quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Energia cara



GEORGE VIDOR
O GLOBO 

Mantida a atual tendência, dentro de quatro anos a energia elétrica estará 30% mais cara para as indústrias, segundo estudo encomendado à FGV Projetos (Fundação Getulio Vargas), por associações de empresas que são grandes consumidoras de eletricidade. O custo da energia dobrou nos últimos dez anos para a indústria e certamente isso vem pondo em risco a cadeia produtiva.

A produção de alumínio primário parou de crescer no Brasil. A de vidros está ameaçada, assim como a de ferro ligas, de produtos químicos e siderúrgicos.

O estudo da FGV Projetos sugere vários caminhos para se evitar o encarecimento da energia elétrica, reduzindo-se, por exemplo, as perdas em dois pontos percentuais entre a eletricidade que é gerada e a faturada junto aos consumidores. Mudanças na tributação e eliminação de encargos também teriam enorme efeito sobre os preços da energia. Para se ter uma ideia, de cada R$1 a menos nesses encargos, produz-se mais R$8,36 na economia, com benefícios para todos.

Se o encarecimento da energia for evitado, a economia brasileira cresceria um ponto percentual a mais nos próximos dez anos (o que seria equivalente a uma Argentina). As exportações cresceriam mais 0,91 ponto percentual e as importações menos 0,58 ponto percentual ao ano, contribuindo para melhorar o resultado esperado para a balança comercial do país.

O estudo aqui citado em breve estará disponível no site da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e Consumidores Livres (www.abrace.org.br).

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Meu colega André Trigueiro, da Globonews, cobra-me quase que diariamente uma posição sobre o que ocorreu com a ThyssenKrupp, a mais nova siderúrgica do país, localizada na extremidade do município do Rio, em Santa Cruz. Em agosto, logo que o primeiro forno foi ligado, uma poeira de grafite perturbou moradores das vizinhanças e trouxe, principalmente, preocupações. Como acompanhei a instalação do projeto - por sua importância para o país e, em especial, para a própria região, ameaçada de degradação, tal qual ocorrera anteriormente no entorno do Complexo do Alemão - senti uma certa frustração com tal impacto ambiental negativo já na largada do empreendimento.

Depois que a poeira baixou, literalmente, busquei explicações para o que aconteceu e indaguei sobre os riscos de o problema voltar a ocorrer.

Apesar de todo o incômodo causado pela poeira à vizinhança da CSA, foi um alívio saber que não houve risco à saúde nem dos trabalhadores, nem dos moradores. As partículas não eram tóxicas, mas sim de material inerte (grafite semelhante ao existente nos lápis). A CSA declarou que foi uma situação atípica, que dificilmente se repetirá. O ferro gusa produzido no alto forno é imediatamente utilizado na fabricação de aço. Em agosto, quando o problema ocorreu, a aciaria não estava em operação, e o equipamento alternativo (um laminador) não funcionou como o planejado. O gusa foi depositado em área prevista para situações de emergência. O clima seco de agosto e fortes ventos na região contribuíram para espalhar a poeira de grafite originada do gusa depositado a céu aberto.

A qualidade do ar em volta da siderúrgica é acompanhada em tempo real pela empresa e pelo Inea, o órgão de controle ambiental do Estado do Rio. Felizmente, mesmo no momento mais crítico, a qualidade não chegou a ser inadequada. Os indicadores se mantiveram bons (na maioria dos dias) ou regulares.

O segundo alto forno estava pronto para ser ligado e evidentemente surgiu a preocupação de que o problema poderia se repetir. No funcionamento de qualquer indústria - ainda mais do porte de uma siderúrgica como a CSA, com capacidade para produzir 5,3 milhões de toneladas de aço por ano - nem tudo é previsível quando equipamentos gigantes começam a operar. A Lei de Murphy aconteceu no caso do alto forno número 1, e tudo que poderia dar errado deu, sem, no entanto, pôr em risco à saúde das pessoas. O alto forno número 2 entrou em pré-operação numa situação diferente, com o ferro gusa sendo aproveitado de imediato na aciaria (com exceção das primeiras partidas, que saem do alto forno com elevado percentual de escória). Na eventualidade de uma emergência, jatos de água deixariam o gusa depositado em céu aberto úmido o suficiente para se evitar partículas em suspensão (poeira).

Por causa do erro cometido, buscou-se uma solução. Indústrias vizinhas a áreas urbanas devem sempre redobrar suas atenções para evitar qualquer acidente ambiental, e o que ocorreu na CSA serve de lição para que essa máxima não seja esquecida.

O investimento feito pela ThyssenKrupp e Vale na CSA (quase R$15 bilhões) já teve um enorme impacto econômico e social no Rio de Janeiro. Viabilizar tal investimento não foi fácil e isso exigiu boa vontade dos empresários, das autoridades e dos moradores da região de Santa Cruz e Itaguaí. Isso não desobriga a CSA de cumprir a legislação ambiental. Cabe aos órgãos de controle ambiental zelar por essa obrigatoriedade.

No entanto, estava sendo armado um "circo" em torno da pré-operação do alto forno 2. O governador Sergio Cabral agiu corretamente ao autorizar que o alto forno fosse aceso (e evidentemente que tomou conhecimento prévio das precauções que haviam sido tomadas).

A CSA está entre os empreendimentos que ajudaram o Rio a inverter a espiral negativa que levava a cidade (e o estado ) cada vez mais para baixo. Não deve ser vista como um estorvo, nem com uma visão preconceituosa contra indústrias, embora sustentabilidade e questão ambiental precisem ser temas relevantes (e até mesmo decisivas) na formulação de qualquer empreendimento do setor.
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