FOLHA DE S. PAULO
Apesar de certa histeria com alta do crédito para imóveis e veículos, parece muito remota a hipótese de bolha
O crédito no Brasil cresce à taxa de 20% ao ano. Quase nada cresce a 20% ao ano -com exceção de cogumelos depois da chuva e das cidades-fantasmas da especulação imobiliária chinesa. O estoque de crédito no Brasil, além do mais, cresce ao quíntuplo do ritmo médio da economia nos últimos oito anos, quando o PIB avançou, em média, 4% ao ano. Apenas nos últimos 12 meses, o crédito para habitação subiu 54%; o para veículos, 48% (afora operações de leasing, que vêm murchando desde julho de 2009).
Essas disparidades suscitam conversas sobre bolha, em particular nos mercados imobiliário e de veículos. As definições de bolha são um tanto controversas ou imprecisas. Mas nem todo excesso financeiro é bem uma bolha, que tem consequências mais graves do que ondas de inadimplência derivadas de uma demasia de empréstimos.
Mas quão importantes em relação ao PIB são ou ficaram os financiamentos para imóveis e veículos?
O estoque de crédito para habitação, segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central, relativos a novembro, equivale a 3,7% do PIB, mais ou menos um terço do registrado em países como Chile e México -um nada, pois. Os executivos do setor imobiliário de bancos privados, da Caixa Econômica Federal e de associações do setor vêm dizendo que o crédito para imóveis pode ir, sem problemas e rapidamente, para 10% do PIB em quatro anos.
Além de pequeno, o crédito imobiliário no Brasil é conservador. Aqui, as entradas do financiamento imobiliário são grandes, muito acima da média de países comparáveis, assim como a inadimplência é bem inferior (até devido ao fato de o comprador do imóvel já ter comprometido muita renda na entrada do financiamento). A participação de instrumentos financeiros mais complexos no financiamento ou no refinanciamento imobiliário é minúscula.
Nosso mercado, nesse aspecto, ainda é tão primitivo que limita o aparecimento de bolhas.
No caso da compra de veículos, a situação é mesmo algo mais enrolada, pelos motivos sabidos. Há financiamentos longuíssimos para um bem que perde um terço do valor em um ano, que dirá em quatro ou cinco. Logo, em caso de inadimplência o credor recupera parte muito pequena da dívida se retomar e vender o "colateral", a garantia, o próprio bem. Enfim, o BC acaba de dar um jeito de evitar eventuais excessos perigosos, com medidas que induzem a limitação de prazos de financiamento e/ou o encarecem.
Isso não significa desprezar o fato de que, por exemplo, o crédito para pessoas físicas crescia ainda rápido demais em novembro. Porém, isso tem mais cara de problema macroeconômico do que de bolha.
Evidentemente, uma parada súbita e catastrófica da economia pode encardir o balanço dos bancos. Porém, a economia e os bancos passaram bem nesse teste, na crise de 2009. O grande problema financeiro daquele ano foram os derivativos cambiais, uma farra incompetente promovida por grandes empresas em conluio com bancos estrangeiros, em operações não reguladas.
No que há de mais visível, o crédito bancário, as coisas parecem bem administradas. Mas aparentemente ainda resiste no país um medo do crescimento econômico, temor que se manifesta em especial quando pessoas comuns vão às compras.
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