Jean-Pierre Langellier - 05/10/2010 -
A candidata de Lula deverá esperar pelo segundo turno para ter a certeza de sucedê-lo, após um primeiro turno marcado pelo bom resultado da candidata verde e um alto índice de abstenção
Dilma Rousseff, 62, deverá esperar pelo dia 31 de outubro para ter a certeza de suceder, no dia 1º de janeiro de 2011, seu mentor, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No domingo (3) ela não obteve a maioria absoluta dos votos, necessários para ser eleita logo no primeiro turno da eleição.
Segundo resultados quase definitivos, relativos a mais de 99% de votos apurados, Dilma Rousseff conseguiu 46,8% dos votos, contra 32,7% de seu principal adversário, o social-democrata José Serra, 68, ex-governador do Estado de São Paulo.
A candidata verde Marina Silva, 52, causou uma grande surpresa obtendo 19,5% dos votos, um desempenho nitidamente melhor do que lhe davam as pesquisas de intenção de voto. Dilma Rousseff e José Serra seguem sendo os únicos na disputa pelo segundo turno.
Primeira conclusão dessa votação: os quatro institutos de pesquisa se enganaram ao subestimarem a pontuação da favorita. Todos a davam como provável eleita logo neste domingo. Faltaram-lhe quatro milhões de votos para que ela atingisse esse objetivo.
Segunda característica da eleição, a abstenção foi muito maior do que nas votações anteriores: 18% dos registrados. Isso é ainda mais notável se for considerado o fato de que o voto é obrigatório para os cidadãos com idade entre 18 e 70 anos, sob pena de multa – muito modesta, é verdade (o equivalente a menos de 2 euros).
Esse fenômeno exprime ao mesmo tempo uma certa despolitização em relação às eleições que marcaram a ascensão de Lula, e uma desconfiança em relação à classe política, comprometida periodicamente por escândalos de corrupção.
Nesse sentido é sintomático que durante as eleições parlamentares, que também ocorreram no domingo, o deputado com maior número de votos tenha sido, como previsto, um palhaço analfabeto, “Tiririca”. Ele obteve 1,3 milhão de votos.
A forte abstenção é também certamente fruto de uma melhora na qualidade de vida da maioria, que dispersa parte do eleitorado, menos motivado que antes para manifestar suas escolhas nas urnas. Aos abstencionistas, soma-se um alto índice de votos brancos e nulos: 9% dos registrados. No total, 27% dos registrados, ou seja, 34 milhões de eleitores, escolheram não escolher.
Boato sorrateiro
A principal conclusão desse primeiro turno foi o excelente desempenho de Marina Silva. Embora tenha sido eliminada da corrida, a candidata do Partido Verde, ex-ministra do Meio Ambiente no governo Lula, é a vencedora da votação. De um máximo de 10% das intenções de voto um mês atrás, ela dobrou sua pontuação.
Ela mirou longe, bem além da “minoria ecologicamente consciente”. Seduziu os jovens, uma minoria de intelectuais e os “boêmios” das cidades grandes, especialmente no Rio. Discípula da maior Igreja evangélica do Brasil, a Assembleia de Deus, também recebeu o apoio de cristãos evangélicos, que representariam 25% da população.
Há alguns dias, Rousseff teve de se defender de um boato sorrateiro que lhe atribuía a intenção de legalizar o aborto, proibido no Brasil. Para cortá-lo logo, ela organizou às pressas um encontro com dirigentes das Igrejas. Talvez esse caso tenha deixado rastros que a prejudicaram.
Marina Silva deve a maior parte de seu sucesso a ela mesma. Milhões de eleitores a viram como a candidata mais “autêntica”, a que trazia ideias novas, ainda que às vezes difíceis de serem aprovadas junto a uma maioria de brasileiros pouco instruídos.
A candidata ecologista denunciou a “infantilização” do eleitorado pelo governo, criticou a multiplicação de promessas feitas por seus adversários, que ela se absteve de atacar, e defendeu os valores próprios a um outro modelo de desenvolvimento.
Ela superou de forma brilhante suas deficiências iniciais: a falta de experiência e de unidade do Partido Verde, a fragilidade de seus meios financeiros e a brevidade de suas aparições na televisão. Sua atitude “moral” e sua determinação também reuniram um eleitorado que se recusava a dar um cheque em branco a “Dilma”.
Dilma Rousseff e José Serra já estão de olho na reserva de votos de Marina Silva. Esta quer que o possível apoio de seu partido seja decidido durante uma “reunião plenária” que associe “as forças vivas da sociedade”. Não é garantido que a maioria de seus eleitores vá votar em Dilma Rousseff no segundo turno. Apesar dessa incerteza, a candidata de Lula continua sendo a grande favorita.
Tradução: Lana Lim
. Dilma Rousseff, 62, deverá esperar pelo dia 31 de outubro para ter a certeza de suceder, no dia 1º de janeiro de 2011, seu mentor, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No domingo (3) ela não obteve a maioria absoluta dos votos, necessários para ser eleita logo no primeiro turno da eleição.
Segundo resultados quase definitivos, relativos a mais de 99% de votos apurados, Dilma Rousseff conseguiu 46,8% dos votos, contra 32,7% de seu principal adversário, o social-democrata José Serra, 68, ex-governador do Estado de São Paulo.
A candidata verde Marina Silva, 52, causou uma grande surpresa obtendo 19,5% dos votos, um desempenho nitidamente melhor do que lhe davam as pesquisas de intenção de voto. Dilma Rousseff e José Serra seguem sendo os únicos na disputa pelo segundo turno.
Primeira conclusão dessa votação: os quatro institutos de pesquisa se enganaram ao subestimarem a pontuação da favorita. Todos a davam como provável eleita logo neste domingo. Faltaram-lhe quatro milhões de votos para que ela atingisse esse objetivo.
Segunda característica da eleição, a abstenção foi muito maior do que nas votações anteriores: 18% dos registrados. Isso é ainda mais notável se for considerado o fato de que o voto é obrigatório para os cidadãos com idade entre 18 e 70 anos, sob pena de multa – muito modesta, é verdade (o equivalente a menos de 2 euros).
Esse fenômeno exprime ao mesmo tempo uma certa despolitização em relação às eleições que marcaram a ascensão de Lula, e uma desconfiança em relação à classe política, comprometida periodicamente por escândalos de corrupção.
Nesse sentido é sintomático que durante as eleições parlamentares, que também ocorreram no domingo, o deputado com maior número de votos tenha sido, como previsto, um palhaço analfabeto, “Tiririca”. Ele obteve 1,3 milhão de votos.
A forte abstenção é também certamente fruto de uma melhora na qualidade de vida da maioria, que dispersa parte do eleitorado, menos motivado que antes para manifestar suas escolhas nas urnas. Aos abstencionistas, soma-se um alto índice de votos brancos e nulos: 9% dos registrados. No total, 27% dos registrados, ou seja, 34 milhões de eleitores, escolheram não escolher.
Boato sorrateiro
A principal conclusão desse primeiro turno foi o excelente desempenho de Marina Silva. Embora tenha sido eliminada da corrida, a candidata do Partido Verde, ex-ministra do Meio Ambiente no governo Lula, é a vencedora da votação. De um máximo de 10% das intenções de voto um mês atrás, ela dobrou sua pontuação.
Ela mirou longe, bem além da “minoria ecologicamente consciente”. Seduziu os jovens, uma minoria de intelectuais e os “boêmios” das cidades grandes, especialmente no Rio. Discípula da maior Igreja evangélica do Brasil, a Assembleia de Deus, também recebeu o apoio de cristãos evangélicos, que representariam 25% da população.
Há alguns dias, Rousseff teve de se defender de um boato sorrateiro que lhe atribuía a intenção de legalizar o aborto, proibido no Brasil. Para cortá-lo logo, ela organizou às pressas um encontro com dirigentes das Igrejas. Talvez esse caso tenha deixado rastros que a prejudicaram.
Marina Silva deve a maior parte de seu sucesso a ela mesma. Milhões de eleitores a viram como a candidata mais “autêntica”, a que trazia ideias novas, ainda que às vezes difíceis de serem aprovadas junto a uma maioria de brasileiros pouco instruídos.
A candidata ecologista denunciou a “infantilização” do eleitorado pelo governo, criticou a multiplicação de promessas feitas por seus adversários, que ela se absteve de atacar, e defendeu os valores próprios a um outro modelo de desenvolvimento.
Ela superou de forma brilhante suas deficiências iniciais: a falta de experiência e de unidade do Partido Verde, a fragilidade de seus meios financeiros e a brevidade de suas aparições na televisão. Sua atitude “moral” e sua determinação também reuniram um eleitorado que se recusava a dar um cheque em branco a “Dilma”.
Dilma Rousseff e José Serra já estão de olho na reserva de votos de Marina Silva. Esta quer que o possível apoio de seu partido seja decidido durante uma “reunião plenária” que associe “as forças vivas da sociedade”. Não é garantido que a maioria de seus eleitores vá votar em Dilma Rousseff no segundo turno. Apesar dessa incerteza, a candidata de Lula continua sendo a grande favorita.
Tradução: Lana Lim
Boato sorrateiro não, fato. Confira em http://www.youtube.com/watch?v=V2AENfY5JiA
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