terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Estadistas e Tamboretes. Sobre a incrível arte de se esconder um elefante atrás de uma bananeira.

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Com o tempo e a idade cheguei a conclusão que os órgãos de imprensa são os olhos e ouvidos de uma sociedade. Claro está que tal premissa acomoda-se em um Estado Democrático de Direito, onde a sociedade atua de fato e não fica passiva e alheia à dinâmica real dos eventos quando manipulados ou não pela mídia. Quando esta não consegue cumprir o papel de esclarecer dificilmente conseguimos chegar a uma conclusão sensata sobre qualquer evento social.

Neste intuito, busca-se no caso de Honduras, encontrar uma coerência em meio a repetições de argumentos acerca de golpes brancos, militares, ou “pode ser considerado...”, governo de facto e, por fim, governo interino numa clara relativização do ordenamento jurídico de um país que cumpre, à risca, seus preceitos constitucionais.

Começo a buscar a gênese desse peculiar comportamento da mídia latina nos últimos anos quando observamos que em, pelo menos, quatro países da América Latina a restrição ao trabalho da mídia tem variado de franca oposição a outros instrumentos mais sutis. Ressalto a forma sutil, subliminar e até elegante como, por intermédio de patrocínio governamentais ou de empresas ligadas ao governo, o controle da linha editorial de jornais impressos e televisivos se dá ao ponto de se transformar o quadrado no redondo por via de gotas homeopáticas em tortura chinesa.

Relembro uma entrevista do Prof Mangabeira Unger, nosso ex-ministro e emérito professor de Harvard, quando em franco acesso em visibilidade nacional antes de ser contratado para ser mentor intelectual do candidato Ciro Gomes, nos idos de 2002, ressaltava que tais práticas eram e continuavam a ser consuetudinárias em nosso país. Naquela reportagem ele dizia claramente que as oligarquias e o poder controlavam o que os jornais diziam.

Que outra postura justificaria, então, o posicionamento de nossa mídia no caso de Honduras que denominarei de “Fator Honduras” que será um marco no entendimento da dinâmica entre relações institucionais domésticas e internacionais no atual governo.

Olhando sob a ótica objetiva comercial a sociedade hondurenha contratou, via voto (falando-se do elemento mais simples do processo eleitoral que, por si só na época, poderia ser questionado) um presidente para, como Estadista e não chefe de partido ou preposto de doutrina neo-bolivariana, promover o desenvolvimento social e econômico, de forma sustentável e perene, do segundo país mais pobre do Hemisfério Ocidental (a denominação foi dada pela OEA e não por mim). Tudo neste contrato de prestação de serviço se deu e se daria à luz da Constituição Hondurenha.
Por certo, ao encontrar dificuldades em cumprir o prometido no programa de governo, o contratado passou a integrar foros internacionais que não lhes dizia respeito e, à revelia de uma autorização sólida e majoritária daquele Congresso e suas demais instituições democráticas, consubstanciou a integração. O caso em questão foi a adesão do país à ALBA (Alternativa Bolivariana para as Américas).

Não bastasse tal pressão sobre a normalidade das relações internacionais o contratado resolveu assumir sua simpatia por um neo-democrático ditador bolivariano. Apesar de assessoria promovida até mesmo por seu partido, preferiu acionar os meios jurídicos após uma negada tentativa de medida provisória para se perpetuar no poder. O resultado foi o que agora vemos.

A pergunta que me fiz foi a de como que o principal cliente dos produtos de exportação hondurenhos (café e bananas – apesar de serem mais baratos na Ásia e África) os EUA, além de outros maciços empreendimentos no país, deixou tudo isso acontecer. Estimo que Bush tão preocupado em não prejudicar a campanha do senador republicano MacCain e de esquivar-se de sapatos voadores deve ter pensado: “Já que eles são contumazes na tendência de autofagia democrática, que se danem”. Se ele assim pensou acertou.

Prosseguindo o raciocínio comercial, a sociedade por intermédio de suas instituições democráticas usou seu “código de defesa do consumidor” para trocar o contratado. Simples assim. Por intermédio da mesma postura madura e democrática, exigiram e o novo presidente, de pronto, acordou e marcou novas eleições para o fim de novembro, dentro dos prazos legais e dando tempo de sobra para que, inclusive, o partido (a empresa) do contratado apresentasse outro profissional apto a se alçar estadista. Estava, então, configurado para o mundo e para os seres normais, que não haveria supressão de direitos democráticos da Nação. O curioso é que o substituto do deposto era de mesmo alinhamento partidário e estava ganhando terreno paulatinamente. Aí se configura, para mim, o “Fator Honduras”. Forçar um ilegal em cenário de regularidade legislativa e ter amplos e numerosos setores da mídia e diplomacia apoiando. Claro está que por ser uma análise livre deverá ser enriquecida de densas pesquisas científicas no campo das relações internacionais. O que se verifica, todavia, é uma escandalosa distorção dos fatos, inclusive por parte de nossa mídia.

Por não encontrar coerência em uma simples análise de causa e efeito ao ler nossos periódicos que insistem em rotular o affair como “golpe”, busquei, graças à Internet, periódicos no mundo (países onde a sociedade é mais madura e cobra mais de seus meios de comunicação) e descobri elementos de análise muito distintos dos usados por nossos veículos domésticos.

Alguns fatos curiosos. Por intermédio do líder bolivariano movimentos proscritos salvadorenhos receberam o deposto de um avião venezuelano, migraram para as fronteiras hondurenhas sob a proteção de gangues e simpatizantes de narco-terroristas e sob a tutela daqueles criminosos transitaram por montanhas, selvas e vias vicinais para fugir de patrulhas até chegar em Tegucigalpa. Tal operação requereu uma sofisticada articulação logística internacional que, candidamente, foi atribuída a “militares simpatizantes”.

Os níveis de aprovação e de credibilidade demonstrados no censo social internacional promovido pelo Latino Barômetro, com sede no Chile, deixam claro o motivo da escolha da Embaixada Brasileira e não a venezuelana. Nosso líder tem a primazia da credibilidade entre os países pesquisados. Alojado em nossa embaixada e em condição não definida em nenhum compêndio diplomático internacional, o deposto se aboletou e está incitando a sociedade à desobediência civil. Nosso líder ao definir sua posição, montado em sua popularidade internacional, promove a legalidade necessária ao imbróglio.

Sua capacidade de distorcer o entendimento das deliberações da diplomacia internacional no fator Honduras é, de fato, notável. Sua recente tranqüilidade ao discursar na ONU pedindo ao principal cliente dos produtos de exportação hondurenhos que estrangulasse aquela economia via embargo comercial, ao mesmo tempo que pedia o fim das muralhas comerciais contra Cuba por si só já sinaliza que o fator Honduras será o mais importante fenômeno de percepção do equilíbrio de política regional nos próximos vinte anos.

A questão de não se obedecer à auto-determinação da sociedade hondurenha e declarar que as eleições de novembro próximo são ilegítimas é algo de impressionante. Por que se insistir no deposto se o próprio partido apresentou alternativa à altura da substituição? A refinada e exitosa arte de se ocultar um elefante atrás de uma bananeira torna, inexoravelmente, nosso líder um franco candidato ao Nobel da Paz.

Pelo que li na mídia internacional o movimento econômico europeu dá a entender uma certa perplexidade não só do excesso de reservas no assunto por parte dos EUA, bem como o franco e recorrente avanço da doutrina neo-bolivariana em países importantes da AL.

Particularmente temo que, sob orquestração chavista, um novo “Chambioá” seja plantado na América Central. O polígono marítimo formado entre as zonas exclusivas de exploração comercial da Venezuela, Nicarágua, Honduras e Cuba estreita, sobremaneira, o corredor de faixa internacional no Mar do Caribe, principalmente na zona de convergência para a travessia do Canal do Panamá, hoje sob administração chinesa. Pode ser ilação pura, todavia conheci de perto os países El Salvador, Honduras, Haiti e República Dominicana e vi que os denominados crimes transnacionais são fato objetivo e depauperam, substancialmente, qualquer tentativa de desenvolvimento sustentável daquela região. Também todos são suscetíveis aos desastres naturais (tornados, furacões e maremotos) que esculhambam todo e qualquer planejamento de desenvolvimento agropastorial em suas economias. Eles vivem no eterno pesadelo de andar na beira de um abismo social e econômico e agora, os chavistas e nós (porque assim estamos representados) ameaçamos dar um empurrãozinho em nome do novo socialismo bolivariano. O que se apresenta para os próximos anos são conflitos regionais de densidade e de amplitude internacional dado o vulto dos países envolvidos. Basta imaginar a enorme quantidade de navios europeus e americanos que cruzam o Canal do Panamá com destino ao mercado do Pacífico.

Ante o tal estapafúrdio e dantesco cenário recordo-me do esforço nos últimos governos de parecermos, ao menos, uma sociedade madura com estadistas em nosso leme em busca de um assento no Conselho de Segurança da ONU. Ledo engano, pela condução desse evento diplomático não seremos nem um nem outro, o máximo que conseguiremos com tal postura é um tamborete na segunda fila.

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