sábado, 19 de fevereiro de 2011

Abarrotadas de incentivos fiscais e financiamentos do BNDES, as montadoras enviaram 4 bilhões de dólares às suas matrizes



Os números divulgados pelo Banco Central na última semana com relação aos fluxos recordes de investimento direto estrangeiro (IDE) em 2010 no montante de 48,4 bilhões de dólares (soma da entrada líquida de recursos externos na modalidade de participação em capital mais empréstimos intercompanhias) ensejaram comemorações no governo e no meio empresarial. Ao superar os volumes pré-crise internacional em 2008, de 45,1 bilhões de dólares, o Brasil consolida-se como importante receptor de investimento externo, atrás apenas da China entre as economias emergentes, superando, inclusive, algumas tradicionais economias avançadas e importantes receptoras de investimento. Para entender melhor a importância dos fluxos de IDE, eles foram suficientes para financiar o expressivo rombo nas contas correntes de 47,5 bilhões de dólares em 2010.

Mas os números também trouxeram preocupações entre os especialistas. A própria deterioração da conta corrente foi um dos principais destaques negativos, com a redução do superávit comercial e, principalmente, com a elevação das remessas de lucros e dividendos realizadas pelas empresas estrangeiras para suas matrizes. As remessas já haviam crescido de forma expressiva em 2008, no auge da crise internacional, quando atingiram o patamar de 33 bilhões de dólares, refletindo a estratégia das grandes corporações globais de transferir fluxos de caixas de suas filiais esparramadas mundo afora para suas matrizes com grandes dificuldades financeiras. Em 2009, embora as remessas tenham se reduzido para 25 bilhões de dólares, superaram a própria entrada de IDE. Em 2010, com a explicitação dos diferenciais de crescimento entre países desenvolvidos e emergentes, as remessas saltaram para 30 bilhões de dólares.

Diferentemente dos investimentos que se distribuíram de forma relativamente equilibrada entre as atividades extrativas, industriais e de serviços, as remessas estiveram fortemente concentradas em alguns setores industriais com forte presença de multinacionais, com especial destaque para o setor automotivo (montadoras e autopeças). As remessas das filiais automotivas para os debilitados caixas de suas matrizes atingiram a expressiva soma de 4 bilhões de dólares em 2010, o que representou um valor quase dez vezes maior que os investimentos externos realizados por essas filiais no mesmo período (450 milhões de dólares). Repete-se assim o movimento já observado durante e após a crise. Se considerarmos o período 2008-2010 as remessas de lucros e dividendos de empresas automotivas totalizaram 12,4 bilhões de dólares ante investimentos externos de apenas 3,6 bilhões de dólares, o que significa um saldo líquido negativo de 8,8 bilhões de dólares, em que pese o excelente desempenho das vendas e da produção na economia brasileira.

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