Miriam Leitão
O Globo
De 15 acordos estratégicos firmados entre Brasil e Venezuela, em 2005, apenas ficou de pé a refinaria Abreu e Lima. Mas não muito de pé. Com 30% das obras em andamento, a Petrobras terá que tocar sozinha o projeto caso a PDVSA não dê as garantias de financiamento. A alta de 9,9% do consumo de derivados em 2010 é uma das razões dadas pela empresa para a construção de refinarias no país.
A Petrobras importou diesel da Índia. Esse foi um dos motivos do quase déficit comercial do Brasil com a Ásia. A balança comercial da empresa ficou negativa no ano passado. As ações fecharam o ano com que da forte, de 24,3%. Uma das razões é a percepção do mercado de que há uso político da empresa. Na companhia, os diretores têm explicações para as decisões.
A comitiva brasileira que foi à Venezuela em 2005, com a presidente Dilma Rousseff à frente da pasta de Minas e Energia, assinou 15 acordos; 14 deles com a Petrobras. Treze já foram descartados. O que começou, a Refinaria Abreu e Lima, pode ser feito só pela estatal brasileira. Seu preço já subiu várias vezes e está em US$ 13,36 bilhões, bem acima do custo de uma refinaria normal. A explicação da empresa é que ela terá que processar dois tipos de óleo: o brasileiro, mais pesado, e o venezuelano, mais leve.
O diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, argumenta que o projeto foi iniciado antes das descobertas do pré-sal, quando o Brasil era mais dependente das reservas de petróleo de outros países, e antes também da crise financeira de 2008, que atingiu em cheio a economia venezuelana. Na visão dele, a parceria estratégica com a PDVSA, em 2005, fazia mais sentido:
— Na época, não havia pré-sal, então a PDVSA era uma parceira estratégica, pelas reservas que tinha. Ela era inclusive muito maior que a Petrobras. Uma obra como a refinaria Abreu e Lima é para sete anos, não dava para saber em 2005 que haveria o pré-sal. Não sei se eles vão entrar, isso não está nas nossas mãos. Depende do que for acertado entre BNDES e PDVSA. Eles têm que conseguir financiar 40% de US$ 9,5 bilhões desta etapa do projeto, até agosto. Se a PDVSA sair, faremos a obra sozinhos e teremos uma economia de US$ 300 milhões. Já temos 30% da obra em andamento, não dá mais para mudar o projeto — explicou o diretor.
Paulo Roberto Costa justifica a construção de mais cinco refinarias no país. Segundo o diretor, elas são necessárias pelo crescimento do PIB e do consumo interno de derivados, que em 2010 foi de 9,9%. Além disso, diz que desde 1980 não há construção de novas refinarias e que o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) das que existem está em 92%.
— Desde 1980 não fazemos investimento em novas refinarias. O que poderia ser feito para modernização e ampliação das existentes já aconteceu. Em 1980, tínhamos capacidade de refino de 1,3 milhão de barris. Hoje, temos 1,9 milhão. Elas já estão operando com capacidade muito acima do limite. Temos 12 refinarias e outras 5 em construção. Já não temos mais a capacidade de atender ao mercado interno — disse.
No mercado, o principal questionamento é o número de novas refinarias e suas localizações. Técnicos afirmam que apenas um novo projeto seria suficiente para atender ao aumento da demanda no país. Acham que as unidades deveriam ser construídas perto dos centros consumidores. Três delas serão no Nordeste, onde estão apenas 30% do consumo nacional. Paulo Roberto Costa discorda e diz que o ritmo de crescimento do consumo no Nordeste é maior que no Sudeste. Além disso, explica que a região facilita a exportação de derivados para a Europa e também a logística interna:
— A refinaria no Maranhão vai atender ao Centro Oeste. Hoje, temos que levar óleo diesel de oleoduto, de Campinas a Brasília, e depois de caminhão até as cidades do Centro Oeste. Isso não é um bom negócio. Está crescendo muito a produção de grãos e os tratores consomem muito diesel na região. A refinaria do Maranhão vai atender a esse mercado pela ferrovia Norte-Sul, que leva minério de ferro aos portos e volta praticamente vazia. Voltará com diesel. A refinaria do Ceará é o lugar mais próximo para exportar para a Europa. Deve ficar pronta em 2018, mas do jeito que o consumo interno está crescendo, pode ser que os derivados sejam consumidos no próprio Brasil.
O aumento da importação de derivados contribuiu para o déficit comercial da Petrobras em 2010, que, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, ficou em US$ 1,4 bilhão, com US$ 19,6 bilhões de importações, recorde do país no ano, e US$ 18,2 bilhões de exportações. O que mais pesou foi a importação de gás natural, que, segundo a diretora de Gás e Energia da Petrobras, Graça Foster, saiu de 23 milhões de m3 por dia, em 2009, para 34 milhões, em 2010, 46% a mais. A empresa espera importar 26% menos gás este ano com o início da operação do pólo Caraguatatuba, que até o final do ano deve produzir 13 milhões de m3 de gás.
— O mercado ficou muito aquecido com a economia em 2010. Importamos US$ 3,4 bilhões de gás no ano passado, sendo US$ 2,4 bilhões da Bolívia. Com a entrada do pólo Caraguatatuba, vamos importar menos gás. Mas depende muito de como será o consumo de energia no país e também da quantidade de água nos reservatórios, que se estiverem baixos podem obrigar o acionamento das termelétricas, aumentando o consumo de gás natural — afirmou Graça Foster.
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