terça-feira, 28 de dezembro de 2010

ENGARRAFAMENTO À FRENTE

FOLHA DE S. PAULO

É consternadora, ainda que não surpreendente, a conclusão de estudo da consultoria Economist Intelligence Unit sobre transportes. Dez das maiores economias do mundo foram comparadas: quatro desenvolvidas (Alemanha, Espanha, França e Reino Unido) e seis emergentes (África do Sul, Brasil, China, Índia, Polônia e Rússia). O Brasil aparece em décimo e último lugar.

Três quesitos principais foram tomados em conta na análise: infraestrutura de transporte de carga, abrangências das malhas ferroviária e rodoviária e proporção de rodovias asfaltadas. O levantamento promoveu ainda uma pesquisa qualitativa com 18 executivos da área de logística.

Não estranha topar com Alemanha e França no topo do ranking, com notas 8,1 e 7,5. O sistema brasileiro cravou 1,7, atrás da Índia (2,5) e da China (3,6).

Não é que China ou Índia tenham redes de estradas de ferro e asfalto tão melhores que as brasileiras, aponta o estudo. Mas essas nações estão investindo pesada e coerentemente em infraestrutura.

O Brasil se contenta com a colcha de retalhos do PAC, que privilegia obras sem prioridade, como o trem-bala e o asfaltamento da rodovia amazônica Manaus-Porto Velho (BR-319). Mesmo após oito anos de retórica petista sobre a reconstrução da capacidade de planejamento do Estado, o país permanece sem um programa integrado e ambicioso para logística.

O pouco que existe tropeça em burocracia, ineficiência e falta de recursos para investimento. Para piorar, o governo federal não deslancha a opção óbvia por parcerias público-privadas.

A malha ferroviária tinha meros 28.607 km em 2007, 172 km a menos que no primeiro ano do governo Lula. Já a rede rodoviária alcançava mais de 211 mil km, a indicar por onde transita a prioridade. Mesmo assim, o país investe 0,1% do PIB em estradas, contra a média de 3,3% dos dez países, e 0,4% em ferrovias (contra 2,2%).

As filas de caminhões diante de portos como Santos e Paranaguá ainda se medem em dias. Os aeroportos continuam à beira do colapso. A produção cresce, mas não os canais para escoá-la -eis a herança de Lula para Dilma na infraestrutura, e não é bem-vinda.
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