terça-feira, 19 de outubro de 2010

SAÚDE FORA DO DEBATE

EDITORIAL
ESTADO DE MINAS - 18/10/2010

Candidatos não discutem quais supérfluos vão cortar para dar verbas ao setor

Mais produtivo do que disputar quem tem mais fé em Deus e é mais devoto desse ou daquele santo seria algum esforço dos presidenciáveis para tirar a campanha eleitoral do ridículo a que os gênios do marketing a conduziram. Até parece que o eleitorado brasileiro é 100% ignorante e impressionável por manobras e discursos que desrespeitam não só a inteligência geral como a biografia dos candidatos. Pelo menos nos próximos 13 dias que separam os brasileiros das urnas, deveriam ser discutidas e explicitadas claramente as propostas de cada lado para os problemas que a sociedade brasileira tem pela frente. Nem é preciso perder tempo em criticar o desempenho dos dois governos, que ao longo dos últimos 16 anos falharam vergonhosamente em pelo menos quatro das cinco tarefas tidas, no mundo civilizado, como parte das funções básicas do Estado moderno: educação, saúde, segurança e infraestrutura básica.

Mentiradas e meia-verdades à parte, qualquer cidadão, a começar do mais pobre e do menos informado, sabe, por exemplo, o que é depender do Sistema Único de Saúde (SUS). Trata-se de um suplício que põe abaixo a atual arrogância brasileira de ser uma economia forte e influente no mundo.

Incapazes de discutir o que realmente interessa, por exemplo, na saúde, os dois candidatos entediam qualquer cristão com propostas que não são ruins, mas que não passam de sedativos. Em entrevista ao Estado de Minas ontem, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, depois de elogiar a si mesmo, como é comum a toda autoridade brasileira, termina por colocar o dedo na ferida. Demonstrando ter amadurecido em seus conhecimentos e em sua coragem de contrariar o corporativismo largamente protegido e abrigado no principal partido do governo, o ministro mostra os dois verdadeiros desafios a serem enfrentados pelo próximo governante, seja quem for o ocupante da cadeira presidencial: dinheiro e gestão eficiente.Temos um sistema arcaico e engessado de gestão, especialmente nos hospitais públicos “”, diz Temporão, sugerindo a criação de processos de remuneração por metas e avaliação por desempenho. Fácil de falar para quem é do ramo e tem boa intenção, difícil de implantar para quem não tem liderança e forte apoio político para abandonar ideias e práticas do século 19.

Quanto à questão central, que o ministro chama de subfinanciamento crônico, falta, sim, uma base de sustentação financeira para tirar o projeto do SUS do faz de conta em que se arrasta desde que foi criado. Temporão lembra a necessidade de o Congresso aprovar a regulamentação da Emenda Constitucional 29, lei que vai tornar obrigatórios valores mínimos a serem aplicados na saúde pela União, estados e municípios. Mas, desta vez, Temporão evitou tocar no que realmente tem impedido a votação: a desrespeitosa inclusão da recriação da CPMF, atitude que confronta a maioria da opinião pública. Acostumado a contar com a desinformação do eleitor para esfolar quem paga impostos, o Estado brasileiro não sabe economizar privilégios para garantir mais recursos ao que deveria ser prioritário. Está na hora de aprender.
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