quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

DESAFIO EXTERNO

FOLHA DE S. PAULO


O comércio exterior é uma das áreas que demandará especial atenção do próximo governo. O fraco crescimento das exportações não resulta apenas do câmbio valorizado. Há outros problemas graves de custo, logística e impostos que oneram os exportadores e contribuem para o crescente deficit das contas externas.

Para 2011 o BC espera um saldo negativo nas transações correntes de US$ 64 bilhões -e são comuns no setor privado projeções de até US$ 80 bilhões (3,8% do PIB).

O governo recentemente anunciou medidas para facilitar a vida dos exportadores, como dar mais celeridade às devoluções de créditos tributários, conceder vantagens fiscais a pequenos e médios produtores e criar uma nova instituição de fomento -uma subsidiária do BNDES que se encarregaria de financiar exportações.

São no entanto iniciativas tímidas quando se tem em mente a dimensão dos obstáculos que as empresas enfrentam com o chamado custo Brasil. Muito deixou de ser feito pelo atual governo nesse terreno. Nada se avançou na reforma tributária e pouco se incentivou a inovação industrial. Há toda uma agenda microeconômica a ser cumprida e permanecem em cena as carências de infraestrutura.

Tais problemas, associados às dificuldades cambiais, servem de desestímulo à competitividade das exportações. O cenário por ora é "administrável", mas deixará de sê-lo caso não se tomem as providências necessárias.

Se é verdade que os investimentos diretos provenientes do exterior têm cumprido a função de cobrir o deficit, a perspectiva de retomada de crescimento dos EUA no ano que vem poderá reduzir a disponibilidade de recursos.

O Brasil terá nos próximos anos que expandir as exportações de bens industriais, incorporando tecnologia de ponta -ou poderá assistir ao agravamento de desequilíbrios que já caminham para níveis preocupantes.
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