sábado, 26 de fevereiro de 2011

Mandelbrot


ANTONIO DELFIM NETTO
FOLHA DE SÃO PAULO 

Morreu recentemente um grande matemático, Benoit Mandelbrot, inventor dos "fractais" (uma espécie de objeto em que cada parte reproduz exatamente o todo).

Se tivesse sido levado a sério pelos pequenos matemáticos e grandes economistas que tentaram construir uma "ciência econômico-financeira" copiada da física, provavelmente o mundo não teria vivido a crise de 2007-09. Ou seria ela menos intensa.

O fato realmente interessante é que os grandes economistas -mas pequenos matemáticos- julgavam que Mandelbrot era um "heterodoxo". Logo, não merecia atenção... 

Em 1962, ele fez uma análise estatística dos preços do algodão e verificou que eles não obedeciam às hipóteses geralmente aceitas pelos economistas que chamavam a si mesmos de "ortodoxos".

Ele concluiu que a distribuição dos preços, com relação a sua média (uma forma de entender a incerteza), poderia assumir formas diferentes das que sugeriam os construtores da economia financeira.

Isso parecia estranho porque, na natureza, o valor de muitas variáveis (altura e peso dos homens, erros de medida, por exemplo) tendem a se agrupar em torno da média, e a probabilidade de desvios em relação a ela diminui dramaticamente com o seu tamanho.

A explicação de Mandelbrot para o fato é que os preços em cada momento pareciam ter "memória" e os agentes (compradores e vendedores) interagiam influenciando-se reciprocamente (no entusiasmo ou na desconfiança).

A consequência desses argumentos é que a dinâmica dos preços nos mercados financeiros seria diferente da dinâmica nos mercados de bens (onde a procura diminui com o aumento dos preços).
Naqueles, uma "alta" dos preços pode aumentar a demanda e gerar novas "altas".

Uma "baixa" pode gerar novas "baixas", criando internamente tendências autônomas: uma espécie de "Maria vai com as outras" (comportamento de manada) que pode terminar numa "bolha".

Em larga medida, a crise do "subprime" foi uma manifestação concreta dos mecanismos sugeridos por Mandelbrot. Quando os preços dos imóveis caíram, eles explodiram uma "bolha" imobiliária que quase destruiu o sistema financeiro internacional.

À custa de acreditar nas hipóteses do mercado perfeito e nos "modelos" que controlavam os riscos, os bancos centrais reduziram as taxas de juros. Isso levou os agentes financeiros a aumentar a sua alavancagem a limites inimagináveis.

Quando a "bolha" explodiu, levou de roldão a credibilidade de grandes economistas -mas pequenos matemáticos- e deixou como herança o mundo em frangalhos...
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