sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Montadora e siderúrgica

JORNAL DO COMMERCIO (PE)


O anúncio oficial da vinda para Pernambuco de uma montadora da Fiat e de uma usina siderúrgica coroa o fim de um mandato bem sucedido – e assim mostraram as urnas em outubro – e prenuncia o começo de um segundo mandato mais promissor ainda. Bom para todos os pernambucanos. Principalmente porque faz parte de um conjunto estruturalmente bem concebido e materializado, e de uma administração estadual inteiramente sintonizada com a administração federal, quando a relação quase sempre é inamistosa, para não dizer conflituosa. E, todos sabemos, nenhum governador pode trabalhar – em tempos bons ou ruins – sem aproximação com o governo federal. No caso de Pernambuco, tudo tem estado muito bem com a administração que sai e, ao que tudo indica, com a que se inicia em janeiro. 

Dois modelos recentes mostram muito bem o que a sintonia faz, ou sua ausência deixa de fazer: na administração do avô do atual governador, havia mais rusgas que manifestações de identificação política, amizade ou aproximação dos estilos administrativos. Arraes chocou-se com Sarney quando os tempos eram ruins para todos. Em alguns momentos, a necessidade política nacional levava o governador a atenuar o descompasso, noutros, a salientar as profundas diferenças. No geral, faltava o fundamental: a mesma linguagem e os mesmos propósitos.

Com Jarbas Vasconcelos, o tempo começou a mudar para o Brasil e para Pernambuco. Melhoraram um pouco as condições gerais e havia sintonia fina entre o governador e o presidente Fernando Henrique Cardoso. Assim foi possível avançar um pouco mais e o balanço apontava – repetimos – nesta direção: nenhum governador pode trabalhar – em tempos bons ou ruins – sem aproximação com o governo federal. Nem o do todo poderoso Estado de São Paulo, contrariando o que deveria ser a concepção federativa.

Com Eduardo Campos, estamos vendo uma combinação virtuosa pouco comum em nossa história: à competência do governante estadual se alia a generosa acolhida do governante federal. Generosa e imperativa, ressalte-se, porque todo e qualquer apoio que se dê ou venha a ser dado a Pernambuco ou qualquer outro Estado nordestino representa o resgate de uma dívida do governo central para com a periferia. Os desníveis interregionais se aprofundaram por toda a república e somente agora recebem o que deveria ser óbvio: um pouco de tratamento desigual para desiguais.

Graças a essa nova postura para com a região é que estamos testemunhando um momento histórico, em que será possível a Pernambuco e ao Nordeste crescerem de tal forma a atrair boa parte da mão de obra que fugiu da seca e da miséria, como o próprio presidente Lula, que deixou Caetés, distrito de Garanhuns, no começo dos anos 50, para não morrer de fome. Esse é um fato histórico que não pode ser deixado de lado, esquecido, enquanto persistirem indicadores sociais que colocam nossa região sempre num nível de inferioridade. Assim é que a notícia de mais esses grandes empreendimentos para Pernambuco não poderia ser mais alentadora, fechando um ano que foi muito bom para a economia do Estado. As duas indústrias juntas vão representar investimentos estimados em R$ 4,5 bilhões, com capacidade de gerar mais de cinco mil empregos no Estado. Qualquer grande unidade da federação se contentaria com essa notícia e dela devemos tirar o melhor do nosso entusiasmo, fazendo coro a uma postura – o orgulho de ser nordestino – que nos leva à auto-estima e à capacidade de mostrar aos separatistas que um dia também eles poderão olhar para o Nordeste como algo mais que uma praia de veraneio.

A montadora e a siderúrgica anunciadas são emblemáticas. Elas apontam para um novo capítulo da nossa história – de Pernambuco e do Nordeste –, pois já está largamente comprovado que onde se instalam empreendimentos de grande porte e capilaridade mudam o perfil econômico e, consequentemente, as condições materiais para melhorar a qualidade de vida geral da população. 
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