O GLOBO
Nas pesquisas mundiais sobre a qualidade do ambiente para o fechamento de negócios e a própria administração do cotidiano de empresas, o Brasil se mantém em posições inferiores, incompatíveis com uma economia entre as dez maiores do planeta e que tenta dar sustentação a seu crescimento.
As dificuldades criadas pelo emaranhado da burocracia nacional atravancam todos, empresas e cidadãos. No caso dos negócios, o excesso de exigências e a lerdeza na tramitação de documentos nas repartições públicas são fator nada desprezível de aumento de custos, um problema a mais para a capacidade de competição de qualquer país no exterior.
Os efeitos nocivos da burocracia, uma das doenças brasileiras, são mais conhecidos na esfera empresarial, mas estão presentes em todos os quadrantes. Em entrevista ao GLOBO, publicada na terça-feira, a geneticista Lygia da Veiga Pereira chamou a atenção para uma das vítimas pouco conhecidas do mal: a pesquisa científica.
Do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), da equipe pioneira no Brasil na extração e multiplicação de células-tronco obtidas de embriões congeladas, Lygia considera os entraves burocráticos piores do que cortes no orçamento da área de ciência e tecnologia.
O trabalho nos laboratórios padece com a lerdeza burocrática nas importações, pois 90% do material usado nas pesquisas precisam vir de fora, relata a cientista. E, quando são feitas compras no país, paga-se três vezes mais, devido a uma outra doença pátria: o excesso de impostos.
Segundo Lygia da Veiga Pereira, enquanto nos Estados Unidos o reagente pedido pelo pesquisador é entregue no dia seguinte, no Brasil ele só chega 30 a 60 dias depois. Resultado: no mesmo tempo em que um laboratório americano faz cinco testes, o brasileiro realiza apenas um. Por óbvio, a produção do pesquisador americano é bem maior que a do brasileiro. Há casos de cobaias que morrem na alfândega pela demora no desembaraço da carga. Recém-chegado no Ministério de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante poderia incluir o tema na sua agenda. Não é concebível que inexista um sistema desburocratizado, na Receita Federal, para atender aos programas de pesquisa científica, área vital para um país candidato a potência emergente.
A burocracia, antiga conhecida dos brasileiros, com profundas raízes históricas no estado unitário da monarquia portuguesa, faz parte do que se convenciona chamar de "custo Brasil". Nesta rubrica também estão a infraestrutura de transporte e portuária, a alta carga tributária, deficiências na formação da mão de obra, etc.
Não se pode menosprezar a contribuição da burocracia, somada a elevados impostos, para a grande informalidade entre pequenas empresas e mesmo no mercado de trabalho. Toda vez que a vida de pessoas e empresas é facilitada pelo Estado, ganha a sociedade. No caso das pesquisas, os benefícios para todos são evidentes.
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