VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SÃO PAULO
É quase impossível achar quem preveja dificuldades graves para a economia do Brasil na década por vir
APESAR DOS AMARGOS embates entre governo e economistas, a única oposição realmente existente, é difícil encontrar quem preveja dificuldades graves para a economia brasileira na década por vir.
Um outro partido mais queixoso, o dos empresários industriais que se dizem prejudicados pelo câmbio e pela concorrência asiática desleal, parece ao menos em público menos magoado e ruidoso do que foi, por exemplo, em 2006, quando o câmbio também era desfavorável, mas a economia crescia menos.
Até os tradicionais lamentos sobre a taxa de juros baixaram de tom. Parece que as empresas faturam ou recebem subsídios públicos bastantes para acalmar os ânimos.
Não há sinal visível de inquietação social. As centrais sindicais fizeram os ruídos esperados sobre o salário mínimo, mas não foram além disso. O menor desemprego em talvez três décadas parece anestesiar o protesto trabalhista. Os suspeitos de sempre, os "movimentos sociais radicais", parecem afogados pela onda de benefícios sociais, empregos e salários maiores.
Já faz muito desconectados da sociedade, os partidos não sentem nenhuma "pressão das bases" que pudesse motivá-los a arrumar encrencas maiores com o governo. Desnorteados pelo sucesso do petismo e do Estado de Bem-Estar Tropical, os partidos de oposição se desmancham ou hibernam na sua mediocridade político-intelectual.
As equipes de pesquisa econômica dos maiores bancos, Itaú e Bradesco, preveem anos tranquilos para a economia mesmo no horizonte de uma década, apesar de uma ou outra queixa restante a respeito da mediocridade da gestão econômica. Os do Itaú chegam a prever crescimento de 4,5% até 2020.
Para um país que, no quarto de século anterior a Lula 2, crescia em torno de 2,5%, parece um progresso. Taxas de juros e de investimento, tamanho da dívida, carga de impostos não chegarão a níveis de mundo civilizado mesmo em 2020, a educação melhorará apenas devagar, a produtividade vai bem, mas declinará por falta de reformas. Mas nada disso ameaçaria os anos de mediocridade dourada por vir.
O barquinho brasileiro flutuará na alta constante da maré do preço das commodities e nos dinheiros do pré-sal, que ajudarão a financiar as nossas contas externas e, assim, atrairão o investidor estrangeiro.
A criação de um "mercado interno de massas", eterna pregação da esquerda e eterno motivo de piada da direita, reforçariam o interesse do investidor estrangeiro. Deficit externos elevados ajudarão a completar a nossa poupança insuficiente, mas não precisaríamos temer o risco de crises de financiamento externo, inédito na história do país.
Esse cenário favorável sustentará o real forte, o que, ao lado dos aumentos de custos de uma inflação ainda alta e da pressão comercial asiática, destruirá parte da indústria -mas parte dela será vitaminada ou salva pelo BNDES.
Mas haverá investimento na cadeia industrial do pré-sal, naquela agregada à produção de alimentos e biocombustíveis; a construção civil florescerá com as obras de infraestrutura de transportes e energia, pré-sal, Copa e Olimpíada.
Sabe-se lá qual será nosso futuro. Mas esse parece ser o consenso dos contentes, quase todo mundo, nesse início do segundo reinado petista.
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