domingo, 20 de fevereiro de 2011

Sarkozy quer intervenção

CELSO MING 

O Estado de S.Paulo 

Sexta e sábado os ministros de Finanças e presidentes dos bancos centrais do Grupo dos 20 (G-20) estarão reunidos em Paris para a segunda reunião preparatória para mudanças na ordem econômica mundial.

Em novembro, a França passou a exercer a presidência rotativa do G-20 e a decisão foi colocar em pauta e, em seguida, em votação propostas altamente polêmicas, como decisões para reduzir os desequilíbrios mundiais, o controle dos preços das commodities, do fluxo de capitais e a criação de uma taxa global sobre as transferências de capital. A falta de perspectiva de acordo não é motivo para redução da mobilização em torno desses programas. Há duas semanas, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Tim Geithner, desembarcou em Brasília com o objetivo de coordenar posições conjuntas entre Estados Unidos e Brasil no G-20. O governo Barack Obama parece temer o excessivo intervencionismo do presidente da França e, em parte, o governo Dilma também quer evitar manobras que prejudiquem os interesses do País.

Uma das ideias de Sarkozy é arrancar mecanismos que passem a controlar a produção de commodities agrícolas de maneira a evitar a elevação dos preços. Ele parte do princípio de que esse mercado é manipulado pelos especuladores, que hoje têm mais bala do que os próprios Estados soberanos para impor os preços e, assim, provocar insegurança.

Estados Unidos e Brasil já se manifestaram contra intervenções no mercado de alimentos, sob o argumento de que, se for bem-sucedido no curto prazo, acabará prejudicando a produção e provocará ainda mais escassez no longo prazo.

A outra proposta é um tanto vaga, mas provavelmente ainda mais intervencionista. Quer identificar os grandes desequilíbrios e definir instrumentos de controle. Esses desequilíbrios podem ser as grandes diferenças entre saldos em contas correntes (cuja maior expressão é o rombo dos Estados Unidos e o grande superávit da China); os sistemas nacionais de poupança e dívidas soberanas (enormes rombos orçamentários, de um lado, como o dos Estados Unidos e da União Europeia, e enormes reservas, de outro, como as da China e do Japão); e o elevado fluxo de capitais. Por enquanto, não há acordo nem mesmo na definição do que sejam os principais desequilíbrios globais.

Sarkozy também embala uma velha proposta da social-democracia europeia, que é a imposição de uma taxa sobre fluxos financeiros internacionais. A ideia original foi do economista James Tobin, que, em 1972, sugeriu a criação de um imposto nos negócios de câmbio que logo ficou conhecida como Taxa Tobin, com o objetivo de coibir a especulação financeira. Para ele, o resultado da arrecadação seria usado no financiamento do desenvolvimento dos países pobres.

Sarkozy parece interessado mais na arrecadação do que na regulação dos mercados financeiros propriamente dita. E é com esse especial apelo que parece pretender arrancar a aprovação dos dirigentes globais: quase todos eles enfrentam uma enorme secura de recursos fiscais, num mundo fortemente atolado nos déficits orçamentários e nas dívidas soberanas, e poderiam finalmente concordar com a adoção da novidade.

O principal problema para Sarkozy é a perda do melhor momento para essas intervenções. Mal ou bem, a crise vai sendo superada e já não há mais a mesma urgência em encontrar saídas.
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