendo infelizmente obrigatório, seria uma forte campanha pelo voto consciente. Mas a quem a consciência interessa? A Câmara lançou uma radionovela, alertando para o poder do eleitor de escolher bem seus representantes e fiscalizar o trabalho dos eleitos. O detalhe é que a maioria dos brasileiros nem sequer sabe o que faz um deputado estadual, federal ou senador.
O voto consciente é solapado quando dez juízes, ganhando mais de R$ 26 mil por mês, não conseguem decidir, antes da eleição, se a Lei da Ficha Limpa já vale neste ano ou não. É imoral não exigir de candidatos a cargos públicos o mesmo passado sem nódoas, a mesma integridade que se exige de um cidadão comum. Se bem que, a julgar pelas palavras de Lula em junho do ano passado em defesa do presidente do Senado, José Sarney, alguns homens são menos comuns que outros e merecem tratamento especial.
A Lei da Ficha Limpa foi aprovada, a sociedade aplaudiu, acreditou e, agora, por uma firula jurídica, às vésperas da eleição, o presidente do STF, ministro Cezar Peluso, se diz incapaz de desempatar a indecisão do Supremo. A omissão confunde eleitores já confusos e abre caminho para processos e recursos de candidatos suspeitos de falcatruas. Para culminar o vexame, um vídeo mostra um advogado, genro do juiz do STF Carlos Ayres Britto, em negociação a peso de ouro com Roriz para livrá-lo da pecha de ficha suja. O acordo não chegou a ser firmado. Mas isso sim é um deboche, que deixa o Brasil tiririca da vida.
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