José Pastore
O Estado de S. Paulo
Os salários na China vêm aumentando em ritmo meteórico. No setor industrial, o aumento médio em 2010 foi de aproximadamente 9%. Em muitas cidades, o salário mínimo subiu 20%. Em vários setores há falta de mão de obra.
Na nova conjuntura, os trabalhadores estão se tornando mais exigentes. Os sindicatos começam a flexionar seus músculos. Será que a conjugação da falta de mão de obra com uma maior pressão sindical criará uma nova realidade salarial na China? Isso afetará a competitividade das empresas chinesas?
A máquina sindical do país é bastante complexa. No nível mais alto, está a Confederação Nacional dos Sindicatos Chineses, com mais de 200 milhões de filiados e operando como uma simples correia de transmissão do governo central com o objetivo de levar adiante os programas do Partido Comunista. Seus recursos são imensos, pois provêm de 2% da gigantesca folha salarial da China. Pela via da distribuição do numerário para entidades regionais e locais, essa confederação exerce forte controle da base sindical do país.
Mas essa situação está mudando. As federações e os sindicatos regionais e locais começam a ganhar independência. A redução do número de empresas estatais e o aumento das privadas (ou mistas) estão estimulando os sindicatos a falar mais alto.
Mudanças expressivas estão ocorrendo nos sindicatos ligados às multinacionais. Foram eles que deflagraram as greves no setor automobilístico em 2010 e que forçaram as empresas a conceder aumentos salariais expressivos - em alguns casos (Honda) de até 30%.
Estaria aí a semente que vai minar a competitividade das empresas chinesas, que sempre contaram com a vantagem do trabalho barato?
A pressão do mercado e dos sindicatos no campo salarial não deve ser superestimada por três razões. Em primeiro lugar, porque, apesar dos expressivos aumentos, as diferenças entre os salários da China e do resto do mundo desenvolvido ou emergente continuam brutais. Um operário chinês ganha 20 vezes menos do que seu colega americano ou europeu e sete vezes menos do que o brasileiro. E as despesas de contratação para as empresas chinesas são reduzidíssimas. A previdência social ainda é um luxo e, na maioria dos casos, as empresas nada pagam nesse campo.
Em segundo lugar, é bom considerar que, apesar dos movimentos recentes, a grande maioria dos sindicatos ainda vive num sistema de cooptação. As empresas usam as entidades sindicais para levantar a moral dos trabalhadores e avançar nos programas de qualidade e produtividade. Muitas empresas apoiam os sindicatos com programas assistencialistas que agradam aos operários e arrefecem os movimentos de reivindicação. Em muitos casos, os chefes fazem isso da diretoria dos sindicatos. A literatura cita exemplos em que o diretor financeiro da empresa é o presidente do sindicato (Mingwei Lu, Union Organizing in China: Still a Monolithic Labor Movement?, Industrial and Labor Relations Review, outubro de 2010).
Em terceiro lugar, e mais importante, está o fato de que a produtividade do trabalho tem aumentado muito mais do que o salário na maioria das indústrias chinesas. Ou seja, apesar dos recentes aumentos, o custo unitário do trabalho está diminuindo e a competitividade, aumentando.
O que isso tem que ver com o Brasil? Ao lado de tudo isso, é inegável que o poder de compra da grande maioria dos chineses está aumentando rapidamente. Forma-se naquele gigante uma classe média colossal e que já é o maior mercado consumidor do mundo. Trata-se de uma excelente janela de oportunidades para os países que têm o que vender para a China.
No caso do Brasil, as vantagens comparativas têm se limitado às exportações de commodities. Para avançar no campo das manufaturas, temos de superar os conhecidos desafios da modernização da infraestrutura, reduzir o custo Brasil e melhorar a produtividade do trabalho - um substancial salto na qualidade da educação.
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário