sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O SUS, na visão de seus usuários



Divulgada nesta quarta-feira, a nova edição do Sistema de Indicadores de Percepção Social (Sips) mostra que os brasileiros estão divididos com relação ao Sistema Único de Saúde (SUS). Em média, o SUS atende entre 120 milhões e 130 milhões de pessoas por ano.

Elaborada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que entrevistou 2.773 pessoas nas duas primeiras semanas de novembro de 2010, em todas as regiões do País, a pesquisa mostra que 28,5% dos brasileiros avaliam os serviços do SUS como ruins e muito ruins e que 28,9% os consideram bons e muito bons - os 42,6% restantes os classificam como regulares.

As pesquisas de percepção social ou satisfação do Ipea, em matéria de saúde, não são levantamentos técnicos dos problemas da administração pública. O objetivo é apenas ouvir a opinião dos entrevistados acerca da qualidade do atendimento dos centros e postos de saúde, das unidades de pronto atendimento e das internações nos hospitais vinculados ao SUS. As informações são utilizadas pelas autoridades de saúde para estudar as respostas que precisam ser dadas às principais queixas e aspirações da população, subsidiar as políticas do setor e ajudar na elaboração de novos programas.

Segundo o estudo, os postos de saúde e o atendimento de emergência receberam as avaliações mais negativas dos entrevistados. Entre as principais reclamações destacam-se a extensão das filas tanto nos centros de saúde quanto nos hospitais públicos, o tempo de espera para marcação e realização de exames clínicos, a demora entre o agendamento e a realização das consultas, a demora para uma consulta com especialistas e a carência de médicos especializados.

Já os serviços prestados pelas Equipes de Saúde da Família foram considerados bons ou muito bons por 80,7% dos entrevistados e o programa de distribuição gratuita de medicamentos de uso contínuo foi avaliado positivamente por 69,6%. A pesquisa do Ipea também mostra que quase metade dos entrevistados destacou como positiva a ausência de discriminações ou preconceitos de qualquer natureza por parte de médicos e enfermeiros nos atendimentos realizados em unidades do SUS.

Segundo o estudo, a demora no atendimento nos postos de saúde e nos hospitais é o motivo que levou metade dos entrevistados a contratar planos de saúde. A rapidez para a realização de consultas ou exames foi apontada por 40% dos entrevistados como decisiva para aderir à chamada saúde complementar. O segundo motivo mais apontado para se ter um plano de saúde privado é o fornecimento gratuito do benefício pelo empregador (29,9%). E entre os problemas relacionados a esses planos, as maiores reclamações são relativas ao preço das mensalidades e à falta de cobertura para algumas doenças e determinados procedimentos médicos. Cerca de um quinto dos entrevistados reclamou que os planos também não pagam tratamentos recomendados pelos médicos.

Para os especialistas, a opinião que a população tem dos serviços oferecidos pelo SUS reflete problemas sobejamente conhecidos, que há muito tempo deveriam ter sido tratados como prioritários pelo governo. Um desses problemas é a falta de ações de prevenção e promoção da saúde, para evitar que as pessoas cheguem a estágios avançados de doenças ou tenham de procurar diretamente os hospitais. "A atenção primária é ineficiente em relação ao aumento da população registrado nos últimos anos. Ela não se ampliou conforme a necessidade. Além de não ser suficiente, tem uma infraestrutura precária", diz a professora Helena Eri Shimizu, do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília. Outro problema, segundo o Conselho Federal de Medicina, é a falta de médicos das unidades do SUS nas regiões mais pobres - cerca de 50% dos profissionais da rede trabalham no Sudeste e apenas 7%, no Norte e no Nordeste.

Como se vê, o que a pesquisa do Ipea revela é que as autoridades do setor de saúde não têm tido a competência ou o empenho necessários para tomar as medidas há muito reclamadas pela população. 
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